Tullio Dias e o crítico Marcelo Seabra apresentam a terceira edição da tradicional lista de surpresas do ano nos cinemas. Qual foi a sua?
TODO ANO EXISTE AQUELE FILME QUE CHAMA A SUA ATENÇÃO ANTECIPADAMENTE. Contrariando as “regras”, acabamos deixando o lado emocional afetar nosso julgamento e criamos as famosas expectativas. Isso nos faz ficar nas mãos do destino (ou dos produtores envolvidos nas obras em questão), afinal podemos ou nos decepcionar muito ou simplesmente ter uma surpresa digna daquela dos tempos de escola quando o nosso primeiro amor diz que é recíproco. Acontece. (Não com alguém que eu conheça, mas dizem que acontece) Portanto, pelo terceiro ano consecutivo, é com muito orgulho que recebemos o Marcelo Seabra, do blog O Pipoqueiro, para falar das nossas principais surpresas no cinema em 2015. Vamos em frente?
Nota do editor: A lista de Principais Surpresas e a lista de Principais Decepções são baseadas na opinião de dois críticos que foram ao cinema com expectativas prévias em relação aos filmes mencionados, e acabaram surpreendidos de uma maneira positiva ou negativa após assisti-los. De maneira alguma, as duas listas representam os “melhores” ou os “piores” filmes do ano.
Esclarecido isso, apreciem sem moderação!
Top 5 – Principais surpresas do cinema em 2015, por Marcelo Seabra
Como já é tradição no Buteco, vamos às grandes surpresas de 2015. E a lista tem dois tipos de produções: aquelas menores, das quais não se esperava muito até por falta de informação, e as grandes que conseguiram ir além de qualquer expectativa. Este segundo grupo não poderia ser encabeçado por nenhum outro filme se não Mad Max: Estrada da Fúria. O novo episódio da franquia de George Miller demorou décadas para sair e, desde então, vem ocupando posições privilegiadas em listas de melhores do ano. Com um novo Max Rockatansky, que responde por Tom Hardy, e uma personagem inédita, a Imperatriz Furiosa de Charlize Theron, Miller criou uma aventura acelerada, violenta e visualmente perfeita.
Ainda no grupo das super-produções, temos um novo herói Marvel de quem, assim como em Guardiões da Galáxia, não se esperava muito. Paul Rudd emprestou todo o seu carisma a Scott Lang e criou um ótimo Homem-Formiga, com muito apoio do veterano Michael Douglas e outros grandes nomes como coadjuvantes. Com a estrutura clássica de um filme de roubo, o diretor Peyton Reid conseguiu amarrar os retalhos que vinham sendo criados há anos em diversas encarnações do projeto e criou uma obra simpática, eficiente e divertida. Mesmo com o menor orçamento de todo o Universo Marvel.
No grupo dos filmes menores e excepcionais, temos como melhor exemplo Whiplash – Em Busca da Perfeição. O longa leva mais longe a ideia que o diretor e roteirista Damien Chazelle já tinha adaptado em um curta, trazendo novamente J.K. Simmons no papel do professor do conservatório musical que não mede esforços para descobrir talento entre seus alunos, inclusive torturando-os psicologicamente. Milles Teller é o destaque entre os jovens e logo ganha a atenção do professor sádico. É o duelo entre eles a principal atração de Whiplash. Se Fletcher é um babaca consumado, logo fica claro que Andrew também não é uma pessoa fácil, e falamos de dois atores muito acima da média.
Outras duas produções independentes que coincidiram no gênero foram The Babadook e Corrente do Mal. Ambas se preocupam mais em criar uma atmosfera de terror do que em dar sustos, e seus personagens são desenvolvidos o suficiente para nos importarmos com eles. Em The Babadook, temos uma mãe lutando contra seus traumas para viver bem e criar seu filho. Um dia, eles descobrem o livro sobre um certo Sr. Babadook, um monstro que mais parece um espírito obsessor, e as coisas começam a ficar mais estranhas a ponto de eles acharem que não se trata apenas de ficção. Corrente do Mal acompanha uma jovem que, após um encontro com o namorado, descobre ter recebido uma maldição: esse sim, um obsessor que não descansará até matá-la, ou até que ela passe a maldição adiante.
