O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica de Atômica possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
FIQUEI CABREIRO POR TER PERDIDO A PRÉ-ESTREIA DE ATÔMICA. Primeiro porque eu nem sabia dela e segundo porque não ia poder ir de qualquer forma. Portanto, só estou reclamando pelo prazer de ser rabugento. Mas me chamou muita a atenção quando a colega Larissa Padron (canal Fora do Padron) foi até seus perfis nas redes sociais para detonar a produção. Fiquei dividido entre acreditar na opinião dela ou ter a certeza de que iria gostar demais da história – o que acabou acontecendo.
Dirigido pelo dublê especialista em cenas de ação David Leitch (diretor de Deadpool 2, diga-se de passagem), Atômica (Atomic Blonde, 2017) apresenta Charlize Theron no papel principal de uma trama de espionagem cheia de socos, pontapés e tiros. A loira interpreta uma agente da inteligência britânica que é enviada para a Alemanha na véspera da queda do Muro de Berlim, no final dos anos 1980, com a missão de recuperar uma lista de nomes de agentes secretos.
Como o Marcelo “O Pipoqueiro” Seabra comentou no texto dele, a gente já viu essa história antes. Ainda precisam superar Brian de Palma em Missão: Impossível, de 1996, nesse tema. Ainda assim, a verdade é que rola uma química especial entre Leitch e seu elenco, que compra a ideia e transforma Atômica numa alucinante história em que ninguém é confiável e tememos pela integridade física da protagonista o tempo inteiro.
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Só não temi pela morte dela antes da hora porque a narrativa não é linear e já nos minutos iniciais sabemos que a personagem principal sobreviveu e precisa dar um depoimento. A partir dos seus relatos, o público começa a ter conhecimento de tudo que aconteceu até aquele momento.
Theron, que participou do fiasco Velozes e Furiosos 8 recentemente, mostra para o público que consegue se superar fisicamente encarando o desafio de trabalhar com um expert em coreografias de cenas de ação. Leitch, para quem não sabe, ajudou na produção de De Volta ao Jogo, com Keanu Reeves dando mais socos do que na época de Matrix. Os fãs de ação que não tiverem resistência boba em aceitar que um dos melhores filmes de ação de 2017 é estrelado por uma mulher, certamente irão se deliciar com as excelentes sequências trabalhadas ao longo de Atômica.
A maioria dos veículos de entretenimento dedicou espaço para falar da tal cena de sexo entre Theron e Sofia Boutella. Realmente. Sexy, sim. Um pouco de nudes, sim. Gratuito? De forma alguma, até porque estabelece uma relação de mestre-aprendiz que apenas eleva a importância/força da agente secreta loira. Mas melhor que falar disso é lembrar do filtro azul usado na fotografia para dar um pouco desse ar de frieza do final da Guerra Fria e mostrar certo distanciamento dos personagens com as relações humanas – apesar da trepadinha básica.
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A trilha sonora é um outro ponto fundamental para a qualidade de Atômica. “Blue Monday”, do New Order, abre o longa-metragem servindo de trilha sonora para um esquisito correndo de roupão por Berlim. Logo após, durante uma sequência que chama os créditos iniciais e introduz Charlize Theron, temos “Cat People (Putting out Fire)”, de David Bowie. Nessa hora tive certeza que iria amar Atômica e que a agente secreta iria tocar o terror. Ainda tivemos George Michael, The Clash, Queen + David Bowie (“Under Pressure”), dentre outros.
Atômica é recomendado para quem amou Theron como a Furiosa de Mad Max: Estrada da Fúria e para quem não perde um filme de ação sequer. Esse aqui provavelmente estará no nosso ranking de melhores de 2017! É sempre um alívio quando conseguem combinar um pouco de cérebro no roteiro com porrada, sem que isso comprometa a inteligência do público e sua diversão. Atômica acerta em cheio nisso.