Os Melhores Filmes do primeiro semestre de 2020. A pandemia COVID-19 fechou os cinemas e interrompeu a agenda de lançamentos no mundo todo. Apesar disso, nossa equipe separou uma lista especial, com as melhores produções lançadas em 2020, até agora. Tem filme do Oscar, de streaming , e aqueles que tiveram a sorte de chegar às salas antes do vírus se espalhar. Confira e deixe o seu comentário!
#1 Jojo Rabbit
Quando parecia que o cinema havia esgotado todas as formas de falar sobre a Segunda Guerra Mundial, surge o cineasta Taika Waititi com uma verdadeira joia chamada Jojo Rabbit combinando todo humor, sensibilidade e inocência necessários para se tornar imperdível. E inesquecível.
Jojo (o pequeno Roman Griffin Davis) é uma criança nazista. Seu grande sonho é virar guarda pessoal do furher em pessoa. Então, como qualquer outro menino da sua idade, ele apela para a sua imaginação para conseguir realizar seu sonho. Apesar do diretor, desde o começo, deixar claro que sua história zela pela sátira do comportamento dos nazistas, o protagonista é uma “vítima” da propaganda. Ele acredita em todas as mentiras contadas pelos nazistas, que tanto admira, e por isso mesmo, não questiona quando dizem que os judeus são monstros devoradores de almas. Sua admiração por Adolf Hitler é tamanha, que ele passa até mesmo a imaginá-lo ao seu lado em vários momentos.
O roteiro é recheado de ironias e cria personagens fantásticos. Aliás, foi o único filme de 2019 capaz de arrancar tantas risadas e lágrimas, e por isso mesmo, se torna desde já, um dos meus lançamentos (tardios) favoritos desse ano. Waititi consegue a proeza de transformar uma narrativa sobre a Segunda Guerra Mundial em algo engraçado através da perspectiva fantástica de uma criança tentando dar voz e rosto para sua carência afetiva. E isso é especial demais para a gente ignorar. Que filme (Tullio Dias).
#2 Destacamento Blood
Spike Lee fez um daqueles filmes que certamente serão bastante citados em Listas de Melhores Filmes de 2020 no final do ano (e bem provavelmente desse final de década). Em Destacamento Blood, o diretor apresenta o reencontro de quatro amigos que combateram juntos no fiasco norte-americano invadindo o Vietnã. Enquanto vamos sabendo um pouco do passado desses caras, somos surpreendidos com seu presente: observar como os ideais e formas de lidar com o mundo se modificaram é um choque.
Lançado na época em que os norte-americanos foram às ruas para se manifestarem contra o racismo e truculência da polícia, Destacamento Blood chama atenção como uma obra política indispensável para o nosso mundo (Tullio Dias).
Disponível na Netflix.
#3 O Homem Invisível
Dadas as devidas proporções – Leigh Whannell dirige um drama e um terror, simultaneamente -, o roteiro nos mostra todas as características de uma pessoa que é vítima de um relacionamento abusivo. Cecilia (Elisabeth Moss) se sente constantemente atormentada, com medo, insegura, incapaz e louca. Tudo isso alimenta o homem que a faz se sentir dessa forma, motivando-o cada vez mais. Mesmo com o apoio de amigos e familiares, existem aqueles que não acreditam no que ela diz (quando diz, pois muitas vítimas sofrem sozinhas) ou dizem que está exagerando.
Por isso que O Homem Invisível não é uma obra somente para fãs do gênero terror (sustos, ambientes escuros, trilha sonora arrepiante e objetos caindo, sem ninguém em volta, estão todos lá). O enredo em si é o que, de fato, importa. Importa porque o planeta está cheio de Adrian’s (Oliver Jackson-Cohen) e nem todos eles são punidos pelo que fazem. Aliás, muitos passam de vítima para vítima, caso a primeira consiga sair da relação doentia. Cecilia, por sua vez, é uma vítima fortemente abalada e quase prestes a desistir, mas que faz de tudo para tentar se livrar do abusador; até quando todos estão contra ela. Filme bastante importante, especialmente nesta era do Me Too.
