Review Anora: Filme ganhador da Palma de Ouro atualiza a imagem da prostituta no cinema [48ª Mostra Internacional de SP]

Sean Baker é um diretor que gosta de brincar com ícones norte-americanos, de Disney em “Projeto Flórida” aos donuts de “Red Rocket”, em “Anora” no entanto não é um lugar ou algo, mas sim um gênero cinematográfico, a comédia romântica, e chega a ser metafórico que a crítica da Variety tenha escrito que “o filme faz Uma Linda Mulher parecer um filme da Disney”.

Mas vamos ao que interessa, a Anora do título é o nome da protagonista (interpretada bravamente por Mikey Madison), uma stripper que trabalha em um club de Nova York, em certa noite conhece um jovem nepo-baby filho de um oligarca russo bilionário, que fica tão interessado em seus serviços, que decide passar a semana com ela, e em seguida se casam em Las Vegas, é claro que isso é motivo de choque para os pais do garoto, que ordenam que um grupo de capangas conhecidos da família os forcem a anular o casamento.

Típica comédia americana, certo? Errado, estamos dentro de um filme do Sean Baker, e isso significa que o golpe vem mais cedo ou mais tarde, mas enquanto ele não vem, o diretor entretém o espectador com o que ele sabe fazer de melhor, possibilitar que pessoas comuns desfrutem de um dia (ou um período) na rotina caótica de pessoas que normalmente que vivem à margem da sociedade. E nesse passeio caótico ele também permite que caminhemos pelas ruas da cidade através de sua câmera, que faz questão de andar junto com os personagens, ele também mostra diferentes tipos de cultura que coexistem nos Estados Unidos, nesse caso, a comunidade russa e armênia. E tudo isso enquanto o caos come solto, talvez um olhar superficial não veja a beleza de toda essa riqueza de detalhes.

O final surpreendente já virou uma marca do diretor, assisti recentemente “Red Rocket” e fiquei impressionado como o final me fez refletir e mudar minha percepção sobre tudo que tinha visto até então, e o que Sean Baker vem fazendo com seus finais não é apenas surpreender, mas deixar que o público entenda sobre o que é seu filme apenas na última cena, e ele faz isso de maneira brilhante em “Anora”.

O filme está na programação da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e estreia em mais salas no dia 31 de outubro.