ESCOLHER QUAIS FORAM OS MELHORES FILMES DE SUSPENSE DE 2014 NÃO FOI UMA MISSÃO SIMPLES. Assim como acontece com o terror, é difícil escolher obras que se destacam no gênero. A maior parte se contenta com fórmulas medíocres, interesses dos estúdios e uma tremenda falta de originalidade. De qualquer forma, esquentamos nossas cabeças (devidamente refrescadas com uma boa caipirinha) e escolhemos 10 produções que se destacaram nos últimos doze meses. Boa parte delas já se encontra disponível em lojas e TV a cabo.
Boa diversão!
10 – Sem Escalas
Estreantes no Cinema, os roteiristas John W. Richardson, Chris Roach e Ryan Engle optam por sediar sua narrativa em um ambiente claustrofóbico por excelência e arquitetam um sequestro engenhoso, que pega até o agente federal aéreo Bill Marks de surpresa. À paisana em uma aeronave comercial que atravessa o Atlântico, o sujeito passa a receber estranhas mensagens de texto de alguém que se anuncia como um dos passageiros do voo e promete matar uma pessoa a cada 20 minutos caso a importância de 150 milhões de dólares não seja depositada em determinada conta bancária. Para piorar a situação, as autoridades passam a desconfiar que o próprio Marks possa ser o responsável pelo sequestro.
Eduardo Monteiro
9 – A Caverna
Explorando com habilidade a sensação de constante falta de ar causada pelos túneis e passagens estreitas da caverna do título, o cineasta Alfredo Montero se beneficia de um trabalho cuidadoso de edição de som para fazer com que a respiração ofegante dos personagens e una a uma série de outros ruídos diegéticos e nos insira cada vez mais naquele ambiente insípido. Mas é no momento em que passa a se aproximar de seu terceiro ato que A Caverna se torna realmente apavorante por plantar um conflito moral que, repulsivo à primeira vista, se torna plenamente compreensível se tentarmos nos colocar no lugar daquelas pobres criaturas do lado de lá da tela – e há pelo menos duas ou três cenas de violência gráfica que certamente causarão enjoos e quedas de pressão nos mais frágeis.
João Marcos Flores, do CineViews
8 – Homem-Duplicado
Depois do indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro Incêndios, o canadense Denis Villeneuve caiu nas graças do público e também da crítica. Dirigiu “Os Suspeitos” e repetiu o trabalho com Jake Gyllenhaal na adaptação de O Homem Duplicado, de José Saramago. O filme conta a história de um professor de história que descobre um sósia e consegue envolver sua namorada e a esposa do segundo em uma sequência de acontecimentos inesperados. A escrita de Saramago pode aparentar uma dificuldade na transposição da história, mas, exceto a alternância da importância de alguns personagens, a adaptação representa bem a essência da história do escritor. Além disso, O Homem Duplicado é um daqueles filmes que podem parecer não ser uma grande história, mas surpreende com as consequências do que parecia ser inofensivo.
Graciela Paciência
7 – O Homem Mais Procurado
Com a morte de Philip Seymour Hoffman, o mundo perdeu um grande ator, e isso fica bem claro após uma sessão de O Homem Mais Procurado. O longa será sempre lembrado como o último trabalho protagonizado por este grande artista, mas as pessoas não devem assistir a ele apenas por esta triste curiosidade. Trata-se de um ótimo thriller de espionagem, bem longe do glamour de um James Bond, que conta com uma história moderna de ninguém menos que John le Carré, o papa do gênero.
Marcelo Seabra, do Pipoqueiro
6 – Blue Ruin
Com possibilidades imensas de ser lançado direto na programação da TV a cabo, Blue Ruin é um thriler dramático sobre vingança. Dirigido pelo desconhecido Jeremy Saulnier, o grande mérito do longa-metragem é o seu ritmo lento combinado com um personagem silencioso e quase sem movimentação. Ao contrário do que acontece em Drive, por exemplo, no qual o protagonista possui muita atitude apesar de ser (praticamente) mudo. Acompanhar as ações de um homem com essas características é interessante, e acabamos surpreendidos com um belo filme. No entanto, verdade seja dita, Blue Ruin está longe de ser uma atração para cair no gosto popular.
