Mais um Oscar que vem e mais um ano fraco que passa. Whiplash, Birdman e Boyhood são filmes que realmente chamaram a atenção e provavelmente vão sobreviver na memória dos cinéfilos. Agora quando vejo A Teoria de Tudo, O Jogo da Imitação, Sniper Americano e Foxcatcher entre os melhores filmes do ano, não que eles sejam totalmente ruins, mas tenho que concluir que este foi mais um ano fraco para o cinema.
Vamos aos palpites.
Melhor Filme – Boyhood
Boyhood será o grande vencedor da noite e não apenas para “premiar” o esforço de esperar 12 anos para terminar de filmar e montar o filme, mas sim por que de uma maneira extremamente realista, Richard Linklater nos conta uma história ordinariamente comum. O protagonista não engravida a namorada, não entra para uma gangue nem é um gênio da matemática. Ele é comum. No cinema nos acostumamos tanto com histórias fantásticas que chega a ficar difícil filmar uma história comum. É emocionante que mesmo dentro do ordinário, ver o protagonista formando seu caráter a partir dos eventos chaves de sua vida como o trauma de um corte de cabelo, ou o divórcio da mãe, ou a promessa quebrada de receber de presente o carro esporte do pai e assim por diante.
Melhor Diretor – Alejandro González Iñárritu – Birdmam
Se no ano passado deu 12 anos de escravidão, mas Gravidade levou o maior número de prêmios, este ano Boyhood leva o melhor filme e Birdman levará o maior número de prêmios, começando pela direção de Iñárritu que através de um malabarismo técnico realizou um filme num único grande plano seqüência impossível, inclusive com passagens de tempo, mas ao mesmo tempo, fazendo um passeio de câmera simulando o voo de um pássaro que remete a metalinguagem do personagem vivido por Keaton. São tantas as qualidades na direção de Birdman que até fica difícil analisar num parágrafo só.
Melhor Atriz – Julianne Moore – Para Sempre Alice
Chegou o ano de Julianne Moore, depois de Mapa para Estrelas e Para Sempre Alice parece que seu nome está virando uma unanimidade para receber o prêmio que coroa uma carreira sólida e ascendente. Eu particularmente gosto muito do trabalho que Marion Cotillard em Dois Dias, Uma Noite, e ela ganha minha torcida. Reese Witherspoon e Rosamund Pike também estão bem em seus trabalhos. Eu não entendi a indicação de Felicity Jones.
Melhor Ator – Eddie Redmayne – A Teoria de Tudo
Redmayne é o franco favorito para vencer este prêmio, mas minha torcida é para Michael Keaton, que é o único dos cinco indicados que não está vivendo um personagem real, ou seja, cujo filme não é uma biografia. Tem virado uma tendência a Academia premiar boas caracterizações frutos de filmes biográficos, mas confesso que está me cansando. Eu preferia premiar um bom trabalho de construção de personagem do que uma caraterização, mas enfim.
Melhor Atriz Coadjuvante – Patricia Arquete
Patricia Arquette chega com toda a força pra levar a estatueta pra casa. Eu particularmente não a teria indicado. Não que ela esteja mal no papel, mas não consigo enxergar neste trabalho uma atuação diferenciada e digna de premiação. Minha torcida fica mesmo para Laura Dern que interpreta em Livre uma mulher forte, independente e apaixonada pelos filhos e pela vida. Emma Stone está bem em seu papel em Birdman, Meryl Streep é mais do mesmo em Caminhos da Floresta e eu não entendi a indicação de Keira Knightley, eu a achei totalmente deslocada em O Jogo da Imitação.
Melhor Ator Coadjuvante – J.K. Simmons – Whiplash
A atuação de J.K. Simmons como Terence Fletcher em Whiplash é extremamente convincente, indo de um extremo ao outro ao explodir de raiva enquanto grita com seus pupilos, ou emocionando-se ao ouvir uma bela música. Outro grande destaque fica para Edward Norton que mesmo com pouco tempo de tela, brilha em Birdman. Robert Duvall também está bem em O Juiz. Mark Ruffalo e Ethan Hawke estão bem em seus trabalhos, mas a indicação ao Oscar dos dois deflagra o quanto o ano foi fraco de atuações marcantes.
Melhor Roteiro Original – Birdman
Birdman leva mais esta estatueta exatamente pela originalidade e fluidez do roteiro ter sido um dos fatores que possibilitou sua filmagem diferenciada.
Melhor Roteiro Adaptado – Whiplash
O roteiro de Whiplash é relativamente simples e objetivo. Sem fazer muitos rodeios, acompanha os acontecimentos na vida de Andrew Neyman relacionados com a sua carreira como músico, com pequenas inserções de sua vida pessoal, mas todas elas ajudam o espectador a entender o que a música significava para ele.
Melhor Filme Estrangeiro – Leviatã
Os cinco filmes deste ano estão abaixo do grande vencedor do ano passado A Grande Beleza. Ida é bem realizado, Relatos Selvagens é divertido, mas quem acaba levando é o drama russo Leviathan, que conseguiu trazer para as telas a opressão das entidades sobre o homem comum, num misto de O Processo de Franz Kafka e dramas familiares de Dostoiévsky. Tudo isso em meio a paisagens melancólicas e vodka como se não houvesse amanhã.