PELA PRIMEIRA VEZ, desde 2011, quando começamos a publicar nossas listas anuais, vamos separar um espaço para falar dos melhores lançamentos de suspense da temporada. Em 2013, não tivemos tantos destaques no gênero, mas o suficiente para criar uma boa lista com a participação do nosso novo colaborador Leonardo Lopes, do Eduardo Monteiro e a ajuda providencial do amigo Márcio Sallem, crítico do Em Cartaz. Confira:
10 – Sem Proteção
Tentar impor sua filosofia política em uma obra cinematográfica nem sempre produz bons resultados, e o experiente diretor Robert Redford viu, em ocasiões recentes, trabalhos promissores fracassarem por causa da urgente necessidade de transmitir, independente das exigências narrativas, seu ponto de vista democrático liberal. Fora assim com Leões e Cordeiros, quando desperdiçou o confiável Tom Cruise e Meryl Streep, que dispensa elogios, e com Conspiração Americana, filmes contaminados pelo maniqueísmo político do diretor. Neste Sem Proteção – qual a relação entre o título traduzido e o filme? -, o panorama é diferente, e apesar de ainda existirem problemas no discurso político confuso, esses são escassos e facilmente contornados por um thriller classudo e eficiente, que tem à sua disposição um invejável elenco.
Baseada no livro de Neil Gordon, a história escrita por Lem Dobbs (colaborador eventual de Steven Soderbergh) apresenta a facção radical de esquerda Weather Undergorund, que praticava atos de terrorismo com o objetivo de protestar contra a guerra do Vietnã e exigir o retorno imediato dos soldados norte-americanos. Em um desses atentados, ocorreu a morte acidental do guarda de um banco, crime pelo qual os autores permaneceram foragidos por três décadas, até Sharon Solarz (Susan Sarandon) decidir entregar-se à justiça e, como consequência, desencadear um efeito dominó que põe a polícia, chefiada pelo obstinado Cornelius (Terence Howard), e a imprensa, na figura do abelhudo Ben (Shia LaBeouf), no rastro de um dos acusados: Jim Grant (Robert Redford), pai viúvo da adorável Isabel (Jackie Evancho), advogado e exemplo na comunidade e também a identidade falsa do ex-rebelde Nick Sloan. (Clique aqui para ler a crítica completa no site Em Cartaz)
Márcio Sallem, do Em Cartaz
9 – Um Estranho no Lago
Um Estranho no Lago é um suspense inusitado. Ambientado inteiramente nas redondezas de um lago estabelecido como ponto para encontros sexuais entre rapazes, o longa do cineasta francês Alain Guiraudie cria gradativamente uma atmosfera inquietante depois que um dos frequentadores é tido como desaparecido não só através dos diálogos sugestivos, mas também da decisão claustrofóbica de permanecer naquele mesmo cenário durante toda a narrativa. Não há trilha, não há firulas e não há glamour ou pudor nas cenas de sexo, eventualmente explícitas; há apenas um protagonista solitário cuja queda rumo à autodestruição causa no espectador uma angústia que sustenta a caracterização que fiz do filme no início deste parágrafo.
Eduardo Monteiro
8 – Tese Sobre um Homicídio
Ricardo Darín (O Segredo dos Seus Olhos) pode ser tido como o grande nome do Cinema argentino nos últimos anos, e protagoniza mais esta produção do país, desta vez no gênero do suspense. Basicamente, temos aqui um jogo de gato e rato entre o professor Roberto (interpretado por ele), que decide investigar por conta própria um homicídio e, sem muitas pistas, ir atrás do que puder para comprovar a culpa de Gonzalo (Alberto Ammann), o suspeito escolhido pelo professor. Ainda que previsível, a trama investigativa certamente satisfará os fãs de um bom suspense, graças à utilização do diretor Hernán Golfrid dos mais variados elementos narrativos para entregar pistas para o espectador e construir o mistério utilizando-os, mas este não é o principal atrativo de Tese Sobre um Homicídio.
Enquanto a maioria dos filmes que dedicam-se a este jogo de gato e rato preocupam-se apenas com a investigação em si, ou no máximo realizam um maior aprofundamento sobre o suspeito – normalmente, um psicopata -, este longa diferencia-se e enquadra-se junto com poucos outros casos ao realizar um estudo de personagem profundo sobre o investigador, o professor Roberto, mostrando o outro lado da moeda de forma interessante e eficaz.
