O BRASIL ESCOLHEU LEVAR O DRAMA HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO para representar o país na disputa do Oscar (infelizmente, a obra ficou de fora da lista dos nove semifinalistas na categoria), mas será que esse foi o filme nacional favorito da equipe do Cinema de Buteco e dos críticos convidados? Reunimos vários amigos para escolher os 10 melhores filmes nacionais de 2014 e o resultado pode ser conferido logo abaixo!
Faltou algum filme nessa lista?
10 – Trash – A Esperança Vem do Lixo
A fotografia de Adriano Goldman, de encher os olhos, redefine a paleta do gênero policial a partir da superfície enlameada dos lixões e palafitas, com seus fragmentos multicoloridos, e os desenhos de luz e contrastes arquitetônicos da urbe carioca. Grandes planos que remetem aos feitos de Walter Carvalho para Walter Salles e Rodolfo Sánchez para Hector Babenco. Como se pode perceber, Trash, um trabalho de coprodução e coautoria entre países, que contrapõe gêneros, é um filme de esforços que se sustentam melhor onde são mais cuidadosos.
Leonardo Francini
O diretor de Billy Elliot, O Leitor e Tão Forte, Tão Perto no Brasil? Sim, Stephen Daldry veio ao país, trouxe algumas estrelas internacionais, algumas nacionais e escolheu um trio desconhecido, mas carismático, para protagonizar uma fábula no lixão. Sem dúvidas uma aventura emocionante e extremamente e divertida, com personagens principais que dão conta do recado e constroem uma relação forte com o expectador. O roteiro pode ser difícil de engolir, mas o que tirei de Trash foi uma mensagem sobre esperança em relação ao mundo. Nem tudo está perdido, ainda existem pessoas boas. Além disso, recomendo a sessão para que o público possa ver um lado macabro de Selton Mello, um antagonista frio, calculista e imprevisível.
Daniela Pacheco
Pode-se dizer que Trash – A Esperança Vem do Lixo trata da opressão, em suas mais variadas formas. O cenário no qual vivem os protagonistas infantis é um retrato da opressão provocada pela desigualdade social, pela luta de classes e pelo funcionamento do aparato policial.
Leonardo Lopes
9 – Tim Maia
Apesar de um pouco longo, com seus 140 minutos, o filme é bem interessante por não só clarear quem foi Tim Maia, com trechos saborosos para fãs e desavisados, mas também por mostrar o modo de vida de uma época e os coadjuvantes que também se tornariam famosos. Pelas interpretações de Nunes e Santana no papel-título, o ingresso já valeria a pena. As histórias de Nelson Motta ganham vida de forma vibrante, completando o show. Sebastião Rodrigues Maia, onde quer que esteja, deve estar bem satisfeito com o retrato exibido: um sujeito folgado, desbocado e genial.
Marcelo Seabra
Tim Maia pode ter uma ou outra adaptação que não me agradou e o Roberto Carlos ficou caricato demais, mas é um filme que mostra muito bem quem foi esse cantor magnífico que o Brasil teve. Regado a diversos sucessos do compositor, figurinos e carros para darem aquele gosto nostálgico e grandes atuações, a biografia é eletrizante, exatamente como a vida de Tim Maia foi. A narrativa é tão boa que você sai do cinema amando as músicas e a personalidade dele.
Daniela Pacheco
Com direção de Mauro Lima (Meu Nome Não é Johnny) e com Robson Nunes e Babu Santana se dividindo no papel principal, o longa-metragem conquista o público por não investir nas firulas e ser o mais próximo possível do humor e carisma de Tim Maia.
Tullio Dias
8 – Eles Voltam
Em Eles Voltam, filme de estreia de Marcelo Lordello (que também escreveu o roteiro) acompanhamos a trajetória da jovem Cris (Maria Luiza Tavares) que abandonada a beira da estrada com seu irmão Peu (Georgio Kokkosi) por seus pais segue uma trajetória de espera e de busca pelo lar, ao mesmo tempo em que tem contato com um Brasil que até então, não conhecia. Por construir uma narrativa contemplativa e atenta aos detalhes, angustiante e silenciosa ao mesmo tempo em que fala das diferenças sociais de um Brasil continental, e ainda manter uma sensação incômoda sobre o destino da garota, Lordello entrega um pequeno filme com grandes pretensões, mostrando-se um diretor promissor e sensível, deixando-nos com a sensação de que este é um filme genuinamente brasileiro, que mantém suas estéticas e temáticas em um nível de sofisticação raros no cinema nacional.
João Paulo Andrade
7 – Praia do Futuro
Interessado na relação entre sujeito e paisagem, e em como esses dois fatores se metaforizam, Karim Aïnouz entrega novamente uma obra prima que estuda seus personagens perseguindo aquilo que eles deixam escapar nas entrelinhas, entre os silêncios e os não-ditos.
