9- O Informante (The Insider, Michael Mann, 1999)
“Michael Mann sempre foi um cineasta habilidoso ao nos inserir dentro de ambientes caóticos, tensos e de perigo constante. Tudo parece amedrontador em sua narrativa. A sua batalha em O Informante, entretanto, é outra: a da informação. A ameaça? A indústria do Tabaco. Partindo do ponto de vista de Lowell Bergman, o decidido produtor do famoso programa 60 minutes, cada cartada para trazer a matéria ao ar é de uma lógica singular, fazendo com que sempre temamos o destino de uma história que é tida como perigosa pela própria CBS, a qual, em primeiro instante, recusa-se a divulgá-la. Não apenas o registro de um preciosismo racional intrigante, principalmente no que mede a pauta, as grandes corporações e o processo jurídico de uma denúncia, cuja natureza desperta tensão em todas as partes envolvidas; mas uma obra que contempla a importância de uma fonte”. (Andrey Lehnemann)
8 – Zodíaco (Zodiac, David Fincher, 2007)
“No melhor roteiro de sua carreira, James Vanderbilt nos coloca um pouco mais a par sobre esse fascínio que move o jornalista pela descoberta da verdade, esse profissional que não consegue descansar a sua mente devido a enxurrada de informações que chegam até ele, e sua curiosidade em destrinchar cada uma delas. O caso em questão foi Zodiac, mas poderia ter sido qualquer outro e ter relatado da mesma forma a dura saga que é a vida de um jornalista investigativo. Em um de seus thrillers mais subestimados, David Fincher foi novamente ostracizado devido ao tom soturno e complexo de sua de sua direção, ao levar para o cinema um Jake Gyllenhaal equilibrado, porém extremamente aprofundado na alma de medos e incertezas de Robert Graysmith”. (Jairo Souza)
“Paul Avery (Robert Downey Jr.) tinha boas fontes e um faro treinado para investigações, o que era bem útil para seu trabalho como repórter policial do San Francisco Chronicle. Mas nem mesmo ele ficou imune ao assassino em série Zodíaco, que aterrorizou a região no fim dos anos 60. Z gostava da atenção – tanto que exigia a publicação de suas cartas e charadas que indicariam sua verdadeira identidade. O jornalista interpretado por Robert Downey Jr. foi um dos personagens envolvidos pela trama do assassino, uma investigação que fisgou também o detetive David Toschi (Mark Ruffalo) e principalmente o cartunista do Chornicle, Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal), cujo trabalho paralelo ao da polícia pode ter rendido a melhor conclusão possível para um caso antigo, que deixou poucos sobreviventes e pistas frias”. (Nathália Pandeló)
7- O Abutre (Nightcrawler, Dan Gilroy, 2014)
“Se nós somos um produto do nosso tempo, também é o nosso jornalismo. Louis Bloom sabe se aproveitar disso, usando a nossa sede por informação rápida e, muitas vezes, sangrenta, para subir na vida. Ele se define como um empreendedor, mas Louis é uma antítese no próprio nome, um misto de luz e trevas que faz dele um personagem intrigante e impossível de parar de assistir. Ele descobre uma oportunidade de ganhar dinheiro vendendo imagens de acidentes e crimes para canais de TV, e se embrenha noite adentro para captar momentos de agonia e terror que serão exibidos na sala de pessoas como eu e você, tomando seu café da manhã ou se preparando para dormir. Interpretado de forma intensa por Jake Gyllenhaal, Louis é um reflexo da nossa curiosidade mórbida, da nossa vontade de olhar só mais um pouquinho. Talvez por isso O Abutre não seja um filme para julgar a imprensa que temos hoje, mas uma forma de reflexão sobre a forma como consumimos e produzimos informação e até onde podemos chegar com câmeras e microfones”. (Nathália Pandeló)
6- Boa Noite e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck, George Clooney, 2005)
