O Alex Gonçalves, do Cine Resenhas, está aqui para compartilhar com a gente todos os filmes assistidos no mês de julho.
233 – Sweetie: curioso como Jane Campion propõe uma comédia de excentricidades para depois trazer a rivalidade de protagonismo entre duas irmã. As resoluções inesperadamente dramáticas só elevam as qualidades do filme, o melhor da diretora antes de estourar com “O Piano”.
234 – A Vingança Está na Moda: a espera de quase 20 anos por um novo filme da australiana Jocelyn Moorhouse valeu a pena. Impressionante especialmente por se propor a sair de uma zona de conforto, com uma meia hora final cheia de acontecimentos que irão decepcionar muita gente.
235 – Eu, Você e a Garota que Vai Morrer: Alfonso Gomez-Rejon faz bom uso do texto de Jesse Andrews para criar uma parábola juvenil muitas vezes influenciada pela estética de Wes Anderson. Pena que seja excessivamente hipster.
236 – Suíte Francesa: poderia ser mais uma mera romantização de um período trágico da história mundial, mas Saul Dibb volta a reunir as delicadezas que deram certo em A Duquesa para um novo registro sobre opostos que a princípio se repelem e aos poucos se atraem.
237 – Um Anjo em Minha Mesa: Jane Campion transforma a vida de Janet Frame em uma verdadeira jornada cinematográfica e Kerry Fox abraça esse papel singular com uma vontade comovente. Faltou a inclusão de uma solução que fundisse o cinema com a literatura com maior incisão.
238 – O Outro Lado de Beverly Hills: a estreia de Tamara Jenkins (A Família Savage) na direção de um longa tem o seu diferencial na dinâmica que organiza de uma família nômade totalmente disfuncional.
239 – Demolition: em sua peregrinação para se tornar um ator de renome, Jake Gyllenhaal entrega o protagonista mais insuportável como há muito não se via. Os 10 minutos finais buscam uma justificativa para o seu luto incomum, mas só agravam a situação.
240 – Filhos do Silêncio: um filme de caráter inclusivo ainda extremamente importante e que encontra a beleza ao delimitar as fronteiras entre o verbal e o não dito. Marlee Matlin está bárbara.
241 – Cléo das 5 às 7: contribuição de Agnès Varda à Nouvelle Vague, Cléo das 5 às 7 tem o teor existencialista recorrente na vanguarda, podendo seduzir ou distanciar especialmente por uma resolução banal para o drama interno vivido pela protagonista.
242 – Bom Trabalho: a obra mais celebrada de Claire Denis tem aquela sua sutileza de um coice que todos nós já conhecemos. O velho caso de ame-o ou deixe-o, ainda que a conclusão ao som de “Rhythm Of The Night” consiga radiografar em cima da hora o interior turbulento de Denis Lavant.
243 – As Pequenas Margaridas: Věra Chytilová tece uma radiografia cômica evidente de sua Tchecoslováquia sessentista, mas a infantilidade excessiva de suas protagonistas devem afastar muitos curiosos.
244 – O Rapaz que Fazia Corações: a comédia de Elaine May que deu origem a Antes Só do Que Mal Casado nada tem de vulgar, oferecendo um tratamento maduro para o que sugeria ser inicialmente uma comédia de risos fáceis sobre relacionamentos.
245 – Um Divã em Nova York: Chantal Akerman se dá muito mal ao fazer o único filme descopromissado de sua carreira, transformando-se em uma Nora Ephron inferior.
246 – As Noites de Rose: incrível a atualidade do filme de Martha Coolidge, ainda que realizado em 1991 e ambientado na década de 1930. O monólogo de defesa de Diane Ladd à independência da protagonista de Laura Dern é comovente.
247 – Lavagem a Seco: Anne Fontaine é uma das poucas cineastas a explorar tão bem o desejo em sair de nossa zona de conforto enclausurado em cada um de nós. A conclusão é arrebatadora.
248 – Eu, Você e Todos Nós: Miranda July usa a estrutura do filme-coral para encontrar o tom apropriado de excentricidade tão característico em sua obra como artista multimídia, mostrando uma percepção singular sobre as pequenas coisas da vida.
249 – A Prova: obra-prima de Jocelyn Moorhouse, um jogo que nos deixa na condição do protagonista cego vivido por Hugo Weaving ao nos fazer ter uma leitura incompleta de cada interação. O trio central de intérpretes é fenomenal.
250 – Orlando – A Mulher Imortal: Sally Potter entrega uma adaptação perspicaz da obra literária de Virginia Woolf, enriquecendo a sua personagem central ao fazê-la transcender durante os séculos ao mesmo tempo em que reflete a posição da mulher na sociedade.
251 – Para Minha Irmã: impressionante como as ideologias dementes de Catherine Breillat ganham respaldo de um número expressivo de críticos e espectadores. Nunca se viu uma tese tão repulsiva e involuntariamente cômica sobre o estupro.
252 – O Triunfo da Vontade: monumento de Leni Riefenstahl, o documentário é item obrigatório no estudo sobre a linguagem do cinema por seu preciosismo técnico, ainda que sua opulência esteja a serviço dos discursos de um dos líderes mais repulsivos da história.
253 – Born in Flames: essa realização nada usual de Lizzie Borden parece ganhar com o passar do tempo novos adeptos, especialmente pela força de seu discurso feminista. A conclusão num atentado às Torres Gêmeas – o filme é de 1983 – é emblemática.
