O Cinema de Buteco convidou o crítico e jornalista Marcelo Seabra, do blog O Pipoqueiro, para falar sobre a carreira de Adam McKay, um dos indicados ao Oscar de Melhor Direção em 2016. Confira:
Depois de ser recusado como ator no tradicional programa humorístico Saturday Night Live, Adam McKay submeteu quatro roteiros e foi aprovado. Escreveu e dirigiu vários quadros e curtas e se sentiu pronto para partir para o Cinema.
McKay assinou o cultuado O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy e estabeleceu uma duradoura parceria com o amigo Will Ferrell. No ano passado, ele assumiu a adaptação de um livro sobre a crise financeira de 2008 e conseguiu sua primeira indicação ao Oscar, entre vários outros prêmios. Conheça os acertos e as tropeçadas do diretor.
O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy (2004)
Com um personagem tapado, convencido e carismático, McKay e Will Ferrell fizeram história. Burgundy se junta a uma trupe de jornalistas tão incompetentes quanto ele próprio, com atores tão bons quanto Ferrell vivendo-os, e resta ao público encostar e rir sem parar. Steve Carrell faz um dos personagens mais estúpidos do Cinema e é responsável por alguns dos momentos mais engraçados. Até o cachorrinho consegue ser hilário.
Ricky Bobby – A Toda Velocidade (2006)
Seguindo Ron Burgundy, Ricky Bobby é outro bom produto da parceria McKay-Ferrell e é mais um personagem que consegue ser bem sucedido mesmo sendo tão brilhante quanto uma porta. Ricky é o melhor piloto da NASCAR e precisa vencer a competição de um adversário francês, mas seus piores inimigos são seus traumas. A história bobinha é uma desculpa para uma sucessão de gags e piadas das mais variadas, das mais inteligentes às de gosto duvidoso, e o elenco é reforçado pelos nomes costumeiros, como David Koechner e John C. Reilly, além de novidades como Amy Adams e Michael Clarke Duncan.
Quase Irmãos (2008)
Primeira derrapada de McKay como diretor, colocando Ferrell e C. Reilly como duas crianças crescidas que precisarão se acertar devido ao casamento dos pais. Os dois atores exageram na caracterização dos adultos imaturos e dá a sensação de que Ferrell ganhou muita liberdade, dando asas a seu humor peculiar – para não dizer exagerado e sem graça. Os veteranos Richard Jenkins e Mary Steenburgen parecem constrangidos com a bobagem que os cercam.
Os Outros Caras (2010)
Graças à química entre Ferrell e Mark Wahlberg, o longa consegue sair um pouco do lugar-comum das comédias policiais. A dupla é tirada de trás da mesa e jogada na ação quando os astros da delegacia são mortos. Teremos pela frente uma série de trapalhadas de policiais tentando fazer o serviço. Claro que já sabemos como as coisas vão andar, mas o caminho consegue divertir e algumas tiradas são bem espirituosas.
Tudo Por um Furo (2013)
Anos de espera por mais uma aventura da trupe de Ron Burgundy e é isso que recebemos: em resumo, um filme sem graça que potencializa o que não funcionava no original. O jornalista reúne seus colegas, que haviam debandado, para trabalhar no primeiro canal de notícias no ar 24 horas por dia. O filme coloca Burgundy praticamente como criador dos programas “mundo cão” que temos hoje, tirando toda a dramaticidade possível de uma perseguição em alta velocidade. Will Ferrell se repete, a rusga entre ele e James Marsden não gera interesse algum e até Steve Carell consegue sair por baixo, já que seu Brick Tamland deixa de ser engraçado e se concentra em ser estúpido. Nem a tão falada sequência final salva, sendo apenas um ponto nonsense que requenta o longa anterior e tenta chamar a atenção com participações especiais.
A Grande Aposta (2015)
Um dos destaques da atual temporada de premiações, A Grande Aposta reúne um elenco muito bem escolhido e entrosado para enfiar o dedo em uma ferida recente que atingiu os Estados Unidos e, na sequência, o mundo: a crise financeira de 2007/2008. Misturando humor e drama de forma equilibrada, o longa diverte, informa e indica que tudo pode estar perto de se repetir. Com uma montagem ágil, McKay mistura imagens da época para situar o público no que estava acontecendo, preocupando-se em ser didático sem ser cansativo. De fato, merece a atenção que vem recebendo.