Tullio Dias
5 – O Abutre
Ano passado, Jake Gyllenhaal foi coadjuvante no melhor suspense do ano (clique para ver a lista completa), Os Suspeitos; em 2014, o ótimo ator teve a oportunidade de ser protagonista num dos melhores lançamentos do gênero no ano – e assim sendo, esperamos que ele continue investindo no suspense. O longa de Dan Gilroy é um conto urbano soturno sobre os perigos – e a canalhice – que vive um repórter de rua em sua busca intensa pela notícia. Partindo deste ponto, somos levados a uma jornada tensa, onde o protagonista jamais revela sua verdadeira face, afundando-se cada vez mais nesta obsessão e levando outros consigo. Uma narrativa que, como poucas, leva-nos de forma honesta e crua a uma visão nada romantizada do jornalismo.
Leonardo Lopes
4 – Cold in July
Cold in July é um thriller com ritmo lento, mas que graças ao roteiro genial e elenco brilhante consegue prender a atenção do espectador. Para fãs de filmes que trabalham com investigações e revelações surpreendentes, é provavelmente um título imperdível e que fatalmente merece reconhecimento em qualquer lista de final de ano. Destaque para o belo trabalho do trio de atores masculinos, e para a direção eficiente de Jim Mickle.
Tullio Dias
3 – O Lobo Atrás da Porta
Enquanto aguardava pelo próximo trem, Rosa viu aproximar-se de si, como um vagão descarrilhado, Bernardo, que explorou sua vulnerabilidade e carência em sua tórrida aventura extraconjugal. Mas, da mesma forma com que se submeteu em ser amante e se entregou a todos os caprichos de Bernardo, Rosa despertou seu lado possessivo, dissimulado, instável e sombrio, alimentado por promessas de amor falsas e abusos frequentes e, com o passar do tempo, violentos. Este é o canvas sobre o qual o diretor e roteirista Fernando Coimbra pincela as cores de um thriller tenso, sexy e impiedoso, cujas camadas serão reveladas pacientemente através da estrutura narrativa instigante e da câmera inquieta e madura, e, sobretudo, pela atuação magistral de Leandra Leal.
Marcio Sallem, do Em Cartaz
2 – Garota Exemplar
David Fincher é eficiente na adaptação do best-seller de Gillian Flynn. Sem afobação e revelando aos poucos os detalhes sobre os seus personagens, Garota Exemplar vai envolvendo o espectador lentamente. Cria-se toda uma atmosfera de tensão em que tudo parece extremamente óbvio, mas a partir da segunda metade o longa-metragem tudo sai do seu devido lugar e cabe a nós somente inclinar o corpo para frente, roer as unhas e se impressionar com a conclusão brilhante, tóxica e apaixonada que o filme propõe. Não tenha dúvidas: apesar de ser um dos melhores suspenses do ano, Garota Exemplar também entra facilmente na lista de melhores romances da temporada.
Tullio Dias
1 – Borgman
De vez em quando surgem aqueles filmes que nós assistimos sem entender absolutamente nada do que está passando na tela. Ele acaba e você continua tentando entender qual o sentido daquelas coisas, se é que existiu a intenção do diretor em seguir um caminho de fácil compreensão. Ao final de Borgman, você terá muitas perguntas sem respostas e precisará debater urgentemente com os amigos (e por isso que o coloquei no topo da lista de filmes de suspense de 2014, pois quero que todos assistam para discutirmos nos comentários sobre WTF é esse longa-metragem!), mas o curioso é que esse fato não chega a incomodar de verdade. O tempo inteiro existe um clima sobrenatural, com uns personagens muito esquisitos e uma narrativa que acerta ao não dizer exatamente o que está acontecendo, mas que continua mostrando o desenvolvimento da história. O inexplicável faz Borgman ser tão interessante e especial.
Tullio Dias