Review: Desventuras em Série s01e01-02 – “The Bad Beginning”

CONHECI DESVENTURAS EM SÉRIE NOS ANOS 2000 POR CAUSA DO FILME ESTRELADO POR JIM CARREY. Me apaixonei pela história e o fracasso nas bilheterias gerou uma das minhas frustrações com o cinema. Sem dinheiro, não tem papo para continuação; sem continuação, fico sem ter a chance de me divertir na telona com uma trama inteligente que mistura fantasia, aventura e humor. Pelo menos fiquei com essa sensação até o anúncio da série produzida pela Netflix.

Lançada na sexta-feira 13 de janeiro e contando com apenas 8 episódios (com cada par de episódios sendo dedicado para um dos quatro primeiros livros da série), Desventuras em Série apresenta a infeliz história das três crianças Baudelaire, que após perderem os pais num trágico incêndio, vão morar com um parente distante chamado Conde Olaf, um cara que não está com boas intenções.

A série pede uma apreciação mais lenta. Cada arco de história tem começo, meio e fim em apenas dois episódios, o que é uma grande novidade se tratando de adaptações literárias. O texto de hoje será dedicado apenas para “The Bad Beginning”, ou episódios 1 e 2.

Neil Patrick Harris vs Jim Carrey

Uma das maiores dificuldades que tive nesse primeiro episódio foi dissociar a imagem do Conde Olaf do ator Jim Carrey. O tempo inteiro que olhava para o personagem, me lembrava da interpretação de Carrey. Não é que Patrick Harris esteja ruim, pelo contrário, mas o Olaf do longa-metragem é especial. Ainda que seja mais caricatural e engraçado (enquanto a nova versão é mais sombria e agressiva), tenho um carinho pela lembrança afetiva. Sem falar que a maquiagem só me faz enxergar Carrey em cena.

Malina Weissman e Louis Hynes substituem Emily Browning e Liam Aiken na pele de Violet e Klaus. A dupla de jovens atores surpreende e consegue ofuscar Neil Patrick Harris como destaque no elenco. São atuações convincentes de crianças tímidas e introspectivas, mas que sabem bem o que querem e lutam por isso. Patrick Warburton dá outro show como o narrador responsável por constantes quebras na quarta parede ao se comunicar diretamente com o telespectador. Ele é o responsável por tiradas irônicas e por nos alertar o tempo inteiro que essa não é uma história feliz.

“The Bad Beginning” é um volume de introdução para contextualizar o público, apresentar a história e os seus personagens, mas consegue ir além de cumprir a sua missão. Assim como o fodástico episódio piloto da série Fargo em 2014, quem assistir apenas ao primeiro par de episódios terá uma experiência completa. Óbvio que quem se apaixonar não vai parar por aí e seguirá acompanhando as infelizes histórias de azar dos irmãos Baudelaire.

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Após descobrirem a morte dos pais, os pequenos irmãos Baudelaire são levados para viver com o maquiavélico Conde Olaf. No caminho conhecem a juíza Strauss (Joan Cusack, sempre divertia e competente) e toda a trupe teatral do Conde. O que começou como uma péssima primeira impressão logo se desdobra para uma realidade ainda pior. Decidido a roubar a herança dos irmãos, o Conde planeja um casamento forçado com a jovem Violet. Os irmãos logo bolam um plano para tentar evitar o pior.

Aprecio mudanças sutis na fotografia com funções narrativas importantes. Além das intervenções de Warburton se comunicando diretamente conosco, a série acerta com as escolhas de cores. Por exemplo, nos minutos iniciais temos o trio passeando por uma cidade colorida, mas quando descem para a praia cinzenta recebem a má notícia da morte dos pais; ou a casa colorida e cheia de vida da juíza fazendo um paralelo com a sombria (e decadente) mansão do Conde. Esses detalhes passam batido muitas vezes, mas possuem uma riqueza enorme para a maior compreensão da história.

Independente de não ser um produto tão impactante quanto Stranger Things, Desventuras em Série atinge em cheio os fãs da obra original. Resta saber como será a reação do público comum da Netflix diante dessa nova adaptação. Vamos torcer pelo melhor, certo?