Previsões do OSCAR 2013 – Parte II: Nathália Pandeló

Não estranhe se as piadas do Seth MacFarlane forem a parte mais surpreendente do Oscar. O diretor de Ted e indicado na categoria de Melhor Música pode querer dar uma de Ricky Gervais light na cerimônia (à la anúncio das indicações, que teve até piada sobre Hitler), mas a 85ª edição da festa continua seguindo o padrão dos anos anteriores: bastante previsível.

A galera da Academia sempre reserva uma surpresinha, mas, levando em consideração os votos dos sindicatos, dá pra ter uma ideia de quem vai sair vencedor. Esse sempre é um fator determinante, já que boa parte dos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas também vota nos prêmios de suas respectivas categorias, sendo os mais relevantes os sindicatos dos atores, diretores, produtores e roteiristas.

Com todos os filmes assistidos e o Globo de Ouro, o SAG, o PGA, o WGA e o DGA já entregues, dá pra fazer apostas firmes (ou quase). Eis as minhas:

Filme: Argo

Pesquisas indicam que 78,3% das pessoas que afirmam “não ter achado Argo lá essas coisas” foram influenciadas pelo nome do diretor no pôster. Ok, a pesquisa é inventada, mas que o Ben Affleck não tem moral dentro da própria indústria, todo mundo sabe desde pelo menos Contato de Risco. Mas eis que ele surge com um filme ainda mais ambicioso que seus dois anteriores, com um roteiro certeiro, rodeado de atores competentes e com uma direção de arte que ajuda a criar uma atmosfera que lembra muito dignamente os filmes dos saudosos anos 70. Entre os nove indicados, Argo e Django Livre são meus queridinhos. Mas fico com o do Ben Affleck pela capacidade de surpreender. Os votantes do PGA acharam a mesma coisa.

Diretor: Steven Spielberg

Não me leve a mal: não gostei de Lincoln tanto quanto você. Em um mundo perfeito, eu estaria agora dividida entre Ben Affleck, Paul Thomas Anderson e Quentin Tarantino (e votando no cara do banho de sangue no velho oeste), mas como não é esse o caso, acho que os eleitores da Academia vão acabar apostando no cavalo mais seguro (isso me lembra Cavalo de Guerra – argh). Michael Haneke é meio que um outsider (tirando esse perfil fake bri-lhan-te no Twitter) e tem um filme relativamente pouco assistido. Benh Zietlin é novato, o que não depõe contra ele, e fez um filme lindíssimo em Indomável Sonhadora, mas também é improvável. David O. Russell é competente, mas talvez não no nível de “melhor do ano” com O lado bom da vida. Ang Lee é, a meu ver, o único páreo pro Spielberg. Isso porque fez (novamente) um filme lindo e emocionante em As aventuras de Pi (e melhor que Lincoln, de muito longe!). Mas, como já vi O segredo de Brokeback Mountain perder pra Crash (!) – apesar de Lee ter levado o título de Melhor Diretor naquele ano -, não me parece que a Academia sabe reconhecer a beleza do que ele faz. Mas ei, é só um palpite.

Ator: Daniel Day-Lewis

Mais uma discrepância nessa categoria em relação ao Sindicato dos Atores: o melhor ator do ano não estava indicado ao prêmio do guilda – e esse é Joaquin Phoenix. Vai por mim: o Oscar só se define depois que você assiste O Mestre, mais recente filme de Paul Thomas Anderson. É aí que você começa a se perguntar porque cargas d’água aquele povo não deu uma colher de chá ao PTA (que é tão sensacional que está ganhando até especial aqui no Cinema de Buteco!) e indicou o filme na vaga que sobrou na categoria principal. Mas tudo bem. Phoenix já tinha desdenhado do Oscar, mas eu ficaria bem feliz de vê-lo palco e perder nessa categoria do bolão. Parece que o Lincoln de Daniel Day-Lewis (esse sim, vencedor do SAG e do Globo de Ouro) é imbatível. Por um lado, faz sentido. Ele carrega nos ombros um filme que tinha tudo pra ser um golaço (se o Paul Thomas Anderson tivesse dirigido… ok, parei) com a competência, elegância e dignidade já esperadas em sua atuação. É um voto preguiçoso, mas ele vai acabar levando.

Atriz: Jennifer Lawrence

Naomi Watts, Quvenzhané Wallis, Emanuelle Riva e Jessica Chastain são irrepreensíveis. De verdade. Elas sobrevivem ao tsunami (!), enfrentam um derrame, caçam Osama Bin Laden (!) e, correndo o risco de perder todo o seu mundo, são forçadas a crescer rápido demais. Todas elas entregam performances emocionantes, mas já podem aceitar: o careca dourado vai pra JLaw esse ano. Ela já foi indicada por Inverno da Alma, mas, mais madura agora, Lawrence tem uma das mais promissoras carreiras como atriz. Sua Tiffany acerta em cheio e tem o tom ideal para conquistar, ao mesmo tempo, sua reprovação e admiração. É ela que Jean Dujardin vai chamar ao palco.

Ator coadjuvante: Christoph Waltz

Não disse que ia ser previsível? Temos uma categoria cheia de atores já oscarizados, o que normalmente deixaria a disputa acirrada, mas não é o que acontece. O Hans Landa Dr. King Schultz é mais uma criação incrível de Quentin Tarantino e Waltz – e, como aprendemos em Bastardos Inglórios, funciona muito bem. Ele já levou o Globo de Ouro e o BAFTA por essa nova parceria, e dificilmente perderá o Oscar. Mas queria mesmo que fosse para o sempre incrível Philip Seymour Hoffman.

Atriz coadjuvantes: Anne Hathaway

Está no papo. Com suas quatro ou cinco cenas, Anne Hathaway ganhou o Oscar quando cantou I dreamed a dream. Não a julguem. O fato de ela estar em um filme do Tom Hooper é só um detalhe. Existem outras atrizes na competição? Não? Então vamos em frente.

Roteiro original: Quentin Tarantino

Gosto do Mark Boal, com sua pegada jornalística; gosto do Wes Anderson, com sua esquisitice. Mas Tarantino sempre foi um roteirista de mão cheia e prova isso com cenas e diálogos repletos de personalidade que se tornaram a marca registrada de um autor que construiu uma obra sólida e inconfundível. Engraçado, polêmico e sangrento, tudo em um filme só. Com o Leonardo DiCaprio dando voz àquelas falas. Nada mal.

Roteiro adaptado: Chris Terrio

Tony Kushner é um mestre (vide Angels in America), mas que. Filme. Chato! David O. Russell fez uma adaptação digna do livro de Matthew Quick (confira na coluna Buteco Literário), mas Chris Terrio trabalhou com não um, mas dois materiais originais para escrever Argo: um livro e um artigo de revista. Ao contrário de A hora mais escura de Boal, também baseado em uma agente da CIA real, o roteiro de Terrio cria um panorama de uma crise diplomática ao mesmo tempo em que transforma Tony Mendez em uma pessoa de verdade, cuja missão vai além de pegar o bandido ou salvar o mocinho. Estou para dizer que “Argo fuck yourself” vai ser a frase da noite.