NA ÚLTIMA SEXTA-FEIRA, 17 de maio, estreou nas salas brasileiras a comédia Giovanni Improtta, dirigido e estrelado por José Wilker. O longa-metragem é um spin-off da saga do personagem interpretado por Wilker na novela Senhora do Destino, de 2004, e que fez muito sucesso na televisão. Quase 10 anos depois do lançamento da novela, o filme tenta se aproveitar do carisma do ex-bicheiro apaixonado por Maria do Carmo (Susana Vieira). Se dá certo ou não, só indo ao cinema para descobrir.
Assista ao trailer aqui:
Depois de muita conversa, nós selecionamos outros ícones da televisão que também merecem uma oportunidade no cinema. Veja a lista logo abaixo e não deixe de lembrar outros personagens que acabaram de fora da nossa seleção, como o vilão Olavo (Wagner Moura), de Paraíso Tropical, dentre tantas outras figuras que acompanharam boa parte dos fãs de novelas.
Confira abaixo mais personagens de novela que merecem ganhar um filme:
Nazaré Tedesco – Senhora do Destino
A pessoa que assistiu a Senhora do Destino e decidiu que o bicheiro e carnavalesco Giovanni Improtta era a melhor escolha para estrelar um filme solo merece um tapa na orelha. É preciso reconhecer, evidentemente, que comédia é um gênero muito mais forte comercialmente no Brasil – mas Giovanni Improtta é uma tragédia absoluta tanto do ponto de vista artístico quanto do narrativo, de modo que a escolha permanece injustificada. Além disso, estamos falando da novela que tinha como vilã principal ninguém menos que Nazaré Tedesco, aquela que jogava seus desafetos escada abaixo.
Renata Sorrah poderia repisar o papel, que renderia um filme B de terror no mínimo curioso. Na história, descobriríamos que Nazaré é uma espécie de Jason brasileiro e sobreviveu à tentativa de suicídio do último capítulo da novela. De lá, ela partiria para algum local marcado pelo número de escadas (um prédio comercial ou um shopping, por que não?) ou passaria a eliminar suas vítimas em conjuntos emblemáticos de degraus. O clímax poderia se passar na Igreja da Penha; afinal, não há megalomania mais divertida e apropriada que levar a assassina serial para ser derrotada (ou para aniquilar sua última vítima) em uma escadaria icônica e famosa por sua extensão. No desfecho (spoilers adiante), poderíamos descobrir que Nazaré e sua aqui-inimiga Maria “Anta Nordestina” do Carmo são a mesma pessoa – ou, pelo menos, Susana Vieira poderia surgir em uma cena adicional depois dos créditos finais. Escada Para o Inferno é minha sugestão imediata de título – e não consigo pensar em uma tagline melhor que “Ou você desce, ou Tedesco à força”. (Eduardo Monteiro)
Carminha – Avenida Brasil
Carminha? Nina? No sucesso Avenida Brasil, Adriana Esteves e Debora Falabella não só entregaram atuações épicas para a TV tupiniquim como também vários memes repetidos à exaustão pela internet. E que atire a primeira garrafa pet da Mãe Lucinda aquele que nunca quis soltar em plenos pulmões um “Me serve, vadia”, após a cena clássica do jantar entre as rivais. Porém, cinematograficamente, acho que o personagem da novela que mais caberia em alguma produção da sétima arte seria o poderoso Santiago, pai de Carmen Lúcia, que não só mandava e desmandava na bandidagem local, como fazia tudo isso por detrás do balcão de um macabro hospital de brinquedos. Se Guillermo del Toro assistisse às nossas novelas, aposto que usaria o sujeito e ainda daria vida praquelas bonecas tudo dali… (Kelson Douglas, do site Altamente Ácido)
O Cadeirudo – A Indomada
Em 1997, durante a exibição da novela A Indomada, um personagem em especial chamou a atenção do público: o pervertido conhecido como O Cadeirudo. Durante as noites de lua cheia, as mulheres de Greenville precisavam se esconder para não entrarem nas estatísticas de vítimas do tarado global. A premissa renderia uma bela comédia de humor negro, com direito a um detetive investigando os passos e se apaixonando pela beata Lurdes Maria, sem nem desconfiar que sua amada é na verdade a criminosa sexual mais procurada da cidade.
Tonho da Lua e Jamanta – Mulheres de Areia e Torre de Babel / Belíssima
O ator Marcos Frota andou declarando recentemente o quanto gostaria de reprisar o Tonho da Lua, de Mulheres de Areia. Disse até que existem empresas interessadas em projetos do tipo. Não seria nada mal se houvesse um encontro de Tonho da Lua com o querido Jamanta (Cacá Carvalho), de Torre de Babel e Belíssima. Sim, o personagem foi tão querido que apareceu em DUAS novelas. Os dois personagens poderiam se encontrar durante uma visita de Jamanta para a cidade natal de sua falecida esposa Bina (Claudia Gimenez) – e que aparecia como um fantasma para assombrar o coitado -, e por acaso, o circo do Tonho da Lua estaria se apresentando na cidade. Jamanta não morreu. O Jamanta não morreu.
