JASON REITMAN CHEGOU ÀQUELE MOMENTO NA CARREIRA em que gera expectativa só por estar lançando mais um filme de Jason Reitman. Desde Obrigado Por Fumar, ele emplacou Juno, Amor Sem Escalas, Jovens Adultos e Refém da Paixão, e chega com Homens, Mulheres e Filhos ao Festival do Rio com o status de um dos filmes mais aguardados da pré-temporada de premiações.
Se Reitman já é veterano e em pleno amadurecimento como contador de histórias, o diretor parece continuar interessado no difícil processo que é crescer. Essa é uma temática constante em seus filmes, independente da idade de seus personagens. No caso de Homens, Mulheres e Filhos isso fica ainda mais claro.
Tim Mooney (Ansel Elgort) decide abandonar o time de futebol do colégio após se dar conta de sua insignificância no universo, enquanto seu pai, Kent (Dean Norris), tenta lidar com o fato de que já não significa mais nada para a esposa que o abandonou para ir viver um romance na Califórnia. Chris Truby (Travis Tope) busca se descobrir sexualmente enquanto seus pais, Don (Adam Sandler) e Helen (Rosemarie DeWitt), descobrem que a falta de apetite sexual era de um pelo outro – não pelos outros. Hannah Clint (Olivia Crocicchia) quer ser rica e famosa e conta com a ajuda da mãe, Donna (Judy Greer), para expô-la ao máximo na internet. E Brandy (Kaitlyn Dever) tenta escapar das garras de Patrícia (Jennifer Garner), uma mãe que só quer protegê-la de predadores sexuais a todo custo.
Homens, Mulheres e Filhos pode parecer um filme adolescente, mas não é. É uma história sobre o quão doloroso pode ser aprender com a vida e seguir em frente – algo que não é fácil nem na juventude, nem na meia idade. É também sobre a proximidade que as redes sociais proporcionam e a distância que a internet nos impõe, e sobre a nossa tendência de nos acharmos o centro do universo, quando na verdade não passamos de pontinhos em uma das muitas galáxias.
É interessante a forma como o roteiro de Jason com Erin Cressida Wilson escolheu contar essa história. Primeiro, se apoia na maestria de Carl Sagan e seu Pálido Ponto Azul, cujo vídeo agora disponível no YouTube inspira o jovem Tim. Outra ajudinha vem das múltiplas telas – tanto do celular quanto do computador dos personagens – que são compartilhadas com o espectador em forma de balões, revelando o conteúdo das conversas que acontecem muitas vezes durante diálogos falados.
É interessante, mas não é suficiente. Sagan e sua Voyager, que viaja pelo espaço com amostras do que o ser humano criou, são invocados durante todo o filme para conduzir as transições da história. É bem verdade que esses momentos ganham pontos por serem narrados por Emma Thompson, mas logo parecem despropositados. Os SMS trocados entre os personagens são uma boa forma de integrar essas ferramentas à trama, mas é um recurso que a TV e a Netflix já incorporaram às suas séries. Ao mesmo tempo em que lhe dão dinamismo, eles parecem em alguns momentos uma desculpa para trazer à tona o bom e velho debate sobre nossa fixação por telas, como elas podem ter maior controle sobre nossas vidas do que imaginamos e como podemos não conhecer quem está por trás delas. E é aí que Homens, Mulheres e Filhos descarrilha, porque se entrega a um discurso sobre os malefícios da vida online, quando não se preocupa em desenvolver esses tantos personagens que se trombam durante a história, mais num estilo Crash do que à la, digamos, Amores Brutos.
Não que a discussão não seja válida, mas se há algo que nunca vai mudar na nossa relação com o cinema é a vontade de se emocionar com histórias de pessoas – são elas que nos movem. Nisso, Homens, Mulheres e Filhos fica devendo um tanto porque em alguns momentos não consegue ir além daquilo que se espera de um filme de high school. Em outros, traduz bem as angústias de ser adolescente e adulto. Mas, como é inevitável a comparação com outros trabalhos do diretor, seu novo filme não chega perto da graça de Juno, nem da ousadia de Obrigado Por Fumar e acaba ficando pelo meio do caminho.