CHEGAMOS AO FIM DE MAIS UMA TEMPORADA DE LANÇAMENTOS NOS CINEMAS. Como não podia deixar de ser, encerramos o ano com a lista de melhores filmes de 2023. Foi um ano recheado de produções inesquecíveis e convocamos a redação do Cinema de Buteco (e nossos convidados especiais) para fecharmos esse ranking definitivo com o que de melhor chegou aos cinemas e streamings ao longo dos últimos doze meses.
Consideramos apenas os lançamentos comerciais, por isso temos a presença de produções de 2022 e ausência de verdadeiras joias, como Quando o Mal Espreita e Vidas Passadas, que fatalmente estarão na lista de melhores filmes de 2024.
Confira também nossos rankings individuais aqui.
Os 21 Melhores Filmes de 2023 Para Você Assistir Hoje:
#21 – O Assassino
Em O Assassino (The Killer, 2023), disponível na Netflix, David Fincher volta a trabalhar em um thriller cheio de suspense com o roteirista Andrew Kevin Walker pela primeira vez desde Seven. A nova parceria da dupla certamente atende às nossas expectativas, ainda que sejam obras um tanto diferentes entre si.
O Assassino atende a sempre complicada expectativa dos seus fãs. Por mais que nunca tenha fugido do suspense na sua carreira, inclusive com outras obras com assassinos, a impressão é que Seven merecia um “irmão” para chamar de seu. Dadas as devidas proporções, eu acredito que Fincher tenha conseguido fazer isso e quem ganha é o espectador. Recomendo fortemente para todos os cinéfilos carentes por bons thrillers e dicas capazes de entrar na nossa lista de melhores filmes de suspense de 2023.
#20 – Suzume
Do visionário criador de “Your Name”, Suzume no Tojimari narra a história de dois amantes infortunados.
Suzume, uma jovem de 17 anos que reside em uma tranquila cidade em Kyushu, cruza caminhos com um rapaz em uma jornada peculiar de “procurar portas”. Ela decide segui-lo até um edifício em ruínas nas montanhas, onde depara-se com uma porta que parece destinada a salvá-la da iminente devastação. Atraída por um poder invisível, Suzume estende a mão em direção à porta.
Em um desdobramento surpreendente, portas por todo o Japão começam a se abrir uma após a outra. No entanto, as portas que foram abertas precisam ser fechadas para conter a calamidade que se esconde do outro lado. Assim, tem início a “jornada de fechar portas” de Suzume.
#19 – Saint Omer
Inspirado por eventos reais que ganharam destaque nas manchetes francesas em 2013, o filme narra a história de Rama, uma romancista que testemunha o julgamento de Laurence Coly no Tribunal Criminal de Saint-Omer, na Normandia.
Laurence enfrenta a acusação de homicídio de sua filha de 15 meses, a qual abandonou em uma praia no norte da França durante a maré alta. O objetivo de Rama é utilizar essa trágica narrativa como base para criar uma adaptação moderna do antigo mito de Medeia, mas as reviravoltas na trama não seguem o curso esperado.
#18- Missão: Impossível: O Ajuste de Contas – Parte I
Novamente sob a direção de Christopher McQuarrie, o agente interpretado por Tom Cruise precisa salvar o mundo. Em Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1 (Mission: Impossible – Dead Reckoning Part One), sétimo filme da franquia, a complexidade de sua missão vai além do esperado e ele precisa lidar, entre outras coisas, com uma inteligência artificial, o que acarreta novas dificuldades. Hunt sempre tentou pensar à frente de seus inimigos, mas o que fazer quando o inimigo é capaz de prever os seus movimentos?
O roteiro de Erik Jendresen e McQuarrie mostra questionamentos e conflitos da atualidade e é um exemplo de como acompanhar a evolução de uma franquia e não permitir que a mesma se torne obsoleta. Ao mesmo tempo, faz questão de deixar tudo muito claro para o espectador de maneira bem mastigada. Com isso, a preocupação do público é acompanhar Hunt ao longo de perseguições, ao invés de tentar decifrar enigmas.
#17 – O Homem Cordial
Tensão define O Homem Cordial, de Iberê Carvalho. Em pouco menos de 90 minutos, ele constrói uma história sufocante sobre um roqueiro lidando com uma grande crise potencializada pelas redes sociais. Paulo Miklos, uma figura acima da média na música, no teatro e no cinema, é o protagonista de um dos filmes obrigatórios do ano.