João Andrade
Karim Aïnouz faz belos movimentos de câmera em Praia do Futuro. Assim, logo no começo, o diretor nos faz acompanhar as ondas e desespero do afogado. Nesse mar turbulento é que encontramos os personagens: Donato, um herói que falha – perde uma vida, perde um irmão pela distância – e Konrad, alguém que perde um amigo tragicamente. A fotografia e a ausência de trilha sonora dão um ar documental à essa história bela e interessante, e tratam da relação de um homem contra seus medos e angústias representado no plano final, onde os três personagens dirigem através da névoa, sem certeza do que vem à frente.
Tiago Paes de Lira
Praia do Futuro merece aplausos por se agarrar a seu personagem central e retratá-lo em toda a sua incerteza, todo o seu mistério e toda a sua falta de respostas, extraindo beleza da figura de um homem cuja aparência indestrutível esconde a mesma necessidade de aprovação que a barba mal-feita, o cabelo desgrenhado e as roupas amassadas às quais a vida a obriga a dar lugar.
João Marcos Flores
AVISO: Esse filme contem cenas de sexo gay e se você ficar de frescura, vai perder um dos longas nacionais mais interessantes do ano.
Tullio Dias
6 – Boa Sorte
Com um roteiro enxuto e cheio de momentos marcantes escrito pelo sempre brilhante Jorge Furtado em parceria com seu filho Pedro, Boa Sorte extrai sua força de personagens complexos e bem desenvolvidos cujo envolvimento jamais deixa de ser palpável aos olhos do espectador.
João Marcos Flores
5 – Quando eu Era Vivo
No seu primeiro longa-metragem solo, Dutra não rompe a barreira entre o sobrenatural e o real presente no brilhante Trabalhar Cansa, mostrando-nos que o terror não é definido pelo gênero, mas pelos acontecimentos familiares no roteiro. O terror é pessoal e subjetivo.
Andrey Lehenemann
A adaptação de Marco Dutra para A Arte de Produzir Efeito Sem Causa enxuga circunstâncias mais agressivas do livro de Mutarelli para revelar aos poucos a verdadeira origem do terror do protagonista, a exemplo (inclusive tecnicamente) da safra de filmes orientais da geração 2000, tais como Ringu e Água Negra, de Hideo Nakata. Ao contrário destes, porém, o mal aqui não é o que se pensa, tampouco precisa ser exorcizado. A invocação do demônio contra a autossabotagem divina clama por salvação: busca o retorno de um pai que consiga novamente olhar os seus com ternura.
Leonardo Francini
4 – Mar Negro
Todas as vezes que escuto alguém dizendo que não existe terror sendo produzido no Brasil, a primeira coisa que pergunto para a pessoa é se ela já ouviu falar do capixaba Rodrigo Aragão e da Fábulas Negras Produções. Depois de Mangue Negro e A Noite do Chupacabras, a criativa equipe de Aragão retorna com mais uma homenagem aos clássicos do terror no cinema. Investindo em muito sangue, gore e trash, Mar Negro é uma daquelas coisas imperdíveis para os amantes do gênero e a confirmação de um talento do cinema nacional.
Tullio Dias
No seu passeio pelo trash, Rodrigo Aragão inspira-se em Raimi e Romero para entregar o melhor filme da trilogia.
Andrey Lehenemann
3 – Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
O curta já foi muito bom e o filme então…atendeu às expectativas. Não só porque contou novamente com um roteiro que trata de maneira doce e natural o amor de duas pessoas, mas porque foi além disso e explorou temas muito importantes: o descobrimento da sexualidade e a vontade de ser independente de um jovem cego. Quem lê a sinopse e acha que Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é uma história sobre dois garotos que se apaixonam se engana. Tem isso? Claro. Mas o longa é muito mais. E a maneira que é narrado dialoga perfeitamente com o perfil dos personagens, os quais são muito bem interpretados pelo elenco.
Daniela Pacheco
Inteligente em construir o encanto desenvolvido pelo protagonista por seu novo amado como uma soma gradativa de experiências sensoriais amplificadas pela ausência da visão, Daniel Ribeiro retrata de maneira precisa e ao mesmo tempo bem humorada os percalços enfrentados todos os dias por um deficiente visual rodeado por pessoas que, por melhor intencionadas, simplesmente não conseguem compreender suas reais necessidades.
João Marcos Flores
O amor é uma daquelas coisas que simplesmente acontecem e não precisamos perder tempo nos desgastando com vãs explicações. Aliando ternura com romances (quase) platônicos e uma trilha sonora inspirada, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho merece ser lembrado como um dos destaques nacionais da temporada.
Tullio Dias
2 – Entre Nós
Com um discussão sensível acerca de (i)maturidade, frustração e más escolhas, Entre Nós se transforma em um filme bastante poderoso, levando o espectador a um balanço de suas próprias escolhas e gravando em sua mente a imagem de meia dúzia de personagens que, complexos e trágicos em sua humanidade, custarão a abandonar sua memória.
