Entrevista: Ygor Monroe (roteirista do curta Você Gosta de Filmes de Terror?)

Tivemos a oportunidade de bater um papo com o roteirista Ygor Monroe, idealizador do curta-metragem Você Gosta de Filmes de Terror?. A produção está prevista para ser lançada em 2025. Enquanto não assistimos ao curta ou agendamos uma entrevista em vídeo, veja o que Ygor tem a dizer sobre seu filme:

1 – Como surgiu a ideia do filme? 

Bem, inicialmente, “Você gosta de filmes de terror?” seria um livro. No entanto, devido a algumas situações muito gráficas, a ideia acabou sendo mais bem desenvolvida em algo mais visual. Quando comecei a escrever o roteiro pensando em um filme, logo imaginei algo sem diálogos, apenas com breves narrações e uma exploração visual mais explícita. A ideia nasceu de tudo que passei dos meus 9 anos até o momento atual. Durante esse período, experimentei uma virada de chave estranha na minha vida pessoal. Conforme os anos passavam, eu tinha sonhos cada vez mais pesados e mais entrelaçados com a minha realidade, muitos dos quais permanecem vivos na minha memória até hoje.

Curiosamente, parte do roteiro estava “escrita” quando eu tinha 12 anos. Eu tinha o hábito de anotar acontecimentos e sonhos em cadernos, os quais ainda mantenho preservados até hoje.

2 – O mundo dos sonhos é um campo vasto e atraente para desenvolvermos narrativas. O recente Skinimarinki e o livro Visão Noturna, de Tobias Carvalho, mergulham profundamente nesse tema. Para você, como é levar o mundo dos sonhos para o cinema?  

 

É divertido, fazer terror é divertido. Passei anos estudando, indo muito ao cinema e lendo muito sobre o assunto. É bizarro como a nossa mente é capaz de projetar certas coisas e como o universo é curioso ao incluir situações em nosso dia a dia. Sonhos, sejam eles sonhados à noite ou de olhos abertos, são a síntese que move a nossa sociedade; todo mundo tem um sonho, o meu, por exemplo, em breve todos vão ver (risos).

Por muito tempo, tive receio de ser tão expositivo com as coisas que acontecem dentro da minha mente. Quando escrevi o segundo ato do filme, chamado “O doce envenenamento da mente primitiva em transição para a pré-adolescência”, fiquei dias pensando se realmente deveria expor tanto a minha perspectiva. Bom, se ela é exagerada ou nada convencional, ficará por conta da opinião de quem assistir.

Por fim, abrir a minha caixinha de segredos, deixar que as pessoas entrem no ângulo mais perturbador da minha mente, é extremamente excitante.

3 – No filme existe um subtexto de conectar filmes violentos com pesadelos. Você acredita que a arte tem o poder de influenciar as pessoas, seja de forma positiva ou negativa? 

Sem dúvida, mas o lado positivo ou negativo entraria em uma narrativa de estudo de caso. Para ser menos superficial, posso compartilhar como isso se portou dentro da narrativa, tanto da minha vida quanto no filme.

Quando era jovem, tinha muita dificuldade em expressar qualquer tipo de sentimento. O primeiro acesso a sentimentos genuínos que tive foi vendo filmes de horror com um teor mais violento e gráfico. O medo, o desespero e a dor em tela tornaram-me uma pessoa mais sentimentalista. Claro, isso foi se desenvolvendo em cadeia com outros gêneros. Por exemplo, por mais piegas que seja, sempre espelhei minhas relações amorosas em amores de filmes de romance extremamente dramáticos com finais não tão felizes.

Do meu ponto de vista pessoal, a experiência de sentir é a maior conquista de qualquer filme. Marcar a vida de uma pessoa ao ponto dela lembrar da sua obra de uma forma tão forte é algo que beira o mágico.

4 – O que você quer dizer quando fala que a intenção do filme é explorar costumes antigos de filmes do gênero ao invés de ser literal, como as produções mais recentes? Pode citar exemplos para ilustrar? 