Miklos, mais uma vez, brilha na tela e lidera o elenco afiado que nos apresenta à trama. Seu personagem se vê de frente com a desigualdade escancarada sem o menor pudor e, nas suas limitações, tenta fazer a diferença. Carvalho constrói um retrato incômodo da vida urbana, sem meias-verdades, mas com situações corriqueiras. Aurélio e Mateus são personagens, mas podemos encontrar seus similares todos os dias, em cada esquina.
#16 – Rotting in the Sun
O pôster da comédia disponível no MUBI não poderia ter me preparado melhor para tudo que torna o longa-metragem um dos melhores filmes de 2023: é a comédia mais pica da temporada.
Rotting in the Sun, algo como “apodrecendo no sol”, em uma tradução literal, fala de suicídio com um senso de humor politicamente incorreto, daqueles capazes de tirar o sono de quem defende tabus e sexo sem graça de meia no domingo de manhã.
Sem poupar os excessos dos seus personagens e, obviamente, dos espectadores que vivem seus próprios excessos, o filme acerta em cheio nas suas piadas e no curioso desenvolvimento da narrativa, que muda seu protagonista a partir da metade da história. Sensacional.
#15 – Beau tem Medo
Ari Aster construiu a sua carreira como diretor com dois excelentes lançamentos de terror em sequência. Tanto Hereditário quanto Midsommar conquistaram público e crítica, principalmente aqui no Cinema de Buteco. Todo esse sucesso criou uma expectativa imensa para o seu terceiro trabalho, que dividiu opiniões fortemente.
A trama acompanha a jornada do personagem de Joaquin Phoenix em diferentes momentos da sua existência, vivendo um pesadelo eterno e sem fim, no qual nada parece fazer o menor sentido – e exatamente por esse motivo que tudo se encaixa de uma forma complemente brilhante e insana.
Não é a toa que o título original era “Alameda do Desapontamento”, já que o diretor previa uma reação morna de um filme que precisa de tempo e revisões para ficar melhor.
#14 – Guardiões da Galáxia Vol.3
O Cinema de Buteco tem uma regrinha de ouro para as listas de melhores filmes do ano: só entra filme de Marvel/DC se eles forem realmente fora de série. Sabemos que 2023 não foi um ano “legal” com os filmes de bonecos (exceto com a boneca Barbie, claro), mas James Gunn conseguiu se garantir como o único acerto da Disney na temporada em Guardiões da Galáxia 3.
A despedida da equipe de heróis mais desorientada da Marvel foi uma das maiores surpresas da temporada, com um encerramento cheio de humor, sensibilidade e ação na medida certa. Além de contar com uma trilha sonora inspirada do começo ao fim. A trama mostra os Guardiões tentando salvar a vida de Rocket, enquanto são perseguidos por um vilão poderoso em busca de vingança.
#13 – Os Banshees de Inisherin
No filme “Os Banshees de Inisherin”, de Martin McDonagh, dois amigos de longa data, Pádraic Súilleabháin (Colin Farrell) e Colm Doherty (Brendan Gleeson), têm sua amizade rompida de forma abrupta e sem explicação. Pádraic não consegue entender o motivo do afastamento de Colm, que simplesmente se recusa a falar com ele.
É uma comédia de humor ácido, mas também aborda temas como a importância dos relacionamentos, a busca pela solidão, os interesses e perspectivas diferentes das pessoas e a filosofia com que lidamos com a vida. As atuações de Colin Farrell e Brendan Gleeson são brilhantes. Ambos receberam indicações ao Oscar de Melhor Ator por seus papéis no filme. Os demais atores, incluindo Kerry Condon e Barry Keoghan, também são muito bons.
#12 – Folhas de Outono
Folhas de Outono é um filme finlandês que mescla comédia e drama, sob a direção e roteiro habilidosos de Aki Kaurismäki. A trama gira em torno de Ansa (interpretada por Alma Pöysti), uma dedicada estoquista de supermercado, e Holappa (interpretado por Jussi Vatanen), um ex-alcoólatra. Embora sejam completos desconhecidos, seus destinos colidem de forma inesperada em um bar de karaokê numa típica noite em Helsinki.
