critica mateo filme colombiano oscar 2015

Crítica: Mateo – Mostra de SP

38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo #51

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Representante de seu país na disputa por uma vaga no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015, Mateo extrai doçura de uma história tipicamente colombiana sobre um rapaz pobre cujo destino encontra-se dividido entre o crime organizado e vida de adolescente comum. Com um roteiro simples e uma direção apropriadamente naturalista, o longa de Maria Gamboa encanta pelo realismo de sua mise-en-scène e pelo entrosamento de seu elenco, usando suas locações humildes para intensificar a sensação de imersão em seu universo.

Escrito por Gamboa ao lado de Adriana Arjona, o longa gira em torno do personagem-título (Hernández), um adolescente de cerca de dezesseis anos que, ameaçado de ser expulso do colégio graças a seu comportamento rebelde e de casa por sua mãe (Gutiérrez) caso isso aconteça, trabalha coletando pagamentos para seu tio agiota Walter (Lazcano), que, por sua vez, passa a cobiçá-lo para ajudá-lo também em suas atividades como traficante de drogas. Mas quando é forçado a se juntar ao grupo de teatro liderado pelo padre do bairro (Botero) a fim de manter sua matrícula escolar (sendo logo “contratado” pelo tio para coletar informações acerca do abastecimento de maconha entre seus membros), Mateo se encanta por uma de suas participantes e passa gradativamente a se identificar com a vocação cênica, consequentemente colocando em risco suas conexões com seu parente criminoso.

Dedicando seus primeiros minutos ao retrato do dia-a-dia de seu protagonista, Mateo é eficiente ao estabelecer a vida daquele garoto como um beco sem saída: em um contexto dominado pela cultura do crime (como são as favelas do Rio de Janeiro, por exemplo) e sem grandes incentivos para lutar por um futuro melhor por meios legais – com a própria insistência intransigente de sua mãe surtindo o efeito contrário a suas intenções -, o jovem morador do subúrbio que vemos no longa sequer conhece outra condição que não seja a da pobreza ou a da ostentação comprada com o dinheiro sujo do narcotráfico.

Com uma câmera na mão semi-documental que confere fluidez à narrativa enquanto legitima a verdade de sua história, Gamboa cria uma estética realista que, com pouquíssimas exceções (como na cena em que a diretora move lateralmente sua câmera mostrando cada um dos novos colegas do protagonista enquanto este os apresenta em off), se anula para que o enfoque recaia sobre a interpretação de seus ótimos atores – e se Miriam Gutiérrez protagoniza o clímax emocional indiscutível da projeção em uma cena lindíssima em que sua personagem se coloca como uma leoa em defesa de seu filho, é mesmo o novato Carlos Hernández que carrega o longa nas costas, vivendo o personagem-título com carisma e sensibilidade, jamais transformando-o em um pirralho arrogante ou em um moralista recém-convertido, dois caminhos que, se seguidos, poderiam arruinar nossa empatia com o rapaz.

Investindo no drama (especialmente em seu terceiro ato) sem apelar para o choro fácil do espectador, Mateo é uma bela surpresa vinda de um país com tão pouca tradição cinematográfica – não chega a merecer uma vaga entre os cinco finalistas no Oscar, mas é um representante bastante digno de nossos vizinhos colombianos.

poster mateo mostra de sp

Mateo (Idem, Colômbia, 2014). Dirigido por Maria Gamboa. Escrito por Maria Gamboa e Adriana Arjona. Com Carlos Hernández, Felipe Botero, Samuel Lazcano e Miriam Gutiérrez.