Leonardo Lopes
7 – Dentro da Casa
Não apenas um dos melhores suspenses do ano, como um dos melhores filmes, no geral, deste 2013, Dentro da Casa não aborda os temas da maior parte das produções do gênero, o que de forma alguma significa que não provoque tensão no espectador. O professor Germain (Fabrice Luchini) está acostumado a receber redações medíocres de seus alunos, até que um dia interessa-se pelo texto recebido de Claude (Ernst Umhauer), um estudante que ainda não conhecia. O texto tratava-se de uma tarde que o jovem passou na casa de um amigo e das observações que fez sobre o local e sua família, mas estimulado pelo professor, o garoto acaba voltando lá por diversas vezes apenas para escrever sobre suas experiências, influenciando cada vez mais na convivência daquela família e gerando sérias consequências com isto. Com uma premissa aparentemente monótona e tratando com esta justamente do poder de um bom texto, o diretor François Ozon parece ter conquistado em Dentro da Casa justamente o que tantos autores literários buscam: deixar o leitor – aqui, o espectador – curioso e extremamente interessado pelo desfecho de cada capítulo e pelo que as próximas páginas – próximas cenas, aqui, outra vez – o trarão. A relação entre os dois protagonistas fica em segundo plano para que as crônicas daquela casa e da simples família que a habitava se tornasse uma grande e extremamente instigante estória. Agora nós entendemos o motivo de você ter ficado tão interessado, professor Germain.
Leonardo Lopes
6 – Segredos de Sangue
Segredos de Sangue, título genérico para Stoker, é a primeira experiência de Park Chan-wook no cinema norte-americano. O cineasta coreano é mais conhecido pelo violento (e fodástico) Oldboy, uma produção indispensável para quem aprecia a temática “vingança”. Até Quentin Tarantino teve que pagar a cerveja do cara depois dessa. O seu trabalho mais recente é estrelado por Mia Wasikowska (Os Infratores), Nicole Kidman (Moulin Rouge) e Matthew Goode (Watchmen e Direito de Amar).
O roteiro de Wentworth Miller (o Michael, da série Prison Break) cria uma expectativa em relação ao que seriam os tais “segredos” do título. Em determinado momento, acreditamos que India Stoker (Wasikowska) possui algumas habilidades sobrenaturais e que, especialmente pela falsa dica do título, o seu tio é uma espécie de vampiro ou demônio. No entanto, por uma aparente confusão entre o roteiro e as opções estéticas do diretor, em momento algum temos alguma explicação para o perigoso magnetismo sexual do personagem de Goode, e descobrimos que a única coisa anormal na trama é o lado psicológico completamente distorcido de seus personagens.
Tullio Dias
5 – Killer Joe – Matador de Aluguel
Representante de um gênero merecidamente chamado de southern gothic dark comedy**, Killer Joe é daqueles filmes que já nasceu tenso. Um thriller tex-but-not-mex salpicado de elementos do mais puro redneck e white trash, como diria um amigo norte-americano carregado do mais puro bairrismo sulista. Sinteticamente, é a busca por um ménage freak (que significa relação em francês, a título de esclarecimento para os que pensaram besteira). Traduzindo: lindo!
Chris (Emile Hirsh) é um canalha! Ou melhor, ele é um f*ckin’ bastard! Melhor ainda, ele é um f*ckin’ bastard endividado! O desespero é tanto que, para sanar as suas pendências com alguns criminosos super gente boa, o rapaz pretende utilizar o dinheiro do seguro de vida de sua querida mamãe. Aparentemente, o único empecilho para tão formidável plano é a velha que ainda respira, mas com a ajuda de seu papai Ansel (Thomas Haden Church), sua madrasta Sharla (Gina Gershon) e sua irmã e beneficiária do seguro Dottie (Juno Temple) tudo e todos podem ser driblados. Precisamente nesse ponto, o policial de índole super questionável Joe Cooper (Matthew McConaughey, o bonitão de Como Perder um Homem em 10 Dias e Armações do Amor) se envolve nesse plano, digamos, perverso.