“Um dos momentos mais espetaculares já proporcionados pelo jornalismo televisivo nos Estados Unidos foi gerado pelo discurso de Edward Murrow sobre o medo proporcionado pelo Macarthismo: “O problema, caro Brutus, não está nas estrelas; mas em nós”. A linha entre perseguição e investigação é tênue, segundo o jornalista, e o senador de Wisconsin havia a ultrapassado. Numa calorosa e apaixonada defesa pela liberdade, George Clooney dirige uma das maiores obras jornalísticas já registradas – ao explorar a luta humana pela democracia, cujo maior adversário seria a mão gigantesca de um Estado coberto pela sombra do medo”. (Andrey Lehnemann)
“George Clooney se aventura na direção deste belo filme, o segundo de sua carreira por trás das câmeras. Robert Elswit, diretor de fotografia, aproxima as cenas das imagens de arquivo utilizadas sempre que o senador Joseph McCarthy aparece. O filme trata do embate entre o jornalista Edward R. Morrow, apresentador da rede de TV CBS (que terminava seus programas desejando ‘boa noite e boa sorte’ aos espectadores), e o senador McCarthy, que iniciava sua política de caça às bruxas, em combate ao comunismo. Além do que já se conhece da história, é interessante notar, no filme, como a intimidação da imprensa se dá, e como um jornalismo responsável pode realmente informar. Morrow desnuda as mentiras e manipulações de McCarthy e oferece espaço em seu programa para que o senador responda às acusações, mas a intimidação é o caminho escolhido. Táticas de manipulação, relação tensa entre política e imprensa, uso da câmera como arma não ficaram restritos na década de 1950: ainda hoje podemos ver tudo isso e muito mais”. (Aline Monteiro)
5- Rede de Intrigas (Network, Sidney Lumet, 1976)
“Aos desavisados que assistem Rede de Intrigas só cabem duas reações: rejeitar eternamente a hipótese de ingressar nessa profissão ingrata que vira cenário de situações absurdas; ou então render-se de uma vez por todas ao inevitável: por mais que o jornalismo tenha uma inegável faceta obscura, em que flerta descaradamente com a publicidade e o entretenimento, talvez seja melhor acompanhar o barraco exatamente onde ele acontece: do lado de dentro. Rede de Intrigas é uma caricatura: dificilmente você verá na vida real um âncora de telejornal sério que anuncie o próprio suicídio ao vivo como acontece com Howard Beale. Mas o que vem depois – gente poderosa sem escrúpulo tentando tirar proveito da situação em nome do dinheiro – é muito comum nos grandes veículos. Talvez seja ainda mais comum agora que uma crise assola os modelos de negócio que antes mantinham os cofres cheios. Qualquer coisa que dê audiência, venda revista ou jornal está valendo. Além de ser despretensiosamente atemporal (o roteirista Paddy Chayefsky jamais poderia prever que a internet derrubaria o forninho dos magnatas da comunicação no século seguinte), Rede de Intrigas tem um elenco tão incrível e uns diálogos tão fenomenais que até as cenas mais absurdas descem pela garganta sem fazer estrago”. (Otavio Oliveira)
“A crise financeira do jornalismo pode ser razoavelmente recente, mas se você acha que a crise moral é coisa nova, pense de novo. Na década de 70, o magistral Sidney Lumet nos conduz pela história de Howard Beale (Peter Finch), um âncora de telejornal que promete cometer suicídio em frente às câmeras. A partir de então, os executivos da emissora, especialmente uma inescrupulosa Faye Dunaway, utilizam vidas, sentimentos, grupos sociais e até sexo para alçar pontos no ibope e a carreira de Beale do inferno ao céu. O resultado do thriller (quase terror) é um envolvente soco no estômago. O elenco é tão sensacional que cinco atores foram indicados ao Oscar, com três vencendo (Beale, Dunaway e Beatrice Straight), assim como o brilhante roteiro de Paddy Chayefsky”. (Larissa Padron)
4- Todos os Homens do Presidente (All the President’s Men, Alan J. Pakula, 1976)
