Nosso editor Tullio Dias revela quais são os seus pais do cinema favoritos. Quais são os que você gosta mais?
NO PRÓXIMO DOMINGO É O DIA DOS PAIS e decidi inaugurar uma nova coluna no Cinema de Buteco com meu Top5 especial com os cinco pais cinematográficos que mais me marcaram. São aqueles cinco que provavelmente terão alguma influência quando a ideia de ser pai deixar de ser um rascunho. Na verdade, também são exemplos de pequenas formas de passar e superar as mais variadas dificuldades e isso nos faz pensar em como resolveríamos questões se fosse a nossa responsabilidade. Ser pai não deve ser algo muito simples de se fazer, já que é uma pequena vida que dependerá de você para todo o sempre. A mãe pode sumir da sua vida, mas o moleque não. Ele estará sempre lá.
Para quem quiser mais dicas de longas para se assistir no dia dos pais, leia nosso especial publicado no ano passado.
Edward Bloom, em Peixe Grande
Por que é o melhor pai do cinema?
O meu pai favorito do cinema é vivido por Ewan McGregor/Albert Finney em Peixe Grande, de Tim Burton. Durante toda a narrativa acompanhamos parte do passado mágico e apaixonante de Edward Bloom, um exímio contador de histórias. O problema é que seu filho (Billy Crudup) está cansado de ouvir sempre a mesma coisa e acredita que seu pai é um grande mentiroso. A relação dos dois só é retomada depois que Bloom ficar à beira da morte. Nesse ponto, seu filho começa a perceber que as histórias do pai eram apenas a sua maneira de tornar as coisas melhores do que realmente foram e também para aproveitar e corrigir seus erros como pai no passado. Tim Burton é brilhante no desenvolvimento dessa relação até chegarmos na conclusão em que o filho realmente entende o pai. É uma das coisas mais lindas.
O Pai do Jim, em American Pie
Por que é o melhor pai do cinema?
Noah Levenstein interpreta o melhor personagem da franquia American Pie. Nos quatro filmes, é justamente o “pai do Jim” quem rouba a cena, especialmente no último. O que torna ele especial é justamente a sua simplicidade e falta de jeito para criar um filho adolescente. Sabemos que existem diversos assuntos embaraçosos que os pais em geral preferem não comentar, mas em American Pie foi diferente. Os produtores aproveitaram uma sacada genial e escreveram piadas hilárias envolvendo a descoberta sexual e aquela famosa conversa sobre o “despertar sexual”. E a gente percebe que tudo que ele faz é na melhor das intenções para ajudar. Sorte do público e azar do Jim.
(Aposto que o pai do Jim está no Tinder.)
Jesse, em Antes da Meia Noite
Por que é o melhor pai do cinema?
Jesse (Ethan Hawke) já tinha um filho no filme anterior, mas acaba terminando o seu casamento para ficar com Celine (Julie Delpy). Nove anos depois, em Antes da Meia-Noite, descobrimos que o casal é pai de gêmeas hiperativas e que a relação de Jesse com seu filho mais velho não é muito boa, digamos assim. Se a gente for basear apenas nisso, Jesse não é lá um grande exemplo paterno produzido no cinema, mas nós conhecemos esse cara há mais de 20 anos. Nós sabemos que ele seria um pai perfeito. O tipo de pai que qualquer um de nós ficaria feliz em ter. O relacionamento apaixonado dele com Celine mostra o quanto esse cara inteligente, sensível e carinhoso ama seus filhos e lamenta que a distância tenha criado barreiras entre ele e seu filho mais velho.
Dad e Tim, em Questão de Tempo
Por que é o melhor pai do cinema?
Questão de Tempo não apenas tem um dos melhores pais do cinema, como também poderia entrar facilmente em qualquer ranking de melhores filmes sobre viagem no tempo. Richard Curtis fez um dos melhores filmes de 2013 (que infelizmente foi lançado em dezembro e acabou ficando de fora das nossas listas naquele ano), daqueles que nos faz rir e chorar ao mesmo tempo. Bill Nighy interpreta o pai de Tim (Domhnall Gleeson) e no aniversário de 21 anos do filho, revela um segredo familiar: a habilidade de viajar no tempo.