João Gabriel
4 – Terapia de Risco
Vendido como a despedida do diretor Steven Soderbergh (Traffic, Onze Homens e um Segredo) do Cinema, Terapia de Risco chegou ao circuito brasileiro em 17 de maio e sagra-se como um dos melhores suspenses do ano, certamente. A trama, dedicada a narrar a experiência da sociopata Emily Taylor (Rooney Mara, de Millennium – Os Homens Que não Amavam as Mulheres), envolvida num tratamento psicológico com Dr.Jonathan Banks (Jude Law, de Anna Karenina) após ter cometido um assassinato. O longa combina o suspense a partir da imprevisibilidade dos atos de sua protagonista com a crítica à indústria farmacêutica, com as decisões de seu psiquiatra no tratamento.
Recheado de reviravoltas que não subestimam o espectador e intrigam-no até o final da projeção, podemos dizer que, se Soderbergh realmente cumprir sua promessa e encerrar sua carreira nas telonas, foi uma ótima despedida, em que entrega um ótimo desempenho como diretor na criação do clima de suspense e um trabalho quase tão bom quanto em outra de suas funções, a fotografia, onde transmite a frieza que Emily, através de seu cinismo, transparece. De quebra, temos nossa musa, Rooney Mara, que além de embelezar a tela – de diversas formas – ainda realiza uma ótima interpretação.
Leonardo Lopes
3 – Em Transe
Outro trabalho de um diretor renomado encaixa-se na lista, desta vez é Danny Boyle (Transpoitting – Sem Limites), um cineasta que sempre divide opiniões em sua filmografia. Com Em Transe, não foi diferente. O diretor decidiu, com seu novo trabalho, infiltrar-se na mente de Simon (James McAvoy, de X-Men: Primeira Classe), um homem que acaba envolvendo-se com uma gangue responsável por roubos de quadros e vai enterrando-se cada vez mais neste envolvimento, e então decide recorrer à hipnoterapeuta Elizabeth (Rosario Dawson, de Incontrolável) para tentar, de alguma forma, livrar-se do crime. A trama divide-se em ilusões da mente do protagonista e realidade. Mais uma vez, temos um roteiro cheio de reviravoltas, criadas a partir deste recurso.
Não adianta requerir que a produção não tenha furos, que surgem graças à confusão no desenvolvimento destas diversas camadas na mente do protagonista. Ainda assim, a obra recompensa o público por seu ritmo ágil e envolvente, responsável por manter o espectador preso à fita, em que ainda há o mérito de uma bela fotografia e sequências de ação muito bem dirigidas. Para completar, Rosario Dawson protagoniza uma cena que merece estar em outra de nossas listas, a das melhores cenas de nudez do ano. Deixe os erros um pouco de lado e entre na hipnose provocada por Em Transe, um thriller psicológico bastante eficiente.
Leonardo Lopes
2 – The East
Brit Marling vem aparecendo em diversos filmes menores e roubando a cena em todos com uma atuação que combina delicadeza com imponência. No thriller O Sistema, que é uma mistura de Os Infiltrados com A Hora Mais Escura e Os 12 Macacos, a atriz contracena com o lindo do Alexander Skarsgård e da maravilhosa Elle Page. A personagem de Marling se infiltra num grupo criminoso e acaba se afeiçoando aos seus integrantes e ideais.
Tullio Dias
1 – Os Suspeitos
A trama é centrada na investigação, liderada pelo detetive Loki (Jake Gyllenhaal), do desaparecimento de duas garotinhas, Anna, filha do casal Dover, interpretados por Hugh Jackman e Maria Bello, e Joy, filha do casal Birch, interpretados por Viola Davis e Terrence Howard.
Embora tenha uma grande história a contar, o mérito do filme está na atmosfera criada pelo diretor, que através de uma eficiente estrutura narrativa e elementos sutis, deixa o espectador tenso, estressado e desesperado durante longos 153 minutos. O mérito dessa atmosfera claustrofóbica também se deve ao brilhante Roger Deakins, diretor de fotografia, que compõe cenários monocromáticos sempre densos através da baixa luminosidade e ambientes fechados.
Larissa Padron