O cinema que temos hoje em dia é justamente resultado de uma transformação baseada em tendências. Por exemplo, no passado era comum assistir a filmes sem diálogos, apenas cenas expositivas.

A ideia do meu filme é resgatar esse costume, no entanto, em um contexto diferente. Isso pode ser facilmente ilustrado se pensarmos, por exemplo, na obra “Martyrs”, dirigida por Pascal Laugier, lançada em 2008. O filme poderia não ter diálogo algum, e ainda assim entenderíamos facilmente o que está acontecendo.

Uma boa fotografia e direção de arte resultam em cenas que se contam sozinhas apenas com o visual. Outro exemplo claro é o divisor de águas de Dario Argento, “Suspiria”, lançado em 1977, que não conta a história apenas através da fotografia, mas também da exploração de cores e trilha sonora.

5 – O curta não possui diálogos. Quero entender os motivos que levaram para essa opção? É uma conexão com o mundo dos sonhos, em que nosso inconsciente cria situações em que a gente não necessariamente precisa falar para fazer acontecer? 

Sim, sua visão se alinha muito bem com a ideia que quero transmitir. Além desse ponto de vista, desejo que as pessoas enxerguem as situações da mesma forma que eu as percebo, que compreendam cada acontecimento como eu os entendi. O filme propõe uma abordagem sem a presença de um vilão ou mocinho convencional, e tampouco utiliza diálogos expositivos. No entanto, a intenção é que o espectador sempre compreenda o que está ocorrendo e como cada evento pode influenciar diretamente o desenvolvimento da narrativa.

É interessante notar que, apesar da ausência de diálogos ao longo do filme, há um monólogo nos créditos finais. Esse monólogo proporciona uma ponte de reflexão, uma espécie de epílogo verbal que complementa e acrescenta camadas adicionais à experiência cinematográfica.

6 – Entendo que a música possui uma importância muito grande dentro da produção. Pode falar mais sobre como a música influenciou na produção do filme? 

O filme e a música! Quando comecei a compor as músicas que fariam parte da trilha sonora, tomei cuidado para que cada uma delas contasse uma parte da história. O filme está presente ao longo de todo o curso da minha vida. Assim como o filme explora situações que vivenciei refletidas nos meus sonhos, a música desempenha um papel fundamental ao corroborar com os acontecimentos da narrativa.

 

arte você gosta de filmes de terrorDO YOU LIKE HORROR MOVIES

“Do you like horror movies?” mergulha nas profundezas da mente de um indivíduo em transição para a pré-adolescência, cuja vida é entrelaçada com experiências sobrenaturais e sonhos intensos. Em busca da verdade sobre seus sentimentos, o protagonista compartilha a jornada desde a infância, marcada por uma dualidade entre emoções intensas e uma fachada aparentemente inabalável.

A narrativa se desdobra a partir de um evento noturno traumático envolvendo uma explosão de transformador, lançando o protagonista em um mundo de pesadelos que se tornam cada vez mais perturbadores. A linha tênue entre realidade e sonhos se desvanece, enquanto o protagonista enfrenta visões de luzes misteriosas, figuras sobrenaturais e o impacto profundo em suas relações familiares.

A história evolui para explorar a relação do protagonista com o gênero de terror, revelando como os filmes assustadores se tornam uma via expressa para seus sentimentos mais genuínos, seja medo, raiva, adrenalina ou até mesmo paixão descontrolada. O filme questiona se os sonhos são uma bênção ou uma maldição, à medida que o protagonista tenta decifrar as mensagens codificadas em suas experiências noturnas.

Ao confrontar uma árvore macabra em seus sonhos, o protagonista se vê envolvido em eventos reais relacionados a tragédias passadas, desencadeando uma série de acontecimentos sombrios e perturbadores. A trama questiona o impacto dos sonhos na vida cotidiana e desafia a dicotomia entre luz e sombras, bem e mal, em uma busca por compreensão além das fronteiras convencionais da realidade.