Tivemos muitos, mas muitos filmes bons entre 2010 e 2019. Tão bons, que foi extremamente difícil fazer uma lista com os dez melhores. Não é justo. Tentamos compensar o problema com uma segunda lista, com nossas menções honrosas, e uma terceira, com as opiniões de nossos colaboradores.
ENFIM, EIS O RANKING DE MELHORES FILMES DOS ÚLTIMOS DEZ ANOS.
Aprecie sem moderação e deixe seu comentário!
#10
Corra! (Get Out, Jordan Peele, 2017)
Transformando situações delicadas em pérolas absurdas de humor negro, Corra! deixa seu público angustiado. Quando Chris pergunta se os pais de Rose sabem que ele é negro, é num tom que deixa claro que ele sabe do risco que está disposto a correr e convida o espectador a compartilhar seu medo. Mesmo quando o alívio cômico (funcional) LilRel Howery não está em cena, existem situações que nos fazem rir (como a tia assediando Chris e querendo saber da sua potência sexual) ou nos incomodam profundamente (como a sequência em que um personagem negro aparece vestido de um jeito muito formal e agindo como se fosse um robô).
Mesmo sem a qualidade técnica e força moral de O Nascimento de Uma Nação, Corra! compensa suas deficiências com um roteiro irônico e ácido que joga na cara de todos o problema de uma sociedade racista. Sem a menor cerimônia, Peele aponta a dificuldade dos brancos em aceitar o que é diferente e os seus desejos mais íntimos quando se trata de lidar com negros (Tullio Dias).
Recomendado para quem gosta de: seitas, comédias involuntárias, terror, suspense, formas inusitadas do cinema combater o racismo.
#09
Parasita (Gisaengchung, Bong Joon Ho, 2019) é um filme que nos cutuca onde muitos não gostariam de ser cutucados, seja porque estão confortáveis do jeito que estão, seja porque preferem ignorar um dos principais problemas do mundo de hoje: a desigualdade social. Bong nos far rir, nos emocionar e nos choca, ao englobar uma variedade de gêneros dentro de um só roteiro, os quais convergem para um único lugar. E esse lugar é o que fez a produção sul-coreana vencer a Palma de Ouro e se tornar uma das principais candidatas ao Oscar 2020. Por mais que muitos atores não queiram mudar a situação da pobreza e da concentração de renda, os artistas estão aqui justamente para não deixar as pessoas se esquecerem disso. Parasita é uma obra imperdível, que nos dá um soco no estômago. Um soco extremamente necessário (Dani Pacheco).
Recomendado para quem gosta de: cineastas que saem da zona de conforto, direções originais, acordar pra vida real.
#08
Amor (Amour, Michael Haneke, 2012) é um filme silencioso, direto, seco (os últimos 20 minutos são de uma angústia sem tamanho). Toda a atmosfera se volta para que a sensação de prisão, impotência e desespero vivida pelos personagens seja também experimentada por nós. À medida que o filme decorre a fragilidade de todos se torna determinante e insuportável. Imagens que trazem incômodo da maneira mais sutil e poderosa, sem alardes, apenas através de um confronto direto com a realidade. Chegam ao fim os dias, o domínio das faculdades físicas e psicológicas, mas o amor se mantém, até que ele se choca com a sanidade (outro fator sempre discutido no cinema de Haneke). Não é um filme de lágrimas, mesmo que estas apareçam em um ou outro momento. É um filme de inquietações e de intenso comprometimento com os personagens que vemos em cena. Outra obra prima do diretor austríaco (João)
Recomendado para quem gosta de: DRAMA.
#07
Hereditário (Hereditary, Ari Aster, 2018)
O roteiro trabalha muito bem a construção dos personagens. A primeira parte do filme é até bem dramática, focando na forma como a família lida com o luto. Cheguei até a cogitar ser um terror leve, mas, felizmente, eu estava enganado: essa construção foi apenas uma preparação para o que viria a seguir, um terrorzão pesado que me fez se contorcer na cadeira do cinema. Herditário não é um filme inovador, na verdade, ele até possui a maioria dos elementos dos filmes do gênero, porém, ele se beneficia de um bom roteiro, de uma qualidade estética e de boas atuações, principalmente de Toni Collette, ótima atriz conhecida por seus papeis em O Casamento de Muriel, Pequena Miss Sunshine e O Sexto Sentido, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante (Marcelo Palermo).
Recomendado para quem gosta de: terror, bizarrices, bruxas, sangue.
#06
Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need To Talk About Kevin, Lynne Ramsay, 2011)
Acho que a melhor palavra que caracteriza esse filme é intenso. A relação entre mãe e filho é próxima e distante ao mesmo tempo. Como se o tempo todo o filho quisesse chamar a atenção da mãe e a mãe do filho. O que não é difícil, tendo essa cara de psicopata. Quando o filme chega as últimos momentos, você sente todo o sofrimento que o filho causou a mãe e começa a entender toda angustia e recriminação que ela sofre em conseqüência dos atos do filho. Tilda Swinton está sensacional no papel, com direito a aparentar mais acabada com o decorrer do filme, e o jovem Ezra Miller promete excelentes filmes pela frente. Assista se puderem, mas se preparem. Como eu disse, o filme é intenso (Wendel).
Recomendado para quem gosta de: suspense, ocultismo, fanatismo religioso, seitas, jantar com ex-namoradas