A rivalidade entre Marvel e DC é uma das mais conhecidas em todo o mercado de entretenimento. Nas últimas décadas, o espírito competitivo entre as duas grandes empresas acabou ultrapassando as páginas das histórias em quadrinhos que tornaram ambas tão famosas entre os fãs de cultura pop. Uma vez que as HQs serviam também como uma excelente base para roteiros cinematográficos, a transição para os cinemas poderia ser vista até como um progresso natural para ambas as companhias.
Foi a Marvel quem conseguiu encontrar a melhor “receita” para suas adaptações cinematográficas de HQs, construindo um universo muito bem amarrado entre as várias tramas contadas através de películas individuais de super-heróis, e a reunião dos mesmos através principalmente dos filmes dos Vingadores. A DC tentou (e quiçá ainda tenta) fazer o mesmo, culminando com o filme da Liga da Justiça, que chegou aos cinemas pela primeira vez em 2017.
Enquanto o filme foi um sucesso de bilheteria, com arrecadação de quase 660 milhões de dólares em todo o mundo, os críticos da Sétima Arte não foram muito fãs do que foi mostrado. A situação piorou quando foi revelado que o corte lançado nos cinemas não era a visão original do primeiro diretor do filme, Zack Snyder.
Por sorte, a Warner Bros manteve o arquivo do filme de Snyder em seus arquivos, permitindo assim que o diretor pudesse terminar sua obra. E em 2021 o famigerado “Snyder Cut” é lançado, para deleite dos fãs da DC e do próprio diretor, que se sentiram vindicados pela qualidade da obra em seu formato original.
Hoje Snyder se encontra na “crista da onda”, aproveitando o apoio de uma base leal de fãs angariados desde seus primeiros filmes, como Madrugada dos Mortos e 300. Snyder em breve voltará a retratar mortos-vivos nas telas por meio de Army of the Dead: Invasão em Las Vegas, película a ser lançada em 2021 e que contará com muito mais holofotes do que de costume graças ao “renascimento” do diretor na esfera pública.
Um filme de roubo, mas com zumbis no meio
Army of the Dead é um filme com roteiro escrito pelo próprio Snyder, em conjunto com Shay Hatten, que roteirizou o terceiro filme da franquia John Wick. O projeto original encontrava-se no “inferno do desenvolvimento” desde 2007, quando foi finalmente adquirido pela Netflix. Do filme original, se desmembraram duas peças: um filme prequel, com o nome Army of Thieves, e um anime em série com o nome Army of the Dead: Lost Vegas.
O que se sabe até aqui do filme é que ele conta a história de mercenários que planejam executar uma megaoperação de roubo em Las Vegas, ao mesmo tempo que ocorre um surto de zumbis na cidade. O grupo é liderado por Scott Ward, interpretado por Dave Bautista – mais conhecido por ter incorporado o herói Drax, de Guardiões da Galáxia. Ao seu lado encontra-se uma grande variedade de especialistas para ajudá-lo na jogada, desde a mecânica Maria Cruz (Ana de la Reguera) até o arrombador profissional de cofres Dieter (Matthias Schweighöfer).
Geralmente, as produções das Netflix ganham lançamento apenas na plataforma de streaming digital. Entretanto, Army of the Dead será uma exceção, com um lançamento ainda que limitado nas salas de cinema em maio de 2021. No dia 21 de maio deste ano, a produção chegará à Netflix em toda a sua glória.
Fonte de inspiração (e de terror)
É comum ver diretores de cinema que evitam fazer filmes com a mesma temática ou ambientação, muita vezes para evitar que comparações sejam feitas entre as tramas. Afinal, um produto anterior pode não ter saído da melhor forma possível por uma confluência de fatores fora do controle do diretor, e uma obra que siga a mesma linha pode ser vista como uma forma de “compensação” perante estes problemas. Mas Snyder claramente não tem quaisquer entraves quanto a isso, como já mostrado em sua disposição em dirigir diversos filmes de super-herói, incluindo Watchmen e O Homem de Aço.
No caso dos zumbis, não é necessariamente surpreendente que Snyder estivesse disposto a dirigir uma nova trama sobre mortos-vivos 17 anos após estrear como diretor de cinema com Madrugada dos Mortos. Afinal, o diretor deve ao filme não só sucesso financeiro, mas também de carreira, uma vez que a película foi muito bem-sucedida em arrecadação de bilheterias e em resposta da crítica especializada.
Para além disso, zumbis são uma ótima fonte de inspiração para algumas das grandes obras culturais dos nossos tempos. O livro Guerra Mundial Z, de Max Brooks, gerou uma adaptação cinematográfica em 2013 de grande sucesso nas bilheterias. Em Lost Vegas, um dos vários jogos de caça-níqueis online da Betway, a ambientação visual e sonora do jogo conecta os cassinos de Las Vegas com os mortos-vivos de maneira bem parecida com a do novo filme de Zack Snyder. Zumbis aparecem também em clássicos do cinema como A Noite dos Mortos-Vivos, filme de 1968 que foi um dos pioneiros do gênero, além de inspiração direta para que Snyder dirigisse Madrugada dos Mortos. E nos videogames é impossível não mencionar a série Resident Evil, cuja terceira edição, disponível na Amazon, ganhou uma renovação completa em 2020 com gráficos inovadores e o mesmo clima de terror de sempre.
A redenção de Snyder continua
Army of the Dead tem muitos elementos para ser no mínimo um filme divertido de se assistir, entrando na “onda” de filmes de grandes roubos na linha de Em Ritmo de Fuga e Truque de Mestre. Especialmente se Snyder estiver trazendo na trama sua especialidade, que é a boa condução de sequências de ação.
Mas é preciso também denotar o fato de Snyder se encontrar em um raro arco de redenção dentro da indústria do entretenimento. Após ter que abandonar a direção da Liga da Justiça no meio do caminho por motivos de força maior, a expectativa era de que o diretor talvez escolhesse se aposentar das telas. No entanto, ele persistiu, contribuindo com a “luta” pelo lançamento da sua versão do filme da Liga e trabalhando em Army of the Dead logo após a sua recuperação.
É comum que pessoas como Snyder voltem de um período de hiato meio que enferrujadas, o que pode fazer de Army of the Dead um filme não tão perfeito. Mas, ao mesmo, o timing de lançamento do seu novo filme é perfeito considerando as circunstâncias trazidas pelo lançamento do “Snyder Cut”, que trouxe para o diretor os holofotes de boa parte da indústria cinematográfica.
Consequentemente, os próximos passos dados por Snyder serão seguidos de perto, atraindo muito mais atenção do que conseguiriam se não fosse pelo extremo sucesso da sua Liga da Justiça. É algo que pode trazer grandes ganhos para o diretor e para a Netflix com Army of the Dead, o que ajuda a explicar o investimento da companhia em peças midiáticas muito além do filme original.