Não é novidade para ninguém que ainda temos uma indústria cinematográfica machista, com um claro domínio dos homens no que diz respeito à produção de filmes, roteiros, direção, termos técnicos e protagonistas. O Oscar reflete bem essa situação.
Desde a primeira edição da cerimônia em 1929, apenas quatro mulheres foram indicadas à categoria de melhor direção. Uma venceu. Vamos lembrar quem elas foram:
Kathryn Bigelow – vencedora em 2010 por Guerra ao Terror
Sofia Coppola – indicada em 2004 por Encontros e Desencontros
Jane Campion – indicada em 1994 por O Piano
Lina Wertmüller – indicada em 1977 por Pasqualino e Suas Belezas
Ou seja, a primeira mulher levou 48 anos para ser reconhecida pela Academia e a única a vencer só veio a acontecer na 82ª edição do evento. Ainda tem mais. Até o Oscar de 2009, era bastante comum vermos os diretores de filmes indicados à categoria de melhor filme repetindo a dose na de diretor (a partir daquele ano, a Academia permitiu que mais de cinco longas fossem selecionados). Nomes indicados ao DGA, prêmio do sindicato dos diretores, costumam fazer o mesmo, mas várias exceções femininas ocorreram nas últimas décadas.
Filmes de mulheres indicados ao Oscar de melhor filme, mas esnobados na direção:
Ava DuVernay, Selma (2014)*
Kathryn Bigelow, A Hora Mais Escura (2012)*
Debra Granik, Inverno da Alma (2010)*
Lisa Cholodenko, Minhas Mães e meu Pai (2010)*
Lone Scherfig, Educação (2009)*
Valerie Faris, Pequena Miss Sunshine (2006)
Barbra Streisand, O Príncipe das Marés (1991)
Randa Haines, Filhos do Silêncio (1986)
*Anos em que a Academia indicou mais de cinco filmes à categoria principal
Mulheres indicadas ao DGA e esnobadas no Oscar:
Kathryn Bigelow, A Hora Mais Escura (2012)
Valerie Faris, Pequena Miss Sunshine (2006)
Barbra Streisand, O Príncipe das Marés (1991)
Randa Haines, Filhos do Silêncio (1986)
Se levarmos em conta os anos em que tivemos apenas cinco filmes indicados, tivemos três mulheres esnobadas como diretoras. Destas, todas haviam sido reconhecidas pelo DGA anteriormente. Por quê? Não sei responder de fato, mas pode ser uma mistura de machismo, campanha mais forte de outros concorrentes e outros filmes cujos temas agradaram mais os membros da Academia. Haines foi trocada por David Lynch (Veludo Azul), Streisand por John Singleton (Os Donos da Rua) e Faris por Paul Greengrass (Voo 93).
E em 2015? Tivemos alguns filmes de destaque comandados por mulheres, mas nenhum foi reconhecido em premiações relevantes da indústria: Sarah Gavron (As Sufragistas), Marielle Heller (O Diário de uma Adolescente), Maya Forbes (Sentimentos que Curam), Anna Muylaert (Que Horas Ela Volta?), Patricia Riggen (Os 33). Não era de se esperar tais nomes no Oscar por diversos motivos: críticas fracas, campanha sem muita força, falta de reconhecimento em listas de associações de críticos influentes, produção estrangeira, entre outros.
O que explica números tão baixos na história em geral? Bom, como já dito no primeiro parágrafo, temos que lembrar que a quantidade de mulheres que dirigem filmes ainda é bastante pequena se comparada aos homens, especialmente no que diz respeito à grandes produções (blockbusters e longas Oscar-bait). Com menos títulos nos cinemas, as chances de serem reconhecidas pela Academia são consideravelmente menores.
E você, o que acha disso tudo? Os avanços na indústria existiram, mas são eles suficientes após quase 90 anos de existência do Oscar?