OS ESTAGIÁRIOS É UMA COMÉDIA QUE FAZ RIR. Apenas por cumprir o seu objetivo inicial, a obra dirigida por Shawn Levy (Gigantes de Aço) já merece a atenção do espectador, seja ele um cinéfilo ou apenas uma pessoa comum em busca de entretenimento divertido e de qualidade. É frustrante quando assistimos a uma comédia sem graça, cujas melhores (?) piadas estão no trailer que costuma mostrar mais do que devia. Felizmente não é o que acontece no longa-metragem estrelado pela dupla Owen Wilson e Vince Vaughn.
Na verdade, é curioso perceber que a montagem do trailer evitou estragar algumas das piadas, como a música que a dupla escuta logo na introdução – no trailer é outra canção completamente diferente. Existem várias cenas que ficaram de fora do corte final do filme, e isso é saudável para o público, que não passou pelo desprazer de assistir cenas demais da produção antes da hora. No entanto, a estrutura do trailer segue um padrão cinematográfico: existe a parte da introdução/apresentação dos personagens; depois temos o desenvolvimento do conflito; e por último a superação e vitória pessoal dos envolvidos. Divaguei sobre o trailer apenas para deixar explícita a minha birra com essas apresentações irritantes. Muitas vezes eles estragam o filme, especialmente quando se trata de uma comédia. E é surpreendente notar o cuidado dos responsáveis pela montagem do preview para que ele não estragasse os melhores momentos da obra.
A trama apresenta esses dois vendedores quarentões que são demitidos e vão buscar a chance de trabalho em um estágio no Google. Como se não bastasse serem mais velhos que os possíveis novos chefes, os amigos de longa data terão que superar suas próprias limitações para conquistarem o respeito dos outros jovens estagiários e o emprego dos sonhos.
Em certos momentos fica a impressão de que o roteiro só se preocupou em ser engraçado, deixando de lado resoluções “importantes” na vida do personagem de Vaughn. Existem cenas lindas e com classe, como o final do encontro de Wilson com a personagem de Rose Byrne, mas no final das contas, o roteiro é cheio de situações previsíveis que são compensadas com as referências mais inusitadas: A Mosca, de David Cronenberg; O Exterminador do Futuro, de James Cameron; X-Men, de Bryan Singer; e especialmente Flashdance, de Adrian Lyne. Se não fosse pelo talento dos protagonistas, e dos coadjuvantes (Max Minghella está incrível como o almofadinhas interesseiro que atormenta a vida de todo mundo), e das várias situações hilárias, o longa-metragem dificilmente se sustentaria.
Vaughn e Wilson haviam trabalhado juntos no divertido Os Penetras Bons de Bico. A parceria foi elogiada e muita gente aguardava ansiosamente pelo reencontro da dupla, que acontece em grande estilo. Eles ainda possuem aquela química hilária, todas as cenas fluem com uma tremenda naturalidade que muita gente só consegue depois de exagerar um pouco na dose de caipirinha no bar da esquina. Acompanhado do chefe, de preferência. Vaughn, que também participou da criação do roteiro, rouba a cena. Assim como o seu velho amigo, ele interpreta um sujeito humilde e com valores morais “diferentes”. Como não rir da expressão maravilhada dele ao descobrir que os lanches do serviço são gratuitos? Ele é quase um brasileiro comum que não acredita quando as coisas são oferecidas de graça.
Os Estagiários é a versão cômica de A Rede Social, de David Fincher. Mas com o Google no lugar do Facebook, claro. A maioria das pessoas já deve ter ouvido falar sobre como deve ser maravilhoso trabalhar nos escritórios do Google. É supostamente o ambiente perfeito para expandir o potencial criativo de cada funcionário. O verdadeiro paraíso remunerado. E com escorregador e lanches de graça! Eles jogam Quadribol, pô! Quem não quer trabalhar num lugar assim? Os Estagiários pode ser descrito como um grande anúncio publicitário sobre as qualidades do Google. Se é tudo daquele jeito mesmo não importa, mas fica a sensação de querer experimentar aquilo tudo.
Nota:[tres]