João Marcos Flores
A amizade resiste a tudo? Ela resiste à tragédia, ao tempo e à consequente transformação das pessoas? Os irmãos Morelli fazem aqui um estudo profundo sobre como os indivíduos mudam, assim como as relações que mantêm entre si, em um longo período de tempo. Segredos são enterrados, uma pessoa morre, dez anos de passam, um fica famoso com um best-seller, outros se separam e chegamos ao presente. O que acontece quando as alegrias e frustrações retornam? E quando os segredos são desenterrados? Durante quase duas horas, vemos só esses protagonistas, no mesmo local em que os conhecemos nas primeiras cenas do filme. Porém, não é nada cansativo. Temos um suspense e um drama de alto nível, com um elenco formidável. Entre Nós termina e você quer continuar entre eles.
Daniela Pacheco
1 – O Lobo Atrás da Porta
Em seu longa de estreia, o diretor Fernando Coimbra faz isso, testa nossa moralidade e capacidade de relativizar o horror, em um clima constantemente tenso, recheado das melhores atuações do ano.
Larissa Padron
Enquanto aguardava pelo próximo trem, Rosa viu aproximar-se de si, como um vagão descarrilhado, Bernardo, que explorou sua vulnerabilidade e carência em sua tórrida aventura extraconjugal. Mas, da mesma forma com que se submeteu em ser amante e se entregou a todos os caprichos de Bernardo, Rosa despertou seu lado possessivo, dissimulado, instável e sombrio, alimentado por promessas de amor falsas e abusos frequentes e, com o passar do tempo, violentos. Este é o canvas sobre o qual o diretor e roteirista Fernando Coimbra pincela as cores de um thriller tenso, sexy e impiedoso, cujas camadas serão reveladas pacientemente através da estrutura narrativa instigante e da câmera inquieta e madura, e, sobretudo, pela atuação magistral de Leandra Leal.
Marcio Sallem
Estreia do diretor Fernando Coimbra, do curta Trópico das Cabras, em longas-metragens, O Lobo Atrás da Porta é um thriller erótico intrincado e que traz Leandra Leal em uma atuação central intensa e complexa.
João Marcos Flores
A obra mantém o suspense até o seu final e cria diversos questionamentos: confiamos muito facilmente nas pessoas? Como surge uma história de amor? É mesmo amor?
Graciela Paciência
Traição é um tema recorrente no cotidiano. Estamos expostos ao risco da trair ou ser traído, e com isso também ficamos vulneráveis diante a complexidade das pessoas. O Lobo Atrás da Porta trata exatamente dessa questão, mas que é apenas um detalhe na intrigante montagem da obra que vai se desenrolando sem pressa e fisgando a nossa atenção do começo ao fim.
Tullio Dias
Listas individuais:
Andrey Lehnemann (ClickFilmes)
1 – O Lobo Atrás da Porta
2 – Entre Nós
3 – Quando Eu Era Vivo
4 – O Menino no Espelho
5 – Mar Negro
6 – Sinfonia da Necrópole
7 – Praia do Futuro
8 – Boa Sorte
9 – O Mercador de Notícias
10 – Coutinho
Tiago Paes de Lira (Um Tigre no Cinema)
1 – Entre Nós
2 – Quando eu Era Vivo
3 – Lobo Atrás da Porta
4 – Trash
5 – Boa Sorte
6 – Praia do Futuro
7 – Entre Vales
8 – Trinta
9 – A Vida Privada dos Hipopótamos
10 – Uma dose Violenta de Qualquer Coisa
Marcelo Seabra (O Pipoqueiro)
1 – O Lobo Atrás da Porta
2 – Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
3 – Entre Nós
4 – Tim Maia
5 – Boa Sorte
6 – Não Pare na Pista
7 – Alemão
8 – Praia do Futuro
Marcio Sallem (Em Cartaz)
1 – O Lobo Atrás da Porta
2 – Hoje eu Quero Voltar Sozinho
3 – Entre Nós
4 – Junho
5 – A Grande Vitória
6 – Riocorrente
7 – A Oeste do Fim do Mundo
8 – Confissões de Adolescente
9 – Alemão
10 – Trinta
João Marcos Flores (CineViews)
1 – Cássia
2 – O Lobo Atrás da Porta
3 – A Luneta do Tempo
4 – Casa Grande
5 – A Despedida
6 – Entre Nós
7 – Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
8 – Brando Sai Preto Fica
9 – O Mercado de Notícias
10 – Boa Sorte
Menções honrosas: Praia do Futuro, Obra, Sangue Azul, Ventos de Agosto e Aprendi a Jogar com Você.
Tullio Dias
1 – O Lobo Atrás da Porta
2 – Entre Nós
3 – Tim Maia
4 – Trash – A Esperança vem do Lixo
5 – Mar Negro
6 – Homens São de Marte e é Pra Lá Que Eu Vou
7 – Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
8 – Praia do Futuro
9 – Alemão
10 – Quando eu Era Vivo