FESTIVAIS NÃO TÊM ESSE NOME À TOA. Festivais de cinema são a celebração daquilo que mais amamos neste site (até porque eles costumam ter álcool também). São as melhores oportunidades de conhecer os destaques do ano e ter uma prévia daquilo que dará o que falar aos cinéfilos.
Neste ano, o Cinema de Buteco teve a grande oportunidade de estar nos principais festivais nacionais e (tchã-nananã!) internacionais. Relembre as experiências dos jornalistas lá presentes conosco!
64º Festival de Berlim – 6 a 16/02 – por Lucas Paio
A Berlinale de 2014 teve presenças ilustres como Alain Resnais (que foi premiado por seu último filme poucas semanas antes de falecer), teve bate-papo com Martin Scorsese, teve Lars Von Trier e Shia LaBeouf criando polêmica pra variar. Mas como fui ao festival como simples mortal, sem credencial ou acesso aos bastidores, não presenciei nada disso.
Em compensação, já valeu a pena assistir a Praia do Futuro antes dos brasileiros, Ninfomaníaca antes dos cortes e Boyhood antes do hype, tudo em salas imensas para duas mil pessoas onde todos os assentos proporcionam uma boa visão. Só faltaram as caipirinhas grátis que a Larissa Padron conseguiu em Cannes, mas nada que uma boa cerveja alemã não tenha resolvido.
Fizemos um podcast especial sobre o festival, que você pode ouvir aqui e aprender o slogan do programa em alemão.
67º Festival de Cannes – 14 a 25/05 – por Larissa Padron
Foram 23 filmes, 5 coletivas de imprensa, dois blocos de anotação cheios, 18 vídeos editados, horas e horas de material bruto, quase uma centena de catálogos, poucas horas dormidas e muita olheira. Mas o principal saldo do Festival de Cannes foi o aprendizado de uma vida.
Estar no momento morando na Europa (mais precisamente em Portugal) me fez pensar: “Ei, porque não tentar uma credencial”. Surpreendente, consegui. O próximo passo foi aprender a passar 10 dias na Riviera francesa sem quase nada de dinheiro. Mais surpreendente ainda, consegui!
10 dias de festival e 4 mil jornalistas credenciados. Ainda assim, a organização era incrível. O dia a dia se resumia a acordar bem cedo, pegar a primeira fila da principal estreia do dia 7h, tentar assistir a 3 filmes por dia ou alguma coletiva, gravar vídeos sobre todos, passar anotações a limpo, planejar o dia seguinte…
Mesmo com toda a organização do festival, é preciso se organizar muito bem, a programação apertada, minha logística de deslocamento e 1h30 de fila por filme tornavam isso muito complicado. Não alcancei minha meta por perder dois filmes em competição.
Mas assisti a ótimas surpresas como Dois Dias, Uma Noite, Winter Sleep, Como Treinar o Seu Dragão 2, Relatos Selvagens, Maps to the Stars, Mommy, Leviathan, Acima das Nuvens e, o melhor, O Sal da Terra. Tiveram algumas decepções também, como El Ardor e a estreia do Ryan Gosling, mas deixamos para lá.
O que fica é a experiência jornalística e cinéfila inesquecível de ter participado de algo deste porte. E a vontade de descobrir em outros anos tudo o que ainda faltou.
Você pode conferir o Podcast sobre o Festival aqui e todos os vídeos feitos abaixo:
Festival do Rio 2014 – 24/9 a 8/10 – por Raphael Katyara
O Festival do Rio continua lindo. Apesar de não contar com o seu cinema mais antigo – o Odeon, como grande parte dos cinemas de rua do país, sofreu com o descaso político e a dissolução de sua imensa sala –, a edição armou-se na Lagoa – mais especificamente no bonito-mas-distante Lagoon – e manteve sua sede e centro de imprensa nas docas cariocas, lá no Armazém Utopia. Vá lá: os charmosos cinemas de rua do Estação, em Botafogo, continuam dando o “plus a mais” (como este narrador ouviu de uma famosa jornalista ao final da sessão de Whiplash) ao Festival; mas, convenhamos, ele perdeu em alcance: não há mais as sessões na praia, as principais salas continuam em estado precário ou sem estrutura adequada para receber o evento, há atrasos constantes nas sessões e mudanças de horários… Ou, bem, talvez isso tudo o torne ainda mais carioca.
É bem verdade que o público do Rio anda em falta com boas atrações, e o Festival tenta, com algum sucesso, cobrir essa lacuna. A Premiére Brasil é provavelmente um dos melhores exemplos disso: só esse ano, foram 69 títulos concorrendo ao Troféu Redentor, tão plurais quanto os badalados A Luneta do Tempo, dirigido por ninguém menos que Alceu Valença, e Cássia, elogiadíssimo doc sobre –er– Cássia Eller, como os premiados Sangue Azul, filme sobre incesto de Lírio Ferreira, e Casa Grande, de Fellipe Barbosa, que ainda não tem distribuidor.
A organização tem se esforçado para manter o Festival, e isso é louvável e bonito; mas a falta de estrutura faz, da maratona, “maratona”. O Festival do Rio continua lindo, sim. Mas falta virar gente grande. Não tenham dúvidas: o Buteco torce por isso.
Confira aqui a cobertura completa do Festival do Rio.
38º Mostra de São Paulo – 16 a 29/10 – por João Marcos Flores
Como ocorre todo ano lá pela metade de outubro, em 2014 minha vida deu um jeito de entrar em um micro-sabático de primavera para se dedicar exclusivamente à cobertura da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – e o prazer que a tarefa me proporciona não se deve apenas às dezenas de filmes (esse ano foram 54) oriundos dos mais remotos cantos do planeta que consigo assistir ao longo das duas semanas de duração do evento, mas também à deliciosa atmosfera que se cria nos arredores do circuito Paulista-Augusta-Frei Caneca com a chegada de amigos queridos, colegas cinéfilos, cineastas, críticos e blogueiros com quem passamos os dias trocando informações sobre os filmes e as sessões, conversando sobre os mais variados temas e, claro, tomando uma ou outra cerveja quando a estafa não nos impede.
Particularmente, fiquei bastante empolgado com a programação da 38ª edição da Mostra desde que as primeiras confirmações, oficiais ou não, começaram a circular a internet, pois além de manter a parceria com cineastas historicamente ligados ao festival, como Olivier Assayas, Lav Diaz, Nuri Bilge Ceylan, Amos Gitai e Atom Egoyan. Renata e sua equipe de curadores trouxeram em peso os filmes da competição do Festival de Cannes, além de preparar a melhor seleção de produções nacionais que eu já pude conferir. Ao final da maratona (e o leitor do Cinema de Buteco pôde conferir isso através da grande quantidade de críticas extremamente elogiosas), as altas expectativas se confirmaram e a Mostra mais uma vez cumpriu seu papel de oferecer ao espectador paulistano um menu com o que há de melhor no Cinema mundial contemporâneo.
Além de escrever críticas dos 54 filmes vistos (que você pode ler integralmente no site), tive a oportunidade de entrevistar os diretores brasileiros Paulo Henrique Fontenelle, Carolina Jabor e Murillo Salles, cujos Cássia, Boa Sorte e Aprendi a Jogar com Você me tocaram profundamente por motivos diversos. Além disso, o Instagram do Cinema de Buteco recebeu uma série de fotos dos bastidores da Mostra para fazer o leitor se sentir mais próximo ao evento.