Depois de janeiro e fevereiro, chegou a hora de comentar todos os longas-metragens a que assisti no terceiro mês de 2016. As revisões estão marcadas com (*). Entre animações, super-heróis e uma maratona de macacos, aqui estão eles:
67- Quarteto Fantástico (2005): Um elenco de quinto escalão, trocadilhos mil, trilha sonora cartunesca e humor bobo (como Reed Richards esticando o braço no banheiro pra pegar papel higiênico). É ruim, mas não tão ruim a ponto de merecer 2500 palavras como fiz com Batman & Robin, a obra-prima-ao-contrário do gênero.
68- Irmãs (2016): Duas mulheres adultas agindo como adolescentes e organizando uma festa de arromba para que outros adultos também possam agir como adolescentes. O filme realmente não poupa caos e destruição na longa sequência da festa, mas é um festival de sem-gracice do início ao fim.
69- Frank e o Robô (2012): Frank Langella é um ex-ladrão de joias que ganha a companhia de um robô doméstico. Um sci-fi pequeno, mas tocante, sobre memória, amizade e envelhecimento.
70- 10 Coisas Que Eu Odeio em Você (1999): Heath Ledger e Julia Stiles salvam esta comédia adolescente de ser instantaneamente esquecível, sendo os únicos que não fazem personagens detestáveis ou que se apaixonam inexplicavelmente por personagens detestáveis.
71- Meu Vizinho Totoro (1988): Uma animação de trama simples, sem vilões ou grandes conflitos, que mistura a fantasia (destaque para o memorável gato-ônibus) com a realidade de duas irmãs que precisam lidar com uma mãe doente e um novo cotidiano.
72- Space Jam – O Jogo do Século (1996): Fez um sucesso danado há vinte (!) anos, e eu tinha até o bonequinho do Michael Jordan com a camiseta do Tune Squad. Mas acho que só havia visto uns pedaços do filme na TV e olhe lá. Assistindo hoje, é um bom passatempo e tecnicamente muito bem feito, mas não chega aos pés de um Roger Rabbit.
73- O Senhor dos Anéis (1978): Décadas antes de Peter Jackson se aventurar na Terra-média, Ralph Bakshi dirigiu esta animação de uma maneira assaz peculiar: filmou o longa inteiro com atores e depois usou rotoscopia para animar os personagens. A técnica funciona melhor com os personagens principais, que nitidamente receberam mais cuidado, do que com coadjuvantes e figurantes, que têm cara de filtro tosco do Photoshop. Mas vale a pena conferir esta adaptação, que apresenta designs de personagens bem diferentes da trilogia em live-action (vejam Saruman, Aragorn, Legolas, Boromir, Galadriel e Gollum) e até inspirou Jackson em planos específicos, como este aqui. Uma pena que o filme só vá até o meio de As Duas Torres e Bakshi nunca tenha completado a história.
74- Dredd (2012): Nunca li um quadrinho do Juiz Dredd nem assisti ao espinafrado filme de 1995 com o Stallone, mas esta nova versão de 2012 me surpreendeu: é um filme de “super-herói” atípico, que se passa basicamente num lugar só (lembrando Duro de Matar ao ter os protagonistas sendo caçados por criminosos em um prédio selado), com boas cenas de ação e até uma justificativa narrativa para a câmera lenta.
75- Kung Fu Panda 2 (2011): O primeiro eu achei, sinceramente, bastante sem graça. Mas esta sequência é bem mais divertida, com boa mistura de humor e ação, flashbacks estilosos em 2D e Jack Black fazendo o que sabe fazer melhor: jackblackar.
76- Zootopia – Essa Cidade é o Bicho (2016): Se a Pixar decepcionou este ano com o esquecível O Bom Dinossauro, a Disney mostra que continua em ótima fase. Zootopia é daquelas animações que criam um mundo repleto de detalhes piscou-perdeu, coadjuvantes que roubam a cena (as preguiças são apenas um dos bons exemplos) e uma trama que ganha surpreendentes cunhos sócio-políticos em meados do segundo ato.
77- Hell and Back (2015): Stop-motion produzido um estúdio menor (ShadowMachine, o mesmo responsável pelo Frango Robô), com três amigos aprontando altas confusões no Inferno. O elenco de vozes tem Susan Sarandon, Mila Kunis e Bob Odenkirk (o Saul Goodman) como o Diabo, mas as piadas, calcadas principalmente em sexo e escatologia, têm uma proporção de uma boa para cada duas ruins.
78- Cinco Graças (2015): O representante da França no Oscar deste ano (“Mustang”, no original) é na verdade um filme turco, falado em turco e totalmente enredado na cultura do país, com sua trama trágica sobre cinco adolescentes rebeldes forçadas a casamentos arranjados pela família conservadora. Um belo longa de estreia da diretora Deniz Gamze Ergüven.
79- Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (2007): Assim como no seu predecessor, o humor besta (como o Tocha trocando de poderes com os colegas) ao menos funciona melhor que o dramalhão novelesco de Reed Richards e Sue Storm, os piores do elenco (“Ó Reed, quando é que vamos finalmente nos casar?”). Já que o clima é de galhofa, eu preferiria ter visto o Galactus das HQs do que aquela massa de fumaça disforme. Pelo menos o Coisa tem menos cara de “roupa de borracha” do que no primeiro filme…
80- Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016): Concordo com várias pontos das críticas negativas (excesso de sonhos e flashbacks, Lex Luthor histriônico demais, subtramas que só servem como teaser para os próximos filmes), mas também acho exagero dizer que o filme é horrível. O clima soturno e deprê é acertado (nem todo longa de super-herói precisa ser divertido como Deadpool ou Guardiões da Galáxia); o roteiro toma algumas decisões corajosas, e Ben Affleck, quem diria, interpreta talvez o melhor Batman do cinema até hoje, amargo e tarimbado. Em retrospecto, gostaria de ter visto menos trailers porque eles realmente mostraram mais do que deviam.
81- Uma Viagem ao Mundo das Fábulas (2009): O título brasileiro engana: esta animação irlandesa (indicada ao Oscar em 2010 e feita pelo mesmo pessoal de A Canção do Oceano, também indicado em 2015) pode até ter uma fada como coadjuvante, mas passa a maior parte do tempo tratando de um garoto e de um livro que existiu de verdade, o belissimamente ilustrado Livro de Kells (o nome original do filme, aliás, é “The Secret of Kells”). O visual superestilisado é o destaque, como na sequência do ataque viking. É bom ver animações que fogem do padrão tradicional e este é um ótimo exemplo.
82- Um Toque de Pecado (2013): Uma antologia chinesa de quatro histórias sobre violência, injustiça e vingança. Assim como no excelente Relatos Selvagens, coletâneas de curtas como esta sempre funcionam melhor quando há um só diretor (aqui, Jia Zhengke) pra dar coesão estilística e temática.
83- O Planeta dos Macacos (1968) (*): Já é a terceira vez que revejo este clássico do sci-fi com o intuito de finalmente assistir, na sequência, às suas quatro continuações. Parafraseando o que já escrevi sobre ele há quatro anos, “incomodam alguns exageros, como o notório overacting de Charlton Heston, mas é uma ficção científica de primeira, contada com calma, trilha atonal nervosa e maquiagem que ainda convence” — sem falar num dos melhores finais-surpresa do Cinema. E desta vez, finalmente, não parei na cena icônica e consegui completar a maratona…
84- De Volta ao Planeta dos Macacos (1970): A primeira metade decepciona por ser quase um remake do primeiro filme: um novo astronauta cai no planeta, encontra os macacos e descobre lentamente onde é que foi se meter. Já a segunda metade tem um momento WTF atrás do outro, com seres telepatas que cultuam a bomba atômica e um final ainda mais pessimista que o do original.
85- Fuga do Planeta dos Macacos (1971): Aqui a série dá outra guinada e transforma Cornelius e Zira, os chimpanzés “gente boa” aos quais fomos apresentados no primeiro filme, em macaconautas que voltam dois mil anos no passado para a Terra dos anos 1970. O destaque do filme são os momentos de humor, que surpreendentemente funcionam. Mas o final, pra variar, nada tem de engraçado…
86- A Conquista do Planeta dos Macacos (1972): César é o protagonista deste filme sem humor e repleto de comentários sócio-políticos sobre escravidão, racismo e revolução, num futuro alternativo (o então distante 1991) em que chimpanzés e orangotangos viraram serviçais da Humanidade. Planeta dos Macacos: A Origem usou a mesma base para sua trama 40 anos depois, num filme tecnicamente bem melhor, mas A Conquista é um dos mais interessantes desta série original.
87- A Batalha do Planeta dos Macacos (1973): O último filme da pentalogia já começa com um tremendo furo de roteiro: como é que, depois de apenas uns 10 ou 15 anos, todos os macacos do mundo adquiriram de repente o dom da fala? A trama de A Batalha também serviria de base para um filme quatro décadas mais tarde (Planeta dos Macacos: O Confronto), com seu cenário pós-guerra, símios vivendo em uma comunidade primitiva e um macaco traidor, mas deixa bem a desejar em relação aos outros. Termino meu mês de março, portanto, com esta ordem macacal de preferência: Planeta > Conquista > Fuga > De Volta > Batalha.