#4 Os Miseráveis
Dirigido por Ladj Ly, o enredo se passa no subúrbio de Paris, na comuna de Montfermeil. É lá que a clássica obra de Victor Hugo foi, em parte, ambientada. No filme, acompanhamos o policial Ruiz (Damien Bonnard), que se junta a uma brigada policial e começa a trabalhar ao lado de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djebril Zonga). O roteiro todo acompanha dois dias nas vidas desses personagens, suficientes para o novato perceber que entrou numa fria. A crítica social em questão é mostrar como o sistema não contribui para resolver o problema grave da criminalidade e da violência. Em outras palavras, a vontade das autoridades é de deixar o sistema do jeitinho que tá: manter a pobreza e a desigualdade, agredir os bandidos que são fruto disso – especialmente os negros -, esses bandidos agridem de volta e é uma guerra que não acaba mais (Dani Pacheco).
#5 Joias Brutas
Adam Sandler interpreta um vendedor de joias judeu, viciado em apostas. E é o que você precisa saber sobre a sinopse. Os irmãos Benny e Josh Safdie repetem toda a dose de adrenalina vista em seu longa anterior, Bom Comportamento. É impressionante a capacidade que ambos têm de transmitir a insanidade das situações absurdas que seus personagens vivem, de maneira realista e fluida no cinema. Não é para qualquer um.
Joias Brutas retrata uma sociedade viciada em dinheiro, tema sério que pode ser discutido e analisado de várias formas. Porém, é também e, principalmente, um puta filme de ação e entretenimento puro, como não se via há muito tempo. riz!). O grande destaque aqui vai para a impecável interpretação de Sandler (Marcelo Palermo).
Disponível na Netflix.
#6 Mystify
Mystify é tudo aquilo que os documentários sobre artistas musicais costumam ser: falam menos da obra, falam muito do lado pessoal. A verdade é que conhecer a pessoa por trás da obra é fundamental para entender melhor o porquê de uma canção ou outra, as rupturas etc.
No caso, conhecer um pouco mais da vida de Michael Hutchence, falecido vocalista do INXS é uma experiência tanto melancólica quanto prazerosa. E nem precisa ser fã da banda para apreciar (Tullio Dias).
Disponível na Netflix.
#7 Never Rarely Sometimes Always
Autumn (Sidney Flanigan) é uma adolescente de 17 anos, que mora na Pensilvânia e descobre que está grávida. Com a ajuda de Skylar (Talia Ryder), sua prima e também companheira de trabalho em um supermercado, elas vão juntas à Nova York, em busca de ajuda médica para interromper a gravidez indesejada.
Trata-se do terceiro filme da diretora Eliza Hittman, que demonstra uma habilidade gigantesca em retratar com realismo os anseios da adolescência. Outra característica da diretora é que ela aborda temas sensíveis de uma maneira muito crua, dessa vez sobre o aborto. Aos poucos, vamos entendendo como funciona tal questão nos Estados Unidos, desde leis diferentes por estado, até o atendimento clínico. No entanto, o tema não é maior do que a protagonista. Autumn é o centro de tudo e a atriz novata Sidney Flanigan tem uma performance introspectiva, muito condizente com todas as experiências ruins que a personagem viveu – também por ser uma forma de como adolescentes em geral se expressam.
Never Rarely Sometimes Always ganhou, em 2020, o grande prêmio do júri do Festival de Sundance e do Festival de Berlim.
#8 Um Crime Para Dois
Um Crime Para Dois é aquele tipo de filme que ninguém dá nada. Parece uma típica comédia romântica esquecível e sem graça, mas…às vezes comédias românticas podem ter muita graça – como é o caso. Somos apresentados a um casal passando por uma crise e lidando com eventos MUITO improváveis e hilários.
