Gosto da ideia de descobrir artistas através de experiências musicais ao vivo. Em cima do palco não existe espaço para ilusão. A gente identifica fácil quem é de verdade.
No entanto, deixar para “descobrir” um artista em um show é um pouco difícil atualmente. Ninguém tá muito disposto a se aventurar gastando com o que não conhece.
O Spotify mudou a forma de consumir música. Enquanto passei boa parte da vida ouvindo discos (comprados ou baixados) do começo ao fim, hoje isso é incomum. As pessoas querem ouvir apenas “a” música. As outras canções só existem se virarem a atração do momento.
Apesar de conhecer Liniker desde 2016, por causa de “Zero”, e de um especial no canal NPR Music em 2018, eu nunca dediquei atenção. Especialmente porque não tive oportunidade de ver o show nos festivais que fui e nem consegui ver ao vivo em BH.
Isso mudou em 2025. Quase dez anos após “nosso” primeiro contato. Com o sucesso de CAJU, álbum de 2024 que supostamente contradiz a ideia que ninguém escuta discos do começo ao fim, Liniker virou uma espécie de Los Hermanos da década de 2020.
A diferença é que ao contrário dos cariocas, Liniker tem uma banda extremamente técnica. Mas a devoção dos fãs berrando todas as letras (especialmente as músicas do último trabalho, claro) é praticamente a mesma. Ou seja, se você não faz parte do culto e conhece as letras, vai precisar descobrir junto do coral nem sempre afinado que veio de bônus no ingresso.
A baixista Ana Karina Sebastião com seu baixo roxo foi o meu momento favorito da segunda noite de Liniker em BH. Como admirador de Gail Ann Dorsey, baixista de David Bowie, fiquei muito feliz e entretido com a Ana. Além da atração principal, não tinha ninguém curtindo tanto aquela noite. Talvez sentindo seja uma palavra melhor. Baixistas não são como os outros músicos. Eles vivem a arte e transpiram sentimento. Com seu sorriso e passos musicais, Ana deu o tom da apresentação.
Liniker ao vivo é uma bela experiência para quem gosta de música, mas não dispensa uma boa festa. Combinando o que realmente importa com o que é necessário para cativar pessoas viciadas em celular, podemos dizer que ela não fez apenas o disco do ano, mas também um dos shows mais quentes dos últimos tempos.