Em seis anos de The Walking Dead a irregularidade é um de seus principais pontos. Para o bem ou para o mal, tivemos episódios arrepiantes (nesta temporada mesmo foram três puta episódios) e outros bem merdas. No entanto, se o saldo negativo fosse maior, dificilmente estaríamos todos aqui reclamando putos da vida porque a série simplesmente manteve o seu padrão nos segundos finais de “Last Day on Earth”.
Com 90 minutos de duração, o capítulo 16 se dividiu entre mostrar Morgan procurando Carol e as tentativas frustradas de Rick levar Maggie até o médico em Hilltop. Não me recordo de nenhum outro momento da série que tivesse tanta expectativa agindo a favor da construção do suspense. Os telespectadores ficam com o coração na boca o tempo inteiro torcendo para Rick e seus amigos escaparem das garras dos Salvadores, mas nem sempre podemos ter o que queremos, já dizia Mick Jagger.
A introdução possui o som de um batimento cardíaco e faz um diálogo interessante com um cartaz encontrado por Morgan: “Você está vivo.” Sim. Nossos personagens ainda estão vivos, mas a trilha sonora nos deixa angustiados com a sensação de que a sorte não estará ao lado de Rick e cia desta vez. É uma preparação perfeita para o que está por vir.
Antes de deixarem Alexandria, Rick tem uma conversa com o Padre Gabriel, que se tornou num outro homem. A transformação do cara e a tomada em que ele aparece imponente com o céu azul no fundo confirma essa nova fase de Gabriel.
Um bom momento do episódio envolveu uma pequena conversa entre Abraham e Sasha sobre tentarem repetir o que Glenn e Maggie fizeram. Uma das funções dessa cena é deixar o telespectador apreensivo com a possibilidade de Abraham acabar morto, outra é tentar continuar a trabalhar com a humanidade dele e sua vontade de “sossegar”.
Por último, antes de entrarmos no que realmente interessa em “Last Day on Earth”, o plot de Morgan e Carol ficou abaixo das expectativas e só teve a utilidade de confirmar que o homem de armadura no episódio anterior é realmente o morador de uma comunidade até então desconhecida. Como escrevi em críticas anteriores, gosto muito da mudança no comportamento de Carol. Porém, desta vez, o roteiro não deu conta de explorar esse conflito tão bem e por incrível que pareça tornou o arco da personagem chato pela primeira vez em anos. (Aproveitando, já que recebi o pedido de parar de ignorar os defeitos da série, que absurdo é esse de Morgan chegar sem ser notado e conseguir salvar Carol da morte? Ele estava com um cavalo, cara! Como ele ia silenciar o barulho dos cascos no asfalto? Além de monge, ele é mágico?)
A trilha sonora da introdução é essencial para garantir a sensação de enclausuramento que o episódio transmite o tempo inteiro. A jornada de Rick até Hilltop se torna um jogo de gato e rato, no qual o nosso herói sequer tem ideia da desvantagem em que se encontra. A cada novo caminho que pegam na estrada, a turma se depara com grupos cada vez maiores dos Salvadores. Uma verdadeira estratégia de intimidação para deixar clara a mensagem: você não matou nem metade de nós, seu babaca. A atuação de Andrew Lincoln é arrepiante, na medida em que ele vai aceitando que se meteu num problemão. Fazia tempos que a gente não via aquela expressão maníaca no seu rosto e fica ainda maior depois que eles descobrem que caíram direitinho no plano maquiavélico do líder dos Salvadores.
Negan (Jeffrey Dean Morgan) prometia ser o maior vilão da história de The Walking Dead e cumpriu isso com louvor. Foda-se o Governador. Quem é o Governador, cara? Com um monólogo inspirado (e uma atuação altamente irônica de Morgan) e uma valorização inteligente graças aos planos contra-plongee (que o ângulo da câmera pegando de baixo para cima, o que significa dar poder e superioridade para determinado personagem em ação – no caso, Negan se torna um gigante diante todos os heróis ajoelhados) e aos closes no rosto e expressões dos personagens, Negan nos deixa boquiabertos num misto de medo e ansiedade. A gente sabe que ele será o responsável pela morte de alguém, mas quem? E eu não imaginava que Dean Morgan apareceria tão bem em cena.
Tudo caminhava para ser um episódio fenomenal para encerrar com chave de ouro. Negan torturava os personagens e os telespectadores. O desfecho fatal seria inevitável, mas a dúvida persistia: será que manteriam a morte das HQs ou trocariam a vítima? Conversando com o Rafael Façanha, do principal site brasileiro de The Walking Dead, comentei do meu medo de “Last Day on Earth” acabar sem a tal morte. Afinal, estamos falando da série especialista em frustrar seu público fiel, não é mesmo? Depois de uma cena breve, mas que pareceu durar uma eternidade, Negan finalmente escolheu a sua vítima, mas a impressão foi que nada aconteceu para saciar a nossa curiosidade. Tiraram o doce da gente!
Mas aos telespectadores restou apenas o suspense, já que após a vítima ser golpeada temos o uso de uma câmera subjetiva para mostrar através dos olhos da vítima. Isso significa que pela terceira vez apenas nessa temporada, The Walking Dead brinca com o seu público e cria um suspense desnecessário para confirmarmos a identidade do pobre coitado que ficou íntimo de Lucille.
Apesar da frustração com a maneira com que essa morte foi tratada na season finale, não podemos deixar de reconhecer que “Last Day on Earth” representou um momento inesquecível na mitologia da série e um personagem ameaçador que nos conquista logo na sua primeira fala: “E aí? Já mijaram nas calças?“. Um final cagado não pode ser maior que todos os minutos anteriores, especialmente por toda apresentação brilhante de Negan.
Agora é sentar, chorar e esperar até outubro. Ou até semana que vem para conferir a segunda temporada de Fear the Walking Dead. Outra opção é finalmente desistir de vez da série depois desses seis anos. Qual será a sua decisão?