Família Sardinha – Da Cor do Pecado
Quando o assunto é grandes novelistas brasileiros, muita gente tende a lembrar de veteranos como Manoel Carlos, Gloria Perez, Sílvio de Abreu, Aguinaldo Silva ou Gilberto Braga. Eu, por outro lado, só consigo pensar em um nome: João Emanuel Carneiro. Além do sucesso recente de Avenida Brasil, o novelista foi responsável pela estrutura ousadíssima (para os padrões da dramaturgia televisiva) das primeiras semanas da elogiada A Favorita e, aos 27 anos, era um dos nomes creditados pelo roteiro de Central do Brasil, um dos maiores sucessos do Cinema nacional.
Também no currículo do autor está a deliciosa novela Da Cor do Pecado, cujo núcleo cômico, para quem não se lembra, era dominado pelos desmiolados Sardinha, família desajustada de lutadores. Da matriarca Edilásia (ou Mamuska), vivida pela ótima Rosi Campos, ao Thor de Cauã Reymond, passando pelo homossexual erudito Abelardo Sardinha de Caio Blat, a família era um prato cheio para o humor nonsense que, provavelmente, renderia uma ótima comédia alternativa nas mãos de algum cineasta brasileiro estreante e inventivo – de preferência, com aspirações de Edgar Wright ou Wes Anderson. (Eduardo Monteiro)
Esteban Maroto – Kubanacan
Kubanacan foi uma obra completamente atípica: além da ambientação inusitada (passava-se na década de 50 em um país fictício caribenho), o folhetim das sete apresentava uma trama ambiciosa, capaz de desorientar o espectador que perdesse um mero par de episódios – uma raridade que devia deixar os grandes chefões da emissora com os cabelos em pé. Entretanto, a história do protagonista Esteban Maroto (vivido pelo constantemente descamisado Marcos Pasquim), além de divertida, era intrigante, flertava com elementos sci-fi e conseguiu arrastar um grande mistério por meses a fio com uma eficácia surpreendente. Em uma análise levemente grosseira, tratava-se de um personagem de cinema preso em uma novela – e eu definitivamente apreciaria assistir a um filme que misturasse mistério, ação, humor e Esteban. (Eduardo Monteiro)
Marcos – Mulheres Apaixonadas
Interpretado por Dan Stulbach, o Marcos da novela Mulheres Apaixonadas era um cabra psicótico dominado pelo ciúme e incapaz de diferenciar amor de posse, tornando a vida de sua esposa um verdadeiro inferno. Na novela, ele supostamente morre e deixa Raquel (Helena Ranaldi) livre para ser feliz. MAS… vamos supor que o psicopata tenha escapado e ficado com amnésia. Durante muito tempo ele viveria sem saber o seu nome até que assistisse a um jogo de tênis pela televisão e lembrasse que era capaz de manejar o instrumento. Então, a gente acompanharia toda a jornada esportiva do vilão desmemoriado, inclusive ganhando campeonatos. Até que ele passaria a lembrar de toda a sua vida anterior e planejasse sua vingança contra Raquel, que não é mais aquela mesma mulher e receberá o ex-marido com um taco de baseball. Seria a versão nacional do thriller Dormindo Com o Inimigo, com Julia Roberts.
Cigano Igor – Explode Coração
A carreira de Ricardo Macchi está meio ruim das pernas. Tão ruim que ele foi convidado para sair como candidato a Deputado pelo PSD. O partido confia na fama conquistada pelo ator em 1995, com a novela Explode Coração. A maioria das pessoas sequer se lembra que foi uma das primeiras vezes que a internet era utilizada na televisão. Tudo foi ofuscado pelo talento nato do expressivo Macchi na pele do sedutor cigano Igor. Dono de verdadeiras pérolas de sabedoria, o dom do silêncio e cara de paisagem, Cigano Igor bem que poderia estrelar um drama existencial sobre a sua vontade de voltar para a natureza depois de uma vida no meio da selva de pedras da cidade grande.
Um Anjo Caiu do Céu
Seria curioso acompanhar o começo da vida do fotógrafo João Medeiros (Tarcísio Meira) em Um Anjo Caiu do Céu, novela exibida em 2001. Na trama, que já mostra Medeiros mais velho e com apenas mais seis meses de vida, um anjo chamado Rafael vem para o plano terrestre para ajudar o fotógrafo a organizar sua vida e corrigir seus erros. Tudo isso enquanto eles são perseguidos por um grupo de perigosos terroristas. Mas por mais que a premissa seja promissora, conhecer o jovem João Medeiros não seria melhor que realmente existir uma possível adaptação da comédia para o cinema, do jeitinho que todo mundo assistiu na televisão. Corre o risco de virar uma grande meleca gosmenta, mas a esperança é a última que morre, né?
Ps: Para quem é cinéfilo e também noveleiro, recomendamos o artigo do site Ovo de Fantasma comentando sobre como cineastas famosos encerrariam a novela Avenida Brasil. Clique aqui para ler.
[cinco]