“Tudo começou com uma dúvida, uma informação desencontrada, uma pulga atrás da orelha. O faro jornalístico de Bob Woodward e Carl Bernstein, repórteres do Washington Post, levou a um dos maiores escândalos políticos da história dos Estados Unidos e culminou na queda de Richard Nixon. Embora Todos Os Homens do Presidente passe por muitos cenários de poder da capital americana, este não é um filme (apenas) sobre política, mas sim uma busca implacável por respostas, uma parceria marcante entre fonte e repórter e sobre a imprensa exercendo o seu dever de informar sem desviar o olhar do que for menos conveniente – o que não deixa de ser também uma forma de poder. Todos Os Homens Do Presidente é um retrato de uma época em que as redações não sofriam cortes consideráveis de pessoal e, ao mesmo tempo, uma idealização do fazer jornalístico que nunca vai mudar: a vontade de levar fatos apurados, checados e interpretados ao maior número de pessoas, informando e transformando a sociedade”. (Nathália Pandeló)
“Dificilmente, um filme sobre a juventude jornalística e a luta contra um sistema obterá um resultado tão gigante quanto Todos os Homens do Presidente, filme dirigido por Alan J. Pakula pouco depois da renúncia do Presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon. Num equilíbrio entre pragmatismo e entusiasmo, retratados por Carl Bernstein e Bob Woodward, o longa-metragem nunca se descuida em fornecer as provas de como os jornalistas chegaram a cada conclusão, fazendo com que acompanhemos todo o processo de investigação. Desde cenas como Bernstein num banheiro de uma informante, escrevendo tudo o que consegue lembrar da conversa num papel higiênico, aos encontros instigantes com o Garganta Profunda, nas sombras de um estacionamento, a obra de Pakula permanece atemporal por servir como um retrato perfeito entre paixão, verdade e informação”. (Andrey Lehnemann)
3- Quase Famosos (Almost Famous, Cameron Crowe, 2000)
“Quem não quer a vida de William Miller? Ainda adolescente, o cara é chamado para acompanhar a turnê de uma banda em ascensão, conviver diariamente com potenciais ídolos do rock e com moças maravilhosas que antes habitavam apenas os seus sonhos. Mas a graça de Quase Famosos vai além da relação delicada e transcendental de William e Penny Lane, ou das excentricidades de rockstar de Russell Hammond. Quando os integrantes da banda Stillwater descobrem que um menino jornalista vai segui-los bem de perto numa roadtrip, o rapaz logo recebe o apelido de ‘o inimigo’. É que George Orwell tinha razão: jornalismo serve para publicar o que ninguém quer que seja publicado. E manter o inimigo por perto pode até ser uma boa estratégia de guerra, mas é um pé no saco quando você é um personagem controverso querendo acontecer. O filme mais cool de Cameron Crowe, que tem inspirações óbvias na realidade do próprio cineasta, fala de um dilema comum para os profissionais que cobrem cultura: o conflito entre o jornalista-fã e o jornalista-repórter. É uma aula de jornalismo tão valiosa quanto o tour pelos bastidores da grande mídia de outros clássicos que tratam da profissão. Mas o clima é tão leve, a trilha tão apaixonante, e o amadurecimento do protagonista tão natural, que você nem percebe que aprendeu as mesmas lições que William. Ao final, é difícil pensar diferente: você também quer ser o inimigo”. (Otavio Oliveira)
“Confesso que sempre ignorei o fato de que Quase Famosos é uma obra voltada para o jornalismo musical. Era tão óbvio que nunca percebi. Para mim sempre foi uma declaração de amor para a música com a figura do repórter musical, das bandas, dos baixos e das groupies, claro. De qualquer maneira, Cameron Crowe escreveu e dirigiu uma espécie de biografia da própria experiência na época em que trabalhava para a Rolling Stone. Ao longo da produção acompanhamos situações bizarras que podem acontecer com qualquer profissional de comunicação que se aventurar a fazer uma cobertura com uma banda. Todos os excessos, as loucuras, as festas e as brigas, tudo isso faz parte da história de qualquer projeto musical. A grande diferença é que em Quase Famosos, o amor pela música e pelas palavras fala bem mais alto do que qualquer pauta de redação”. (Tullio Dias)
2– A Montanha dos Sete Abutres (Ace in The Hole, Billy Wilder, 1951)
