30 Melhores Filmes Sobre Jornalismo: um guia definitivo

20- O Mercado de Notícias (Idem, Jorge Furtado, 2014)

“Em O Mercado de Notícias, Jorge Furtado convida alguns dos jornalistas mais iluminados do país para falar de como sua amada profissão tem sido profanada como nunca por nossa imprensa desonesta e corrompidamente comprometida com uma visão política alinhada com os interesses da Elite Branca.

Intercalando depoimentos de Bob Fernandes, Cristiana Lôbo, Fernando Rodrigues, Geneton Moraes Neto, Janio de Freitas, José Roberto de Toledo, Leandro Fortes, Luis Nassif, Maurício Dias, Mino Carta, Paulo Moreira Leite, Raimundo Pereira e Renata LoPrete a cenas de uma encenação da peça homônima – que, escrita no século XVII pelo romancista Ben Johnson, o “segundo” nome do teatro elizabetano, abaixo apenas de Shakespeare, tratava com ironia o início da comercialização dos jornais -, o longa se propõe a, primeiro, definir de que consiste a atividade jornalística (o que a torna única? Quais devem ser as maiores responsabilidades de seus profissionais?) e, segundo, investigar casos recentes que demonstram não só a incompetência, mas o maucaratismo que norteia as decisões tomadas nas redações de veículos como Globo, Veja, Estadão e Folha de S. Paulo.”. (leia na íntegra o texto do João Marcos Flores)


19- Nos Bastidores da Notícia (Broadcast News, James L. Brooks, 1987)

“Vocês conhecem James L. Brooks. Se não por escrever e produzir algumas das maiores séries da década ’70 – Taxi, Mary Tyler Moore (e lá vai memória, hein?!) –, então por lançar e catapultar Os Simpsons à sua vigésima sexta temporada – e contando!

Mas Brooks também se aventurou na direção nos cinemas. Se começou com o duríssimo Laços de Ternura (1975), não deixou de investir numa comédia elegante, como no até-Sandler-se-salva Espanglês (2004), no oscarizado-e-genial-Nicholson-rules Melhor É Impossível (1997) e no pouco-visto-sei-lá-por-quê Nos Bastidores da Notícia (1987). Neste último, o diretor parte de um triângulo romântico entre a obcecada produtora Jane Craig (Holly Hunter), seu amigo e colaborador Aaron Altman (Albert Brooks) e o inexperiente âncora Tom Grunick (William Hurt) para contar uma história sobre… jornalismo. Brooks aposta na velha fórmula das comédias românticas, é verdade – estão ali os diálogos rápidos e inteligentes, as frustrações, os pequenos dramas –, mas soma a isso uma nova experiência, em que tenta, como é do bom cinema, capturar as marcas do seu tempo e espaço: o declínio do jornalismo moderno, o sensacionalismo, a atração sobre a percepção. Tudo é matéria às astutas observações do cineasta.

Cabe aqui observar que não se deve confundir o “jornalismo moderno” com o new journalism, de Truman Capote (Bonequinha de Luxo, A Sangue Frio), Tom Wolfe (A Fogueira das Vaidades) e companhia. Enquanto o primeiro deprime, reprime, diminui o que interessa a interesses, o segundo muda o ângulo da matéria, mas não diminui sua relevância. O que a comédia de Brooks nos revela (e que melhor estrutura para nos dizer o ridículo das coisas que não a comédia?) é o quanto a experiência de estilo sobre substância – entretenimento sobre matéria, sensações sobre reflexões – têm dado o tom de nossas frustrantes relações com a notícia. É um filme subvalorizado. E imperdível”. (Raphael Katyara)


18- Tudo pelo Poder (The Ides of March, George Clooney, 2011)

“‘Posso fazer qualquer coisa, mas eu tenho que acreditar na causa’. A frase dita pelo personagem Stephen Meyers, interpretado pelo ator Ryan Gosling, nos introduz no universo tanto político quanto midiático da narrativa. Está no cerne de Tudo pelo Poder: o corrompimento humano, o jogo político, a manipulação, a sujeira em torno do tema abordado. Não há aqui um universo maniqueísta, com bandidos e heróis, certo e errado; há apenas personagens humanos com respostas humanas e que vivenciam situações humanas. O filme de Clooney não oferece grandes pontos de viradas, uma ação desenfreada ou um caos ideológico e perigoso; para Clooney, o mais importante é a denúncia de uma sociedade falida, de uma mídia cega, de uma democracia perigosa, um lugar em que ninguém pode se portar diferente de como as coisas são”. (Andrey Lehnemann )


