Histórias sobre a realeza não são novidade, mas Elizabeth II ganhou uma série ainda em vida, o que é um pouco mais raro. E não é qualquer série, mas o resultado do maior investimento da Netflix, além de ter planos para seis temporadas contando a história do maior reinado da Inglaterra.
A série começa com a cerimônia que deu a Philip, futuro esposo de Elizabeth, o título de Duque de Edimburgo. Na ocasião, a ideia de que restavam poucos anos de vida para o então rei, George, não passava pela cabeça de ninguém.
Desde o casamento, Elizabeth percebeu que precisava encontrar um meio-termo entre os papéis de esposa e de herdeira do trono britânico. Ao longo da temporada, testemunhamos momentos decisivos em que essa habilidade é necessária. Ao se casar na década de 1940, ela teve que arcar com um marido que tinha uma dificuldade terrível em “se contentar” em viver à sombra da esposa e, ao mesmo tempo, mostrar a todos que ela tinha pulso firme o suficiente para não se curvar aos caprichos do marido e de familiares.
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Enquanto consideramos algo normal ver uma mulher abdicar de seus gostos pessoais para apoiar o maior papel da vida do seu marido, ao ver Philip sendo obrigado a deixar seus gostos pessoais e sua carreira para trás, colocamos em dúvida a conduta da rainha. Isso mostra que a série não poderia ter sido criada em época melhor do que atual, onde o feminismo é discutido todos os dias e gera inúmeras discussões.
Além de precisar domar Philip, Elizabeth teve a árdua tarefa de se posicionar diante do então Primeiro Ministro Winston Churchill e dos diversos membros que compunham a corte, se mostrando uma mulher moderna, mas ao mesmo tempo, com certo apego e muito respeito às tradições.
Os dramas vividos por outros membros da família real também são retratados na série e mostra a necessidade de Elizabeth tomar as rédeas para definir o destino de pessoas que nem estavam na linha de sucessão do trono. A posição política e religiosa é essencial no momento de traçar o futuro de pessoas ligadas à rainha.
É preciso reconhecer o bom gosto da produção. O figurino e a reconstituição da época nos mostram o cuidado dado à The Crown. E o elenco também não faz feio, Claire Foy, a Ana Bolena da minissérie Wolf Hall, dá vida a Elizabeth II e consegue balancear os sentimentos da personagem, mas não carrega a produção nas costas. Matt Smith, de Doctor Who, expressa bem a frustração e a insegurança de Philip, enquanto John Lithgow, de Dexter, rouba a atenção na pele de Winston Churchill.