“A dupla Billy Wilder e Kirk Douglas nos apresentaram em 1951, com excesso de humor ácido, A Montanha dos Sete Abutres. O filme se tornou um dos clássicos do gênero, mostrando o desenrolar dos acontecimentos de salvamento de um operário que fica preso numa mina através da ótica de um jornalista ganancioso e inescrupuloso. Além de, é claro, uma sociedade com valores distorcidos, que consegue transformar em parque de diversões, o cenário de uma tragédia. Acho muito interessante que o título brasileiro tenha fugido da tradução óbvia que remete o filme a um furo de reportagem para associar a história do filme a figura de um abutre, um animal que se alimenta da carniça de defuntos e que virou o símbolo da prática do jornalismo sensacionalista que coloca a audiência à frente da verdade e do futuro das pessoas envolvidas com a notícia propriamente dita. Um verdadeiro show de horrores. Filme obrigatório a todos estudantes de jornalismo e cinéfilos”. (Leonardo Lopes Carnelos)
“Billy Wilder tinha a incrível capacidade de fazer filmes com adoráveis e charmosos personagens cínicos e é nesta categoria que entra Kirk Douglas em A Montanha dos Sete Abutres. No ano anterior, em Crepúsculo dos Deuses, o diretor já havia mostrado a decadência moral através de quem faz cinema e, desta vez, transportou o tema para o papel do jornalista (Douglas) que é o exemplo negativo de tudo que é discutido na faculdade: a relação ética com a fonte, a manipulação da verdade, cavar uma pauta às custas do sofrimento humano etc”. (Larissa Padron)
1- Cidadão Kane (Citizen Kane, Orson Welles, 1941)
“Charles Foster Kane, claramente inspirado no magnata da mídia William Randolph Hearst, fez a fama do jovem Orson Welles, e ao mesmo tempo atraiu um inimigo poderoso. Mesmo dando prejuízo na época, o filme é tido como um dos melhores de todos os tempos, ocupando a primeira posição no ranking do American Film Institute. Kane era um empresário que destruía seus inimigos difamando-os em seus jornais e temos nele um exemplo do mau jornalismo. Em compensação, Joseph Cotten era o jornalista investigativo que não descansaria enquanto não descobrisse o significado do termo ‘Rosebud’, a derradeira palavra dita pelo milionário. Dois exemplos extremos de jornalismo em um filme soberbo, magistralmente filmado, que deve ser exibido em qualquer curso de comunicação”. (Marcelo Seabra)
“Não é difícil compreender o porquê de Cidadão Kane ser considerado o melhor filme de todos os tempos. Em 1941, Orson Welles, um jovem diretor de teatro, se aventurou pelo mundo do cinema, produzindo uma das obras mais controversas de sua geração. Avaliado como brilhante quase que por unanimidade, a controvérsia ficou por conta de especulações de que a inspiração para o roteiro teria vindo do grande empresário da mídia, William Randolph Hearst. Poderoso, Hearst tentou impedir o lançamento do filme, sem sucesso (…)Exposto de forma cínica e satírica, é impossível não fazer um paralelo entre Kane e outros detentores do mesmo poder que Charles tinha: o de informar. É aí que o filme se mostra extremamente atual, ligando os Kanes, Hearsts, Marinhos e Murdochs do mundo, levantando, inclusive, o debate sobre o papel do jornalismo”. (Nathália Pandeló)
Bônus – Spotlight – Segredos Revelados (Spotlight, Tom McCarthy, 2015)
“Spotlight: Segredos Revelados fez muitos jornalistas (como eu) se sentirem orgulhosos e lembrarem do propósito da profissão que escolheram: jogar luz ao que está escondido. E ao mesmo tempo lamentar os dias agonizantes do seu câncer terminal.
Ambientado no longínquo ano de 2001, o longa acompanha a investigação real da equipe Spotlight, do jornal Boston Globe, para um especial (vencedor do Pulitzer) sobre inúmeros casos de abuso infantil por parte dos padres locais e encobertos pelo cardeal Law. Adotando uma narrativa clássica e envolvente, que nos permite conhecer os chocantes fatos junto aos jornalistas, o filme já traz resquícios da crise que assombra os veículos: corte de pessoal, a velocidade da internet assombrando os jornalistas investigativos e a constante perda de interesse do público pelo jornal impresso”. (Larissa Padron)