17- O Quarto Poder (Mad City, Costa-Gravas, 1997)

“Alguns pesquisadores da comunicação defendem a teoria do espelho, que diz que o jornalismo reflete a realidade. Embora o conceito seja ultrapassado, na prática ele funciona. Ainda hoje, muita gente acredita que se algo passou na TV é verdade. Em O Quarto Poder, vemos que o repórter interfere na notícia, contando uma história distorcida para se promover. Ele deixa de cumprir o papel de ser apenas o emissor para também ser parte do que é noticiado. O que contraria qualquer código de ética da profissão. E é sobre isso o filme: ética e responsabilidade. O longa mostra que é possível noticiar de forma calculista, pensando em como as pessoas vão se sentir e o que vão pensar ao receber determinada informação. Um lado do jornalismo que, infelizmente, existe no mundo real. Todo mundo deveria ver esse filme. E todo mundo deveria duvidar um pouco de tudo o que a imprensa diz. Assim os jornalistas seriam obrigados a repensar os limites da profissão”. (Jean Piter)


16- Ônibus 174 (Idem, José Padilha, 2002)

“A história de Sandro tão bem retratada por Ônibus 174 tem muito a nos ensinar sobre Jornalismo. Fica claro, pelo que o filme nos mostra, que a mídia contribuiu bastante para o destino do personagem. Além disso, todo o circo montado especialmente pelos programas sensacionalistas da TV brasileira em torno do sequestro do ônibus impactou diretamente a forma como a Polícia lidou com o episódio. A imprensa exerceu um papel covarde, unilateral, não cumprindo a premissa básica de informar as pessoas a respeito do que estava acontecendo e interferindo nos fatos. A criação de factoides, com o objetivo de manter o interesse do espectador, resulta numa cobertura que claramente inflige os direitos humanos mais básicos de todos os envolvidos.

O documentário levanta um interessante debate a respeito da pretensa isenção do Jornalismo, uma ilusão cada vez mais difícil de se manter. O filme também discute a desumanização pela qual passam as pessoas negras e pobres quando retratadas pela imprensa”. (Priscila Armani)


15- Tropa de Elite 2 (Idem, José Padilha, 2010)

“A continuação de Tropa de Elite foca bastante no sistema corrupto brasileiro, sobretudo na política, mas ele também aproveita para colocar os jornalistas no meio. Temos uma repórter dedicada e honesta, que descobre o esquema fraudulento de um político poderoso e acaba perdendo a vida da forma mais dura possível nas mãos de uma milícia do Rio. E ninguém faz nada, nem mesmo o jornal para o qual ela trabalha porque ele tem o rabo preso. Triste, mas dinheiro e interesses falam mais alto numa hora dessas, até mesmo em situações como a presente no filme”. (Daniela Pacheco)


14- A Doce Vida (La Dolce Vita, Federico Fellini, 1960)

“Uma das obras primas de Federico Fellini, A Doce Vida conta a história de um colunista social vivido por Marcelo Mastroianni. Seu personagem, que também chama-se Marcelo, tem a cidade de Roma na mão. Ele frequenta as festas mais badaladas, conhece todos os homens poderosos e relaciona-se com todas as mulheres mais desejadas. Mas em meio a tudo isso, tem uma vida pessoal devastada e frequentemente sente um vazio na alma por não estar realizando nada de mais relevante. Pode passar desapercebido, mas A Doce Vida é uma grande ode à falta de comunicação entre as pessoas. Em praticamente todas as cenas é possível notar que a mensagem interpretada pelo receptor nunca é a mesma enviada pelo interlocutor. O que não deixa de ser irônico por parte do diretor, uma vez que ele retrata a vida de um jornalista, que teoricamente deveria ser um especialista em passar uma mensagem corretamente.

É também interessante notar em diversas cenas, o momento em que o homem abandonou o teocentrismo para abraçar o egocentrismo. E claro, tudo isso de forma extremamente simbólica, nunca falada. Mas aqui de novo aparece o sarcasmo de Fellini, retratando uma Roma que abriga em seu interior o coração do catolicismo, mas que já deixou de praticá-lo a muito tempo. Mas, provavelmente, o maior legado do filme seja uma das cenas mais clássicas do cinema, quando Sylvia, vivida por Anita Ekberg, banha-se na Fontana di Trevi. E o filme ainda popularizou mundo afora a expressão italiana paparazzo, para o repórter fotográfico que se espreita pela cidade atrás de uma foto exclusiva e íntima de uma celebridade”.  (Leonardo Lopes Carnelos)


