O texto a seguir pode possuir spoilers.
A PRIMEIRA PARTE DO REMAKE DE FÚRIA DE TITÃS HAVIA SOFRIDO MUITAS CRÍTICAS POR CONTA DO SEU 3D CONVERTIDO, além dos comentários negativos que diziam respeito ao roteiro bobo e que transformava os personagens em meros fantoches. A impressão que o primeiro filme deixou foi que ele só se justificava para aproveitar a febre em torno da mitologia grega (leia-se o sucesso dos games God of War, para Playstation) e levar milhares de pessoas para “apreciar” um entretenimento de segunda categoria. A sua continuação, felizmente – embora fosse difícil conseguir o contrário – supera o filme de 2010, mas novamente peca com um roteiro fraco.
Fúria de Titãs 2 acontece anos depois dos eventos do primeiro filme e mostra como Perseu escolheu viver uma vida pacata ao lado de seu filho e deixou de lado qualquer pretensão de se juntar aos grandes deuses. O problema (sempre precisa existir um problema na vida de um cara que resolve viver em paz) é que um grande mal se aproxima e afetará tantos os deuses quanto os humanos. Zeus é traído por seu filho Ares e então cabe ao herói Perseu lutar para salvar a vida do pai e evitar que Cronos transforme os humanos em churrasquinho.
Louis Leterrier é substituído pelo cineasta Jonathan Liebesman, responsável pelo catastrófico Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles, lançado em 2011. O roteiro novamente recebeu tratamento de um grande número de profissionais, o que explica o retorno do mesmo problema apontado no longa-metragem anterior, onde os personagens são extremamente artificiais, além da necessidade de falar o que está acontecendo na tela. Sam Worthington retoma como o guerreiro relutante Perseu e se mostra amadurecido o suficiente para encarar a responsabilidade de protagonizar um blockbuster mongol. Rosamund Pike (confesso que ela era meu único interesse de assistir ao filme) é o interpreta Andromeda, que acaba virando o interesse romântico de Perseu de uma maneira que não consegue convencer nem mesmo o mais bobo dos espectadores. Liam Neeson retoma como Zeus, e ainda que tenha uma participação menor, é o ator de respeito que evita um desastre completo. O grande destaque mesmo fica por conta de Bill Nighy, que durante o curto período que fica em cena, garante bons momentos.
Um dos problemas de Fúria de Titãs 2 está nos vilões. Ares (Édgar Ramírez), o Deus da Guerra, é uma versão ainda mais mimada de um tal de Loki, famoso por invejar o irmão Thor. Hades (Ralph Fiennes) é exatamente o mesmo do filme anterior, fazendo de tudo para foder a vida do irmão Zeus (Neeson) e depois se arrepende e fica “bonzinho”, se é que isso é possível. Aliás, convenhamos que Fúria de Titãs 2 só é justificado como um produto que gerará lucros para os estúdios, especialmente por conta das sessões de 3D. A história é praticamente a mesma. Se os produtores trataram de inserir o Kraken e a Medusa no primeiro filme, agora brincam com os (charmosos) Ciclopes, retratados como uma versão caolha dos Trolls de O Caçador de Troll, de André Ovredal. Cronos, o pai dos Deuses Poseidon, Zeus e Hades, é o grande vilão do filme e é deprimente a maneira como o Galactus mitológico surge como uma grande ameaça que facilmente é destruída por Perseu.
Os efeitos especiais não desapontam. Ainda que o 3D convertido seja uma completa enganação (não faz a menor diferença assistir ao filme em formato convencional ou no 3D, quer dizer, a única diferença estará no seu bolso), os técnicos do departamento visual capricharam no design dos inimigos, especialmente os Ciclopes. Em comparação com o concorrente John Carter – Entre Dois Mundos, Fúria de Titãs 2 ganha de lavada.
Talvez os fãs mais exigentes acabem decepcionados com o resultado final, já que o filme não se compromete hora nenhuma em oferecer a chance do espectador refletir. Trata-se apenas de um grande apanhado de sequências de ação, efeitos especiais e com um drama familiar nada explorado. Porém, como citei acima, a beleza exótica da guerreira Andromeda e o humor do insano do personagem de Bill Nighy (que inclusive conversa com a infame coruja da produção original da década de 80 durante uma de suas cenas) compensam a dose excessiva do completo vazio mental que ocupa a projeção de Fúria de Titãs 2.
Nota: