Não costumo ter a neura de assistir centenas de filmes por ano ou ver todos os indicados ao Oscar. Sendo assim, estou orgulhosa da minha média. Vi 60% dos longas indicados (incluindo categorias técnicas) e das oito categorias principais vi todos menos Vício Inerente e Caminhos da Floresta (não sou obrigada né, dona Meryl?). Acho justo desabafar isso para vocês.
É também justo avisar que: sim, considero o Oscar uma cerimônia fútil, na qual vestidos, politicagem e amizades contam mais do que a qualidade dos filmes. Dito isso: sou meio fútil mesmo e assisto todas as cerimônias, desde pequenininha.
Por fim, nos palpites abaixo, apesar de mencionar quem acredito que vá ganhar, listo principalmente quem eu gostaria que ganhasse. Para ver os meus palpites e da galera do site, acesse o bolão do Oscar. Me esforcei para ganhar do Lucas Paio nesse ano, torçam por mim aí.
Diferente dos meus colegas, gosto bastante de muitos dos indicados destes anos. Então, vamos lá:
Melhor Filme
Deveria e vai ganhar: Boyhood. Não é apenas por ser filmado em 12 anos (mas eu duvido que vocês que reclamem disso consigam cultivar uma peça de roupa por 12 anos). É por ser ousado ao tentar captar o que há de mais caro para o cinema: a vida. Por ser sensível o suficiente para não entediar o público com as mudanças naturais da juventude. Por ser cinema em cada poro. Acredito que a Academia vai dar o prêmio pela linda inovação.
Birdman igualmente merece por ser também puro cinema, tecnicamente sensacional, ousado, crítico e muito atual. E tem grandes chances com a Academia (seria lindo ver com um Oscar um filme chacota de Hollywood, não?).
Whiplash e Selma são dois grandes filmes, que agradariam meu coração. O Grande Hotel Budapeste não tem chance, mas é um bom indicado. O Jogo da Imitação e A Teoria de Tudo mereciam indicação ao Emmy, pelo caráter televiso. Não é para Oscar amigos.
Não deveria estar aqui: Sniper Americano. Pelo conteúdo político irresponsável, cujas razões estão aqui.
Deveria estar aqui: Garota Exemplar
Melhor Diretor
Deveria e vai ganhar: Iñarritu. A direção de Birdman é realmente outro nível. Ousada no tema, nos planos sequências, na utilização de espaços, na experimentação de seus atores, na trilha. Em tudo!
Richard Linklater, em Boyhood, demonstra a principal característica que um diretor precisa: a de saber orquestrar diversos elementos, na mesma direção. Conseguir fazer isso com um projeto tão ambicioso, é admirável.
Não deveria estar aqui (ou, só está aqui pelo Weinstein): Mortem Tyldum. A emoção do filme é mérito do Alan Turing e apenas dele. A direção é quadrada, previsível e televisiva. Bennet Miller de novo também não precisava, né?
Deveriam estar aqui: David Fincher e Damien Chazelle. Fiquem de olho nesse garoto que sabe ser perfeccionista.
Melhor Atriz
Deveria ganhar: Marion Cottilard. Atuação dela em Dois Dias, Uma Noite é comovente pela fraqueza ao lidar com sua delicada situação. Rosamund Pike (que é ótima até fazendo ponta em filme ruim) seria uma boa surpresa também.
Vai ganhar: Julianne Moore, e não é desmerecido. É uma ótima atuação em Para Sempre Alice (em um filme medíocre) e tem todo o histórico que está puxando a estatueta para ela.
Todas mereciam estar aqui. E gostaria de ressaltar que das cinco, quatro estão em filmes que não estão na categoria principal. Porque os oito filmes nesta se passam em universo predominantemente masculino.
Melhor Ator
Deveria ganhar: Michael Keaton. É um papel corajoso, complexo, profundamente humano, e Keaton soube passar isso, sendo, ironicamente, um péssimo ator quando necessário.
Vai ganhar: Eddie Redmayne. É uma boa atuação, é o Stephen Hawking, teve dedicação ao papel. Mas tenho um pé atrás com prêmio para quem passa por transformações físicas. É bem difícil julgar até onde vai trabalho da produção do trabalho do ator.
Steve Carell me encantou assim que vi Foxcatcher, há nove meses. Mas definitivamente, faltou Jake Gyllenhaal nessa lista. A performance dele em O Abutre é de uma brutalidade impressionante. David Oyelowo, por Selma, também fez falta.
Melhor Atriz Coadjuvante
Vai ganhar: Patricia Arquette é sem dúvida a favorita e eu duvido que você apostaria num Oscar para um Arquette até ano passado. Não é uma atuação ruim, mas está longe de ser a melhor do ano.
O problema é que nenhuma nessa categoria está (não vi o da Meryl). Emma Stone e Keira Knightley são sempre bastante superestimadas e Laura Dern é incrível, mas podemos admitir que sorrir sem parar por 15 minutos de Livre não torna o suficiente?
Deveria estar aqui (e para ganhar): Julianne Moore por Mapa para as Estrelas.
Melhor Ator Coadjuvante
Vai e deveria ganhar: J. K. Simmons é o carrasco o ano. Pela sua capacidade de transmitir a crueldade e doce sensibilidade ao mesmo papel.
Edward Norton e Robert Duvall também estão brilhantes, como sempre.
Roteiro Original
Deveria ganhar: Boyhood. A improvisação é parte natural deste processo, mas há claramente um planejamento minucioso que estrutura (bem) o filme.
Vai ganhar: O Grande Hotel Budapeste. Não morro de amores, mas é também muito bem estruturado, criativo, divertido e surpreendente. E a Academia está em dívida com Wes Anderson e nesse ano ela paga. (Mas porque um roteiro “baseado nos escritos” de alguém está na categoria roteiro original, eu não sei.).
Roteiro Adaptado
Deveria ganhar (e tem chance): Damien Chazelle, por Whiplash. O maior mérito do longa é mesmo a direção, mas a base de um roteiro que sabe manter a atenção e o “crescendo” foi essencial.
Vai ganhar: O Jogo da Imitação. E novamente, provavelmente apenas pelo Weinstein. É uma estrutura previsível, que poderia destacar a sua belíssima história muito melhor várias vezes, e não o faz.
Deveria estar aqui: Nich Hornby, por Livre.
Animação, Documentário e Filme Estrangeiro
Como Treinar o seu dragão 2 deveria e vai ganhar. Pela trama delicada e complexa que conseguiu desenvolver seus personagens de uma maneira brilhante.
O Sal da Terra é um dos meus documentários favoritos de todos os tempos. Só Wenders mesmo para conseguir imortalizar a sensibilidade de Salgada na tela de maneira apropriada, e sem perder seu toque autoral. Mas acho que CitizenFour (que não vi) leva.
O argentino Relatos Selvagens ganhou meu coração na última categoria. Divertido e crítico, uma rara antologia que não perde coerência. Leviatã possui os mesmos atributos (divertido e crítico) e conta com uma direção excelente. Ambos seriam prêmios merecidos.