Os dois personagens ganharam meu coração por conta do amor incondicional que um tem pelo outro e pela família. Além disso, é impossível não se apaixonar por qualquer coisa que tenha o Bill Nighy no elenco. Assim como Peixe Grande, é muito sobre o filho se “tornando” o pai. Lembro bem do quanto foi uma experiência marcante assistir a esse filme ao lado da minha namorada na época com os dois chorando e rindo como crianças.
Uma Babá Quase Perfeita
Por que é o melhor pai do cinema?
Em Uma Babá Quase Perfeita, o saudoso Robbin Williams rouba a cena num papel duplo: o pai divorciado e irresponsável Daniel Hillard e a babá competente e espirituosa Mrs. Doubtfire. Como não amar uma pessoa que faz faxina dançando enquanto escuta “Dude (Looks Like a Lady)”? Mas mais importante que o seu bom gosto musical, o que torna Daniel um dos melhores pais do cinema é o seu caráter e amor com os filhos para encontrar uma maneira de ficar por perto mesmo contra a vontade da mãe, que o considera muito imaturo e irresponsável.
Menções honrosas:
Gosto muito dos ensinamentos de Nicolas Cage em Kick-Ass. Ainda que seja um sujeito incrivelmente sádico e sem noção, ele ensina à filha coisas que nenhum outro pai conseguiria; é chover no molhado relembrar o trabalho de Will Smith em À Procura da Felicidade, que inclusive é baseado numa história real; Darth Vader seria outro exemplo de relação complicada entre pai e filho; Sean Connery assume a figura paterna com destaque em Indiana Jones e deixa Harrison Ford chupando o dedo; acredito que aprendemos muito nas adversidades e quando conseguimos superar traumas, como acontece em Tudo Acontece em Elizabethtown e Garden State; Cameron Crowe dá um show de sensibilidade ao apresentar a história de um pai que leva os filhos para morar num zoológico em Compramos Um Zoológico; Tom Cruise faz qualquer coisa para garantir a segurança dos filhos em Guerra dos Mundos; Will Smith até tenta empurrar o seu filho para ser um astro de Hollywood em Depois da Terra, que é baseado especialmente na relação de pai e filho; Steven Spielberg criou muitos pais marcantes no cinema, como em Contatos Imediatos de Terceiro Grau e Tubarão; O Nevoeiro apresenta uma história um pouco fria e aterrorizante sobre um pai desesperado com a possibilidade de ter o seu filho morto por estranhas criaturas; Um dos melhores atores da atualidade, J.K. Simmons vive o pai de uma adolescente grávida em Juno; Dennis Hopper protagoniza um dos melhores diálogos já escritos por Quentin Tarantino (esqueça a cena em que Hans Landa descobre os judeus escondidos em Bastardos Inglórios) em uma das cenas emblemáticas de Amor à Queima Roupa. Na ocasião, o personagem de Hopper está prestes a ser assassinado justamente por não denunciar o paradeiro de seu filho; mais recentemente tivemos o lançamento de Nebraska, em que um filho aprende mais sobre o pai enquanto o acompanha numa jornada em busca de um prêmio; Boyhood é outro exemplo interessante de relação pai-filho no cinema, inclusive retratando perfeitamente o período de crescimento de um adolescente para a fase adulta e como ele enxerga sua família; George Clooney teve o seu momento de aprender a ser pai em Os Descendentes; e por último, mas não menos importante, em Estrada Para Perdição, de Sam Mendes, o Tom Hanks interpreta um dos melhores personagens de sua carreira. O ponto alto é acompanhar a sua relação paternal com Paul Newman se desmoronando justamente porque Hanks está em busca do filho biológico de Newman (vivido por Daniel Craig) para se vingar pelo assassinato de sua família. O único que sobrevive é o seu filho mais velho, que durante muito tempo foi rejeitado porque o fazia lembrar demais de si mesmo. Se essa lista fosse um ranking, Estrada para Perdição seria um dos primeiros colocados. Filme sensacional.