Review Ainda Estou Aqui: Walter Salles conta um pedaço (importante) da história do Brasil através de uma família [48ª Mostra Internacional de SP]

“Ainda Estou Aqui” já pode ser considerado um fenômeno mesmo antes de sua estreia oficial, tudo começou com o Festival de Veneza, que rendeu o prêmio (merecido) de melhor roteiro, depois veio papo sobre Oscar, vídeos que viralizaram nas redes sociais, festivais de NY e Toronto, e por aí vai. A essa altura, quase todo mundo já sabe sobre o que o filme trata, a trajetória de Eunice Paiva (Fernanda Torres) lidando com o desaparecimento do marido Rubens Paiva (Selton Mello) durante a ditadura militar.

Ao mesmo tempo que esse tipo de engajamento contribui para o filme, ele também pode prejudicar a experiência do público, do tipo, o filme inteiro está no trailer, ou entrevistas que expõe fatos sobre conclusões da história, afinal estamos falando sobre uma história real. E justamente por isso, é louvável como o roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega consegue segurar o espectador, numa narrativa dividida em quatro etapas. A primeira é apresentação da família, bem novela da Globo, e daquelas do Manoel Carlos, família rica perfeita, casa em frente a praia na zona sul, bossa nova e conversas culturais. A segunda vira um filme de suspense, o terror da ditadura, que invade a casa e acaba com aquela família feliz. Falar das outras etapas seriam spoiler, se é que dá pra dar spoiler numa história dessas, mas gosto muito da maneira como o diretor Walter Salles contrapõem as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, e gosto inclusive como ele de certa forma homenageia São Paulo, que apesar de feia e nublada, se mostra uma personagem importante na vida daquela família.

“Ainda Estou Aqui” é um filme simples e complexo ao mesmo tempo, complexo porque fala sobre um pedaço importante da história do Brasil através de uma família, mas principalmente pela passagem do tempo, que acompanha todos os membros que restaram daquela família. Mas é também simples pela sua estrutura, é um filme clássico em sua narrativa, a jornada de uma mulher em busca de justiça, sem grandes reviravoltas, sem melodrama, e ser simples nesse caso é um baita de um elogio.

O elenco do filme está em completa harmonia, é interessante inclusive analisar as diferentes gerações de atores brasileiros, temos a maior atriz brasileira Fernanda Montenegro contracenando com Olivia Torres (que começou com Malhação) e vários outros jovens atores, e é impressionante notar que esses jovens estão ali, pau a pau com a velha guarda da atuação. Dito isso, o filme é mesmo de Fernanda Torres, numa performance elegante, discreta e comovente, que emociona ainda mais quando não diz nada.

Em cartaz durante apenas quatro sessões durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme estreia oficialmente nos cinemas de todo Brasil no dia 07 de novembro.