Quando somos apresentados à Lukas (Rick Okon) o vemos em sua 25ª aplicação de testosterona. É um ritual que o aproxima daquilo que ele realmente é, já que Lukas nasceu com um corpo feminino embora se sinta um garoto. É sobre este desajuste e sobre as consequências disso para o olhar do outro e sobre si mesmo que trata Romeos, de Sabine Bernardi. E é a partir do momento em que é obrigado a trabalhar num alojamento feminino, que os conflitos aparecem, já que é complicado entender que desejos e que vontades estão no corpo e na mente de Lukas. O jovem terá que conviver com isso.
Quando se vê o espelho, quando se toca e quando vê o corpo dos outros rapazes, Lukas se sente perdido dentro de si mesmo, como que preso num corpo que não lhe pertence. O filme denuncia um despreparo das instituições para lidar com este tipo de situação. O transsexual demanda certos mecanismos que ainda não existe. O que vemos, acompanhando o drama de Lukas, é que não há lugar para eles, já que não há como encaixá-los, como categorizá-los. Nascido menina, Lukas quer ser mulher, mas sente atração pelo bonito e atrevido que conhece no caminho para uma festa: Fabio (que também possui seu desajuste, já que o fato de ser gay é um segredo para a família). Vê nele o corpo que sonha ter, ao mesmo tempo que o deseja. Os hormônios da adolescência dificultam sentimentos e a compreensão deles, sensação que de certa forma é captada pela câmera: há sempre um clima de “algo mais” no ar. A amizade sempre deixa brechas para o romance. Mas Lukas ainda não está pronto para se expor o suficiente a ponto de se relacionar.
A medida que o filme decorre, percebemos que as angústias daquele jovem só poderão de fato ser percebidas por ele, já que a incompreensão por parte do outro é algo com que ele tem que conviver. Ser um transsexual atrai interesses e curiosidades nada bem vindas. E os anseios vividos por Lukas são devidamente ilustrados pelo filme com gravações ao estilo caseiro gravadas por outros rapazes que passam por situações parecidas, como se o único refúgio possível fosse ao lado de seus iguais.
Com uma ótima trilha sonora e interpretações na medida certa, Romeos acaba sendo um filme leve apesar da abordagem, e cujo final mostra que a liberdade está ligada o tempo todo com aceitação de si mesmo. Recomendo.