Movidos por uma atração instantânea, decidem embarcar em um encontro, dando início a um relacionamento improvável que surge como uma possível cura para a solidão existencial que ambos enfrentam. No entanto, uma série de adversidades e mal-entendidos se interpõe em seu caminho, forçando-os a se distanciarem, mesmo diante da promessa de uma conexão única.
#11 – Afire
Todo ano são lançados diversos filmes sobre escritores e seus bloqueios criativos. No alemão Afire acompanhamos a história de um jovem escritor passando uns dias de férias em uma casa de praia, mas fracassando miseravelmente na sua missão de encerrar seu novo romance. Me identifiquei mais do que deveria com o protagonista e seus sentimentos reprimidos, incapaz de viver o presente e sempre inquieto observando o ambiente e as pessoas ao seu redor.
Acompanhar o desenvolvimento do protagonista e coadjuvantes, além da dinâmica de suas relações é um exercício curioso para entender um pouquinho mais daquilo que diferencia as pessoas e suas motivações. Conduzido em um ritmo envolvente, Afire arrebata seus espectadores lentamente, praticamente como os incêndios que “participam” do roteiro. Filmão.
#10 – Retratos Fantasmas
“Retratos Fantasmas” é sobre cinemas de ruas e o centro de Recife, uma análise de como ambos já tiveram seus momentos de luxo e glória e hoje estão abandonados. Mas é também sobre a mãe de Kleber, a casa de Kleber, o bairro que Kleber cresceu e as pessoas que Kleber conheceu ao estudar e trabalhar com cinema.
Em algum momento é comentado que os centros das cidades podem ser muito parecidos, e são, o documentário expõe e transmite a melancolia, a decadência e a beleza desse lugar, que nas palavras do diretor possui um clima do tipo: ‘não gosta de mim? Foda-se’, e eu concordo.
Porém, além disso, é sobre o processo criativo de um autor. Em seus filmes estão presentes cadeados, cupim, arquitetura, prédios feios, a importância do registro, a importância da história, mulheres fortes, cinema brasileiro. Com “Retratos Fantasmas” entendemos que a casa de “O Som ao Redor” é (ou foi) a casa do próprio diretor, e que a Clara de “Aquarius” talvez seja sua mãe.
#9 – Monstro
Monster tem uma narrativa complexa. Sua montagem é cheia de idas e vindas, o que torna essencial rever a obra de Kore-eda Hirokazu (Assuntos de Família).
Inicialmente parecia só mais um bom filme daqueles que a gente assiste, gosta, mas não elege como um dos melhores do ano. Só que isso vai mudando lentamente a partir do momento em que o quebra-cabeça do roteiro começa a fazer sentido. E aí, vou te falar, você esquece até de piscar os olhos.
A trama acompanha a preocupação de uma mãe com o que se passa no ambiente escolar onde seu filho está inserido é o ponto de partida para uma história que, aos poucos, revela problemas da sociedade tão enraizados que, muitas vezes, são negligenciados.
#8 – Barbie
Barbie sempre foi uma figura feminista, e a diretora e roteirista Greta Gerwig nos mostra isso de maneira brilhante com uma referência a “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, onde a chegada de Barbie (Margot Robbie, perfeita) representa um novo rumo para garotas, que até então tinham apenas a opção de serem “mães” cuidando de bonecas bebês.
O filme tem um certo tom de esquisitice infantil à la Tim Burton e é todo cheio de referências, que está desde a masculinidade construída por Sylvester Stallone no auge da era Rocky nos anos 70, até o incrível número musical dos Kens, liderado e cantado por um Ryan Gosling afetadíssimo (no melhor sentido da palavra), inspirados nos filmes “Cantando na Chuva” e “Os Homens Preferem as Loiras”.
Barbie é uma obra inteligente, engraçada e emocionante, principalmente por ter uma marca autoral e mesmo assim conseguir se comunicar com tantos públicos.
#7 – Tia Virgínia
“Tia Virgínia” narra a vida de uma mulher de 70 anos, vivida por Vera Holtz, que nunca se casou e não teve filhos. Diante da persuasão das irmãs, Vanda (interpretada por Arlete Salles) e Valquíria (com atuação de Louise Cardoso), ela é convencida a se mudar para outra cidade a fim de cuidar dos pais.
Com o cenário se desenrolando ao longo de um único dia, o filme acompanha os preparativos de Virgínia para receber suas irmãs, que viajam até sua casa para celebrar o Natal.