Nos dois casos, temos metáforas para coisas da vida, dificuldades que enfrentamos em determinadas épocas, ou após certos eventos. A dolorosa perda do marido e a passagem pela adolescência, geralmente confusa e cheia de possibilidades e questionamentos, servem como oportunidade para seus diretores criarem longas assustadores e bem construídos. Barato, nos dois exemplos, não é sinônimo de porcaria, muito pelo contrário.
Top 5 – Principais surpresas do cinema em 2015, por Tullio Dias
Que atire a primeira pedra quem não ficou com um pé atrás quando começaram a surgir as primeiras críticas sobre Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert. O motivo disso era exclusivamente Regina Casé, uma profissional super competente em atender as limitações da televisão aberta e que se especializou em entender o povão suburbano do país, mas que nunca foi bem quista entre os intelectuais. Deus tira a internet de quem dizer que isso é mentira. Felizmente, quebrar preconceitos é algo que as pessoas precisam fazer para evoluir e lá fui eu descobrir que Casé não apenas tem o melhor desempenho feminino da temporada (Imperatriz o quê?), como Que Horas Ela Volta? faz parte da lista de produções mais importantes de 2015. Que filme incrível.
A coisa legal sobre expectativa é quando você não está nem aí para o filme e consegue ser capturado pela viagem proposta pelos realizados. No caso de Peter Pan, de Joe Wright, provavelmente fui influenciado por alguns fatores: 1) gostar muito do personagem; 2) não ter assistido aos trailers; 3) saber apenas que o Hugh Jackman interpretaria um vilão, mas que não se tratava do Capitão Gancho; 4) a cadeira do cinema em que assisti ao filme tremia; receita do sucesso. Peter Pan é um resgate daquelas histórias clássicas da nossa infância e uma luta singela do bem contra o mal mostrando uma aliança entre duas pessoas que se tornariam inimigos mortais no futuro. Por ter me feito sonhar e chorar, agradeço ao Joe Wright por uma releitura tão linda e bem vinda para nossos dias de cinismo e agressividade.
Férias Frustradas está aqui porque é uma comédia absurdamente politicamente incorreta. E tosca. E que é um exemplar do que a indústria está fazendo atualmente ao “disfarçar” esses remakes como espécies de continuações. Foi assim com Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros, O Exterminador do Futuro (que me agradou muito porque não me arrisquei assistindo a nenhum de seus trailers – e isso faz a diferença) e até Star Wars. Sentindo que o original estava ultrapassado, os produtores escalaram Ed Helms para representar a desastrada família Griswold numa jornada recheada de piadas físicas e totalmente desprovida daquela deliciosa inocência dos anos 1980, mas que atende as necessidades de um público mais preguiçoso e que se diverte com as coisas mais imbecis. Só fui assistir para cumprir tabela e saí do cinema rindo a toa.
É chato ter que escolher apenas cinco filmes. Fiquei num grande conflito emocional entre Perdido em Marte (vendido pelo MKT como um drama sci-fi pesadão e se tornou uma aventura sci-fi muito engraçada e na minha lista de favoritos do ano) e 71′ – Esquecido em Belfast (uma autêntica surpresa daquelas que você costuma descobrir por acaso e fica com a certeza de que viu uma das melhores coisas do cinema nos últimos tempos), mas preferi falar sobre o retorno de M. Night Shyamalan aos bons tempos em A Visita. UAU! Nunca havia assistido a um terror capaz de me fazer rir alto e gritar de susto em sequência. Justamente ao abrir mão do seu ego e tentar ser menor no seu cinema, que Shyamalan reencontrou a boa forma e produziu um dos grandes destaques do gênero terror quando a maioria esperava uma bomba.
Deixo claro que tinha a convicção que não existia a menor possibilidade de Star Wars: O Despertar da Força ser ruim. Não por acreditar em J.J. Abrams, mas mais por saber que a saga funciona melhor quando é conduzida por qualquer pessoa menos o seu próprio criador. Só que nada me preparou para a verdadeira avalanche de lembranças, sensações e surpresas presentes no sétimo longa-metragem da série. Mesmo carregando a mão nas “referências” (que se aproximam muito de tornar Episódio VII um remake nos moldes de Férias Frustradas, Jurassic World e O Exterminador do Futuro: Gênesis, mas acabam funcionando para a narrativa), a produção se destaca por finalmente trabalhar atores competentes, como John Boyega, e não apenas carismáticos, como Harrison Ford. Nos meus sonhos nerds mais empolgados não tinha a menor ideia de que J.J. Abrams faria o terceiro melhor filme de Star Wars de todos os tempos.
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