13 – Profissão: Repórter (Professione: Reporter, Michelangelo Antonioni, 1975)

“Não. Não vamos falar sobre o (excelente) programa de Caco Barcellos, cujo nome se inspira nesta obra. A propósito, o título em inglês é enganoso, e há tempos me fez pensar que Iggy Pop teria cantado The Passenger (com o backing vocal do para-sempre-seja-louvado Bowie) para esse filme de Michelangelo Antonioni. Em italiano, entretanto, o título Professione: Reporter dá o tom ao thriller do controverso diretor, que conta com Jack Nicholson e Maria Schneider em papéis avassaladores. A trama é simples em sua superfície: o jornalista David Locke (Nicholson) assume a identidade de um outro homem enquanto filma um documentário na República do Chade. O que Locke não sabia era que se tratava de um negociante de armas, envolvido com os rebeldes na guerra civil daquele país. Pronto: é pelo suspense que Antonioni começa a fazer uma longuíssima observação sobre o trabalho do jornalista em si, questionando ética, caráter, notícia, e, principalmente, buscando saber de onde vem essa sede inescapável por notícias. Afinal, é o repórter parte da matéria que ele estuda? Até que ponto suas ações se justificam em prol da notícia?

Como em todo Antonioni, não espere respostas convictas: o vazio, a busca, o acaso (pelos quais o diretor de Blow Up é apaixonado) parecem muito mais atraentes à matéria – e à fotografia de Luciano Tovoli – que a trama em si. Ou melhor: é aí onde a trama se perde e se encontra. Exatamente como o trabalho de jornalistas. Todo mundo já pensou em ser correspondente internacional, não?! Então esse filme é obrigatório. Pro bem E pro mal”. (Raphael Katyara)

https://www.youtube.com/watch?v=7u_M1VpIa8g


12- Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, Sidney Lumet, 1975)

“A dobradinha Al Pacino e Sidney Lumet, que extraiu as melhores atuações do veterano nos cinemas, dessa vez nos presenteou com o maravilhoso Sonny. Ao contrário de um jornalismo coerente e crítico, Frank Pierson nos apresenta em 75 uma grande indagação atual da profissão: até que ponto o show da realidade é notícia? Até que ponto a influência da mídia, levando o senso comum ao seu frenesi, não acarreta mudanças negativas no desencadear de um fato? Al Pacino nos leva exatamente para dentro da mente desse sujeito em pauta, e como o mesmo é levado a loucura dentro de duas horas de filme, guiado pelo êxtase de uma população que clama por esse personagem para escariotizar como símbolo de sua justiça. Algo que poderia ter sido resolvido de forma muito mais rápida, apenas pela polícia, devido ao assédio da mídia acabou tornando-se Um Dia de Cão”. (Jairo Souza)


11- Frost/Nixon (Idem, Ron Howard, 2008)

“O escândalo Watergate é famoso nos livros de história e na história do jornalismo, pois até hoje serve como exemplo de apuração e reportagem. O filme resgata a entrevista que o ex-presidente americano Richard Nixon deu ao apresentador inglês David Frost sobre o escândalo. Nixon renunciara à presidência há pouco tempo, depois que documentos provaram sua participação no caso Watergate, e Frost se propõe a entrevistá-lo. Dirigido por Ron Howard, o filme traz toda a tensão dos bastidores de uma entrevista com essa amplitude, com o preparo do entrevistador, as exigências do entrevistado, o clima pesado das gravações, as perguntas espinhosas e o trabalho duro de sedução do entrevistado. Uma boa aula para quem acha que entrevistar é apenas fazer perguntas”. (Aline Monteiro)


10- Capote (Idem, Bennett Miller, 2005)

capote“Para elaborar umas das obras seminais da literatura norte-americana, Truman Capote subverteu o jornalismo e brincou com suas regras para perseguir a verdade dos fatos. Este afã exigiu bem mais do que jogar com a confiança dos envolvidos no homicídio investigado ou manusear o sistema; exigiu também sacrificar a própria integridade do autor, interpretado com enorme escrutínio e superioridade intelectual por Philip Seymour Hoffman. A fim de retratar essa cadeia de eventos que modificou a literatura, o diretor Bennett Miller reforça o ar distante, analítico e desapaixonado com o qual Capote relacionava-se com os assassinos. Um esforço meticuloso de construção da atmosfera que intriga da mesma forma em que nos mantém a mesma distância que o escritor paradoxalmente compartilhava”. (Marcio Sallem)