Encontros familiares geram excelentes histórias. Nessa comédia dramática, isso fica ainda mais explícito na medida em que conhecemos mais intimamente a família tóxica de Vírginia.
#6 – Decisão de Partir
O diretor de Oldboy retorna com um suspense de alto nível, recheado de humor e personagens complicados. No elogiado Decisão de Partir, o Park Chan-wook apresenta a história de um detetive eficiente e meticuloso investiga um possível assassinato em um remoto vilarejo de montanha. Lá ele começa a desenvolver um caso de amor com a viúva da vítima, que ele considera a principal suspeita.
Os conflitos do detetive arrastam os espectadores para uma relação amorosa em que nada acontece, exceto dentro das mentes dos envolvidos. A graça está em ver um homem da lei se envolvendo com uma potencial assassina.
#5 – A Baleia
Algumas pessoas falam de depressão e suicídio com muito cuidado, como se a simples menção desses assuntos fossem o suficiente para despertar uma crise. Darren Aronofsky está cagando e andando para quem pensa assim.
Em A Baleia, o diretor vai com o pé na canela de todos aqueles que já se viram sofrendo pela própria saúde mental. O resultado é uma obra bela, trágica e que talvez ninguém devesse assistir mais de uma vez na vida.
Um dos grandes filmes de 2023, sem a menor sombra de dúvidas.
#4 – Os Fabelmans
Você não precisa idolatrar Steven Spielberg para reconhecer o gênio. Em Os Fabelmans, o diretor olha para si mesmo e usa sua própria vida para criar o melhor filme de 2023, daqueles que a gente senta e chora 90% do tempo – não pela história, mas pela beleza e sensibilidade de ver nas telas uma homenagem para uma lenda viva do cinema. O pouco que conheço da vida do diretor foi o suficiente para me conquistar e divertir com essa declaração de amor à sétima arte.
Nessa carta de amor para todas as pessoas que fizeram parte da sua vida, Spielberg compartilha momentos muito especiais e íntimos narrando os sonhos de um jovem apaixonado por contar histórias.
#3 – John Wick: Baba Yaga
Keanu Reeves se tornou a encarnação perfeita de personagens lendários do cinema de ação. Do agente do FBI Johnny Utah em Caçadores de Emoção até John Constantine, Bill e Ted, e, claro, Neo em Matrix, Reeves conseguiu espaço para revitalizar a carreira com a elogiada franquia John Wick, que chegou ao seu quarto filme em 2023.
John Wick: Baba Yaga realmente evolui o que mostrou de melhor nos três filmes. São sequências de ação muito bem construídas, daquelas que deixam qualquer apaixonado por obras de ação empolgados do começo ao fim. Além de boas cenas de luta e tiroteio, temos também uma atenção especial para os dramas e motivações dos personagens.
#2 – Oppenheimer
Mesmo em IMAX, os temas e conceitos de larga escala transbordam no mais espetacular,
cerebral e aterrorizante blockbuster de Christopher Nolan até o momento. Cillian Murphy brilha como o físico J. Robert Oppenheimer, conduzindo sua jornada para construir a bomba atômica para os Estados Unidos em um thriller baseado em fatos científicos, com um ritmo de reação em cadeia.
O momento central do filme, o primeiro teste da bomba atômica, proporciona uma experiência semelhante à que o público de “2001: Uma Odisséia no Espaço” deve ter sentido há aproximadamente 50 anos. Em um mundo dominado por CGI, Nolan opta por recriá-lo utilizando efeitos práticos (uma mistura de gasolina, pó de alumínio, magnésio e propano, não tente isso em casa). Assim como o filme em si, essa cena deixa uma marca profunda.
#1 – Os Assassinos da Lua das Flores
Com pouco mais de 3 horas de duração, Os Assassinos da Lua das Flores é um drama policial sobre a ganância e o genocídio dos povos nativos. Mesmo com um elenco de primeira linha, a atenção de Scorsese nunca balança: ele quer falar das injustiças históricas e dos crimes que causaram tanta dor para os Osages.
Em um ano marcado pelo genocídio do povo Palestino apoiado em escala mundial, Scorsese mostra um paralelo cruel para mostrar que, quando se trata de benefícios e lucro, as grandes potências são capazes de qualquer coisa. Com uma frieza ártica, o dinheiro é a única coisa capaz de preencher o coração daqueles que vivem com fome de mais e mais o tempo inteiro.