A produção é estrelada por Issa Rae e Kumail Nanjiani, ambos com uma excelente química e convincentes em seus papéis (Tullio Dias).
Disponível na Netflix.
#9 Ninguém Sabe que eu Estou Aqui
Ninguém Sabe Que eu Estou Aqui pode ser considerado o filme “surpresa” da nossa lista. Afinal, não é nada badalado e ficou perdido no mar de obscenidades cinematográficas (no mau sentido) do catálogo da Netflix.
A obra sensível retrata um caso sério de preconceito, e de como é a frieza do mundo do showbiz. O protagonista, Memo (Jorge Garcia) vive isolado do convívio na cidade, escondendo um segredo: quando criança, ele era um talentoso cantor, cuja aparência o prejudicou na busca pela realização dos seus sonhos (Tullio Dias).
Disponível AQUI.
#10 Maria e João
Esqueça a parte em que existe uma casa feita de comida, uma estradinha de comida e duas crianças esfomeadas ficando “recheadas” para uma bruxa canibal (bem, talvez essa parte você não precisa esquecer). Desta vez estamos diante um caso de amadurecimento de uma adolescente com a imensa responsabilidade ser mãe e pai do seu pequeno irmão. E esse ponto torna Maria e João: Um Conto das Bruxas diferenciado.
Começando pelo título, que coloca a irmã em destaque, a obra mostra uma personagem forçada a amadurecer antes da hora. A morte do pai e a loucura da mãe, obrigam Maria a assumir os cuidados do pequeno João, um catatau que vive com fome o tempo inteiro. Impossível não se lembrar imediatamente do recente A Bruxa (2015). Em comum, existe um clima chamado de “horror folk”, uma fotografia cinzenta e sem vida, e uma protagonista feminina buscando o seu lugar. Se não fossem as infelizes tentativas de incluir momentos de jump scare, Maria e João poderia ser um filho perfeito do hit de cinco anos atrás (Tullio Dias).
MENÇÃO HONROSA
O Resgate
O Resgate é uma obra feita sob medida para fãs de boas produções de ação. No oceano de tiro, porrada e bombas (cinematográficas) que costuma ser esse gênero, é sempre bom quando somos surpreendidos com produções ousadas, que usam recursos técnicos para compensar a falta de um roteiro complexo.
Existe um belo plano sequência eletrizante, em que somos bombardeados com muita ação e temos os velhos conflitos para estabelecer a dinâmica entre os protagonistas, além do endeusamento do herói brucutu da vez. E tudo isso é o suficiente para tornar o filme indispensável para fãs de ação (Tullio Dias).
Disponível na Netflix.
Uma Vida Oculta
Em “Uma Vida Oculta” (A Hidden Life, 2019), Terrence Malick conta a história real de Franz Jägerstätter, um austríaco que se opôs ao regime fascista alemão. É uma jornada longa, pesada e comovente sobre a escolha dolorosa de um homem e as consequências dela em sua vida. Tecnicamente, é aquilo que se espera do cineasta americano: roteiro improvisado, fotografia de tirar o fôlego e narrativa densa. Além de contar sobre o opositor de Hitler, Uma Vida Oculta é um longa que nos faz refletir sobre uma série de coisas. É difícil não se colocar no lugar do protagonista e pensar se faria o mesmo que ele. Muitos seguiram o mesmo caminho, enquanto outros escolheram se curvar ao líder nazista, seja por pensarem da mesma forma, seja por medo de morrer.
Independente de gostar ou não do estilo de Malick, trata-se de um filme que merece o nosso tempo. É mais uma história de guerra no cinema, sim, mas é narrada de uma maneira que nos toca em níveis extremos. Seja visualmente ou por meio dos diálogos reflexivos trocados entre os personagens, a produção mexerá com você de alguma forma (Dani Pacheco).