254 – Vida de Menina: o filme nacional mais gracioso dos últimos 13 anos, com uma Ludmila Dayer irresistível nas suas travessuras em um período que infelizmente não volta mais. A vontade em procurar a literatura de Helena Morley é imediata.
255 – As Quatro Irmãs: mesmo importante para uma revolução do cinema australiano em fecundação, esse não é um grande filme de Gillian Armstrong, ainda que a luta de uma mulher pela sua liberdade como escritora tenha ressonância.
256 – Encontro de Irmãs: em seu segundo filme, Nicole Holofcener ainda não dá conta dos conflitos que cria, concluindo o roteiro com o sensação amarga de que nem todas as pontas foram conectadas. Já a sua habilidade em elaborar interações críveis está em seu esplendor aqui.
257 – Jeanne Dielman, 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles: o estudo de Chantal Akerman sobre a banalidade do cotidiano custa ao espectador mais de três horas, mas precisará de menos para se constatar que funciona mais como tese do que como um exercício prático.
258 – Filhos da Guerra: extremamente original a visão de Agnieszka Holland sobre os dilemas de se sobreviver a uma guerra incorporando o papel do inimigo, trazendo dano ao “símbolo” que define não somente a masculinidade de seu protagonista, como as suas origens.
259 – Sem Teto Nem Lei: mais uma obra superestimada de Agnès Varda, que pouco oferece em sua visão sobre a perda paulatina da humanidade de uma protagonista à margem da sociedade.
260 – Entre Idas e Vindas: de longe o melhor filme de José Eduardo Belmonte desde que ingressou em um cinema mais popular. Os personagens são divertidos e carismáticos.
261 – Julieta: quarto tropeço consecutivo de Pedro Almodóvar. Mesmo com uma grande protagonista (além de duas atrizes soberbas para interpretá-la), fazer mistério tendo como base os contos da Alice Munro não foi uma escolha sábia.
262 – Mãe Só Há Uma: é o primeiro filme de Anna Muylaert em que os personagens e os seus conflitos particulares não nos acompanham após os créditos finais, mesmo não se furtando de entregar grandes momentos.
263 – A Lenda de Tarzan: há o esforço de oferecer algo de novo com a estratégia de dar continuidade ao que já está consagrado, mas não é preciso muito tempo para sacar que a falta de assunto é o que costuma pautar a direção de David Yates.
264 – Os Caça-Fantasmas: a aventura sobrenatural de Ivan Reitman não envelheceu nem um pouco, com uma série de elementos narrativos e visuais ainda trazendo aquele charme único da produção oitentista americana.
265 – Caça-Fantasmas: um filme muito acima de todo o machismo de sua recepção, com Paul Feig outra vez entregando aquela comédia terna cheia de boas sacadas que só ele produz hoje. Os efeitos visuais são deslumbrantes como há muito não se via.
266 – O Retorno da Maldição: A Mãe das Lágrimas: a aguardada conclusão da trilogia iniciada com Suspiria e continuada com A Mansão do Inferno representa um ponto de decadência na filmografia de Dario Argento, hoje dado a um desleixo que só o afasta dos momentos mais gloriosos de sua carreira como mestre do terror.
267 – Phenomena: os altos e baixos de Dario Argento são bem claros nessa produção. De um lado, um tratamento quase poético do terror. Por outro, o desapego a uma coerência necessária até mesmo em produções com traços fantásticos. O uso comercial de músicas de grandes grupos de rock também compromete a fluência de algumas cenas.
268 – Café Society: após um primeiro ato que promete distribuir um sem número de farpas à velha Hollywood, Woody Allen passa a se contentar com o triângulo amoroso que arma. A fotografia de Vittorio Storaro eleva tudo a um outro patamar.
269 – Florence – Quem é Essa Mulher?: um filme que de algum modo nos faz ficar em alerta quanto a nossa perversidade no julgamento do que não é naturalmente sofisticado. O público continuará apaixonado por Meryl Streep, mas o êxito do filme se deve a Hugh Grant.
270 – Ata-me!: filme ok de Almodóvar, levando uma premissa pautada na síndrome de Estocolmo para uma resolução convencional e esquecível.
271 – Um Vulto na Escuridão: adaptação por vezes patética da icônica novela de Gaston Leroux, representando o exato momento em que Dario Argento tropeça em um campo desleixado e preguiçoso que jamais se recuperaria.
272 – Best Worst Movie: documentário terno sobre o depois de todos os envolvidos na produção de Troll 2, considerado um dos piores filmes já concebidos e hoje um trash amado por uma enorme região. A glória no fracasso.
273 – O Pássaro das Plumas de Cristal: estreia de tirar o fôlego de Dario Argento, com uma riqueza de composição que confirma o terror como o gênero em que um realizador exercita como em nenhum outro a sua criatividade.
274 – A Sombra de Uma Dúvida: filme favorito de Alfred Hitchcock, a tensão é garantida por trazer uma premissa bem cara ao cineasta: o combate de um mal para a integridade de uma reputação.
275 – Em Busca de Justiça: mais uma produção tumultuada com problemas bem evidentes no resultado que nos é entregue. A meia hora final salva o faroeste do caos total.
276 – Gretchen Filme Estrada: um documentário que não somente comprova a desilusão que cerca o nosso cenário político, como trás a figura pública mais satirizada em nossos tempos que encanta justamente por sua autenticidade.
277 – Tenebre: um dos grandes filmes de Dario Argento, trazendo tudo o que transformou o giallo em um grande estilo dentro da cinematografia italiana de horror. A violência é elevada ao estado de arte.