NÃO FALTARAM VILÕES ESTE ANO, com tanta notícia ruim se acumulando uma após a outra, sem trégua — e a vontade é grande de declarar o próprio 2016 como o grande vilão do ano. Mas não estamos aqui para uma retrospectiva do mundo real, e sim para seguir a tradição anual do Buteco e falar sobre os malfeitores fictícios que mais curtimos odiar nas telonas durante os últimos 12 meses.
Vale apontar que os supervilões decepcionaram em 2016: Apocalypse (vilão-título do mais recente X-Men) foi um boboca com cara de inimigo dos Power Rangers; o histriônico Lex Luthor de Batman vs Superman mais lembrou o Charada de Jim Carrey – e o filme ainda nos “presenteou” com outro vilão ruim também chamado Apocalipse; e Esquadrão Suicida, cujo elenco só tem vilão, foi um dos filmes mais malhados do ano.
Ainda bem que outros gêneros cinematográficos nos propiciaram uma boa galerinha do mal pra compensar. Confira os malvados favoritos do cinema em 2016, sem ordem definida, escolhidos por Lucas Paio e Tullio Dias:
(Este post inclui spoilers de A Bruxa, O Quarto de Jack, O Regresso e Rogue One: Uma História Star Wars)
Howard (John Goodman) – Rua Cloverfield, 10
Uma das melhores surpresas do ano, Rua Cloverfield, 10 compensou o baixo orçamento com um roteiro tenso e cheio de reviravoltas, uma protagonista marcante e um dos melhores antagonistas de 2016. Metódico e obstinado, Howard (John Goodman) construiu um elaborado bunker onde mantém duas outras pessoas cativas – isso porque, segundo ele, alguma coisa muito ruim aconteceu lá fora e não dá pra deixar ninguém sair. A ambiguidade do personagem e nossas incertezas sobre suas reais motivações são um dos principais ingredientes deste ótimo suspense. (LP)
Shere Khan (Idris Elba) – Mogli: O Menino Lobo
A nova adaptação de Mogli: O Menino Lobo surpreendeu pelo equilíbrio entre fantasia e realismo, trazendo alguns dos animais mais convincentes que já vimos nas telas – e que até falando ou cantando conseguem parecer de carne e osso. Entre vários destaques, como o urso Balu de Bill Murray, a pantera Bagheera de Ben Kinglsey e a cobra Kaa de Scarlett Johansson, o maior é mesmo o tigre Shere Khan, que já era ameaçador na animação de 1967 e ficou ainda mais atorrerizante com a voz imponente de Idris Elba e o talento dos artistas digitais que lhe injetaram vida. (LP)
Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) – Os Oito Odiados
Daisy pode ser considerada a grande vilã de Os Oito Odiados, ainda que nenhum daqueles homens aprisionados na cabana durante a nevasca possa vir a ser considerado um “herói”. Mas é justamente ela quem causa toda a confusão e tenta manipular cada um que cruza o seu caminho. Daisy é uma vilã silenciosa, mas louca de dar nó. (TD)
A Líder dos Solitários (Léa Seydoux) – O Lagosta
O cineasta grego Yorgos Lanthimos conseguiu, em O Lagosta, a proeza de fazer um filme sério e excelente a partir de uma premissa completamente nonsense: em um mundo distópico, os solteiros são enviados a um hotel onde têm 45 dias para encontrar um novo par — caso contrário, serão transformados no animal de sua preferência. Nessa história absurda e com uma boa dose de atos cruéis (a “Mulher Sem Coração” também poderia facilmente estar na nossa lista), merece destaque a líder do grupo dissidente dos Solitários, interpretada com frieza e impiedade por Léa Seydoux. (LP)
Black Phillip – A Bruxa
A Bruxa não liderou a lista de melhores filmes de terror do ano à toa (ops… spoilers das nossas listas!), e ainda apresentou um vilão encarnado no corpo de um bode preto fedorento. A sugestão é a coisa mais poderosa para uma narrativa bem construída, principalmente quando existe um diretor talentoso comandando o desenvolvimento da história. O bode Phillip (voz de Wahab Chaudhry) me deixou arrepiado durante os minutos finais de A Bruxa, quando finalmente revela a sua verdadeira forma. Sinistro define. (TD)
Velho Nick – O Quarto de Jack
O Velho Nick (Sean Bridgers) é um dos detalhes mais discretos do sensível O Quarto de Jack. Responsável principal pela história, o pai do pequeno Jack (Jacob Tremblay) não ganha a atenção da câmera em nenhum momento. O vilão sem rosto do longa-metragem depende muito da sugestão e da imagem que a criança cria dele, enquanto o público sente-se enojado por saber o quanto ele pode ser real. (TD)
Darcy (Patrick Stewart) – Sala Verde
Em Sala Verde, um suspense claustrofóbico que segue uma banda punk metida numa enrascada em uma casa de shows neo-nazista, o grande destaque vai para Darcy, interpretado com a excelência de sempre por Patrick Stewart. Dono do estabelecimento e líder dos nazistas, Darcy é um vilão minimalista, que mantém o tom de voz calmo mesmo quando o bicho está prestes a pegar. Talvez por isso meta muito mais medo do que muito vilão escandaloso por aí. (LP)
John Fitzgerald (Tom Hardy) – O Regresso
Tom Hardy recebeu uma indicação ao Oscar. Na pele do “vilão” de O Regresso, Hardy não deixa nada a desejar em relação ao seu companheiro Leonardo DiCaprio. Na verdade, para a narrativa, o personagem de Hardy é até mais profundo e interessante, já que possui toda uma jornada a ser desenvolvida e apresentada aos espectadores, ao passo que DiCaprio apenas segue o fluxo para chegar ao seu destino. John Fitzgerald é um homem preocupado apenas em garantir o seu, mesmo que isso signifique passar por cima de outros. E são as suas atitudes que criam toda a dinâmica que cerca O Regresso e o faz se desenvolver. (TD)
Darth Vader – Rogue One: Uma História Star Wars
Lord Vader (voz de James Earl Jones) aparece pouco em Rogue One, mas é o suficiente para mostrar porque era tão temido pela Aliança Rebelde na trilogia clássica. A atuação do vilão no terceiro ato do longa é arrepiante e deixa os espectadores sem conseguirem piscar os olhos. É incrível como, mesmo sabendo o que acontece, ficamos na beira da cadeira roendo as unhas e com uma tremenda dúvida se torcemos pelo vilão ou pelos mocinhos. Acredite em quem diz que nunca vimos o personagem na sua melhor forma. Rogue One deixa isso bem claro e nos presenteia com o melhor vilão de 2016 nos cinemas. (TD)
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