Os Injustiçados do Oscar 2014

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A ACADEMIA SEMPRE COMETE ALGUMAS INJUSTIÇAS e maltrata o coração dos cinéfilos com indicações de obras e profissionais que não fizeram tanto por merecer assim, deixando de lado outras produções muito mais interessantes. Para a redação do Cinema de Buteco, a grande ausência do Oscar 2014 foi Rush: No Limite da Emoção, de Ron Howard. Considerado um dos 15 melhores lançamentos da temporada passada, o filme foi completamente ignorado. Em compensação, filmes que dividiram as opiniões da equipe receberam várias indicações, como é o caso de Trapaça, de David O. Russell.

Confira abaixo algumas das injustiças do Oscar 2014:


Antes da Meia-Noite

Academia, meus queridos, por que vocês inventam que podem indicar até 10 longas na categoria principal e me deixam de fora Antes da Meia-Noite? Alguém em sã consciência consegue explicar os motivos que fizeram um dos melhores filmes do ano passado (inclusive na votação de melhores do Cinema de Buteco) ficar de fora do prêmio de Melhor Filme e só ter recebido uma indicaçãozinha para o Oscar de Roteiro Adaptado?

Tullio Dias

“Lean”, The National

Adoro U2. Amei a música da Karen O para Ela, mas na moral… que mundo é esse em que “Lean”, do The National, é deixado de fora da disputa de Melhor Canção Original? Pode isso, produção?

“Lean” está na trilha de Jogos Vorazes: Em Chamas.

Tullio Dias


Jake Gyllenhaal, Os Suspeitos

Ambas as categorias de atuações masculinas estão fortíssimas no Oscar 2014, o que causou, na categoria de melhor ator coadjuvante, várias reclamações dos cinéfilos pelo esquecimento de Daniel Brühl, por Rush, e até o falecido James Gandolfini, por À Procura do Amor. Mas poucos se lembram de uma das melhores performances do ano passado, entregue por Jake Gyllenhaal, em Os Suspeitos. A construção cheia de trejeitos que o galã empregou ao seu detetive é fascinante, e poderia substituir Bradley Cooper (indicado por Trapaça) na lista sem problemas. Mas a Academia prefere manter todas as indicações principais divididas entre os mesmos filmes, o que provavelmente ocasionou este esquecimento.

Leonardo Lopes

os suspeitos jake gyllenhaal


Spring Breakers

É um filme difícil: Korine, roteirista do infame Kids, parece, mais uma vez, olhar para a juventude com tintas pesadas, superficiais; cria, com isso, certa discussão moral que parece ser confirmada formalmente pelas cores fortes, em clima onírico. Mas, com isso, eis a questão: sonho ou pesadelo, não sei se o julgamento está na cabeça do próprio espectador, e não no filme, ou se, como me parece, é o diretor quem insiste em isentar suas personagens pela vitimização – como se fossem apenas crianças fazendo alguma malcriação inocente, sem maiores consequências -, a partir da associação dos tons de rosa à infância (feminina) e à violência, simultaneamente. Esse argumento parece ser reforçado ainda pela escolha das atrizes: ícones pop(!), Selena Gomez (de nome maniqueísta e óbvio – “Faith”) e Vanessa Hudgens são produtos dessa inocência juvenil mercantilizada pelo moralismo e pela sanitização religiosa. Ainda assim, o filme conta com uma montagem de cair o queixo, que, seja pela repetição dos diálogos, seja pela dissonância entre trilha e imagem – como a canção romântica de Britney Spears (a trilha pop, aliás, é, aqui, significativa) que ilustra uma passagem de extrema violência -, cria desconforto e ambiguidade: não se pode, com isso, acusar o diretor de imparcialidade ou isenção.

A mixagem de som é outro trunfo: os raccords sonoros, muitas vezes remetendo a sons de armas e fundindo-os às ações das personagens, reforçam o incômodo e aumentam gradativamente a tensão. O ritmo cai a partir do segundo ato, mas nem isso parece ser capaz de impedir que as personagens, furacões adolescentes em plena castração sexual, erotizadas por uma sociedade que ainda não compreendeu a sexualidade, ajam freudianamente (erótica e “tanaticamente”) a seus destinos. Isso é o filme.

Raphael Katyara

Joaquin Phoenix, Ela

A categoria de ator principal é uma das mais fortes no Oscar 2014. As ausências de Robert Redford (Até o Fim) e Tom Hanks (Capitão Phillips) deixaram os cinéfilos #chateados, mas o grande rejeitado foi Joaquin Phoenix (Ela). Eu tiraria o Leonardo DiCaprio (O Lobo de Wall Street) ou até Bruce Dern (Nebraska) facilmente para dar o devido reconhecimento ao trabalho de Phoenix. Mas não tem problema, aqui no Cinema de Buteco é Phoenix na cabeça.

Tullio Dias

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Trapaça

É um exagero dizer que Trapaça seja uma obra ruim. É medíocre, no mínimo. O lobby em cima de David O.Russell realmente foi desnecessário, visto que o filme não consegue cativar ou prender a atenção do espectador, como havia acontecido em O Lado Bom da Vida. Dos nove indicados ao prêmio de Melhor Filme, Trapaça é o mais fraco e injustamente conseguiu ser o recordista de indicações nessa cerimônia. Vai entender…

Tullio Dias

Inside Llewyn Davis

Os irmãos Coen quase sempre são lembrados pela Academia, e seu novo projeto foi uma das raras exceções à esta regra. Inside Llewyn Davis é um excelente retrato de seu melancólico protagonista e do cenário folk norte-americano sessentista, e desde as primeiras previsões do Oscar 2014, esteve entre os prováveis indicados a melhor filme, além de ter vencido o prêmio do Júri no último Festival de Cannes. Com exceção de duas categorias técnicas, a nova produção dos diretores de Onde os Fracos Não Têm Vez foi completa e injustamente ignorada, e mesmo que a Academia não quisesse substituir nenhum dos indicados a melhor filme por este – mesmo sendo superior a ao menos três dos indicados -, A Balada de Um Homem Comum (seu subtítulo nacional) poderia ter ocupado sua décima vaga.

Leonardo Lopes

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Rush: No Limite da Emoção

Dizem que os gostos do Oscar são de fácil entendimento – e incluem biografias de grande porte, filmes de época, de fácil compreensão e mensagens positivas. Bem, dessa maneira, nada explica que o melhor filme de 2013 a se enquadrar em todas essas categorias não recebeu indicações ao prêmio da Academia. O espetacular Rush foi vítima, talvez, da má vontade construída a longo prazo perante a figura de Ron Howard. Dessa maneira, um trabalho vivo de Hans Zimmer na trilha, a atuação impecável de Daniel Bruhl e talvez o melhor trabalho de montagem do ano passado ficaram esquecidas em alguma curva por aí. Nessa, a Academia derrapou.

Ana Clara Matta, do Ovo de Fantasma