– Sobre Caro Senhor Horten (O’Horten) posso dizer que foi minha primeira decepção do Indie deste ano. Explico. Filme que pretende ser comédia inteligente americana (daquelas em que personagens se auto-descobrem e com trilha sonora bonita e fofinha sabe?), mas não deixa pra trás a frieza dos filmes europeus. Fica sempre no meio do caminho a história de Odd Horten, que aos 67 anos se aposenta do ofício que ocupou boa parte da sua vida – ele conduz o trem de Bergen. A metáfora estabelecida (a vida do protagonista passa por ele, embora ele a conduza) é até válida, reforçada por imagens de trens, que o diretor (Brent Hamer da Noruega) sempre coloca em meio às ações. Momentos non-sense (o melhor são os personagens deslizando nas ruas congeladas), encontros com figuras estranhas (o melhor é o garotinho que toca bateria), mas nada que de fato possibilite identificação ou empatia com o tal senhor Horten. Filme de começo de tarde. Próximo!
– Forte candidato a melhor filme do festival, o que me motivou a ver Tokio! foi a participação de Michel Gondry dirigindo uma das três sequências que basicamente narram acontecimentos totalmente non-sense em Tóquio. Ficou a cargo dele contar a história de Interior Design, onde um casal tenta se adaptar à cidade, a despeito das dificuldades financeiras. A falta de referencial e de foco ajuda um pouco a se atrapalharem. Só resta a mocinha (que, não por acaso é a que mais batalha, enquanto o rapaz se contenta com um emprego de embrulhador) procurar um meio mais fácil de se sentir útil. Inevitável não se assustar com o rumo que a história toma. Impagável a cena em que a tal transformação se dá completamente. Não conto, surpresas de Gondry. Logo depois temos Merde: figura estranha que sai dos esgotos de Tóquio espalha terror e medo pelas ruas quando pratica hábitos nada habituais: come dinheiros e lambe axilas de transeuntes pra dizer o mínimo. O que começa meio estranho toma caminhos diversos. A cena do julgamento é uma das MAIS ENGRAÇADAS QUE VI NOS ÚLTIMOS TEMPOS: “Eles vivem muito, e seus olhos se parecem com os órgãos sexuais femininos”. Morri. É com certeza o melhor dos segmentos, este dirigido por Leos Caras. Finalmente Shaking Tokio, segmento com título quase auto explicativo: homem recluso do mundo e das relações à dez anos finalmente consegue olhar o outro, no caso uma entregadora de pizza com simpáticos botõezinhos tatuados, quando ela desmaia em sua sala. Tóquio treme e ele se apaixona. Extremamente metafórico. Um belo desfecho. Quem não viu perdeu. Mesmo…