Preciso admitir que antes de Stoner, eu nunca havia ouvido falar de John Williams. Graças a editora Rádio Londres, essa obra surpreendente parou em minhas mãos. Mas eu não era o único a não conhecer a obra. O Livro foi resgatado de um esquecimento de 50 anos por nomes como Ian McEwan e Julian Barnes. Em uma matéria publicada pelo O Globo, vi que o tempo foi bondoso com este romance. Escrito em 1965, “Stoner” vendeu 2 mil cópias, recebeu uma resenha curta na revista “The New Yorker” — e desapareceu. Nem o fato de seu autor ganhar o National Book Awards em 1972, por “Augustus”, salvou sua obra do esquecimento. O obituário de Williams o qualificava apenas como “editor e professor de inglês”.
O sucesso mundial começou aos poucos. Primeiro o autor Colum McCann publicou um artigo no The Guardian, em seguida, a francesa Anna Gavalda se interessou e pediu uma tradução da obra. Daí em diante, Williams virou assunto entre Ian McEwan, Barnes e até Tom Hanks, se tornando um sucesso na Europa durante o ano de 2013.
“William Stoner entrou na Universidade do Missouri como calouro no ano de 1910 com a idade de dezenove anos. Oito anos depois, no auge da Primeira Guerra Mundial, recebeu o diploma de doutorado e assumiu um cargo na mesma universidade, onde lecionou até a sua morte em 1956. Nunca subiu na carreira acima da posição de professor assistente, e poucos estudantes lembraram dele com alguma nitidez após terem cursado suas disciplinas. Quando morreu, seus colegas doaram à biblioteca da universidade um manuscrito medieval em sua memória. Esse manuscrito ainda pode ser encontrado no “Acervo dos Livros Raros”, com a inscrição: “Doado à Biblioteca da Universidade do Missouri. Em memória de William Stoner, departamento de Inglês, por seus colegas”.
Esta obra é uma verdadeira declaração de amor à literatura e à educação. Em “Stoner”, John Williams narra 50 anos da vida de um homem comum, pacato e sem nenhum tipo de extravagância, por meio de uma escrita simples e elegante. É um livro envolvente e equilibrado que fala sobre o amor, a paternidade e o envelhecimento de maneira única.
“Às vezes, imerso em seus livros, vinha-lhe a consciência de tudo que ele não sabia, de tudo que ele não lera. E a serenidade para a qual trabalhava tanto ficava abalada quando se dava conta do pouco tempo que tinha na vida para ler tanta coisa, para aprender o que tinha de saber”.
Nele, William Stoner é filho de humildes camponeses, destinado a trabalhar a terra como seus antepassados, mas que, quase por acaso, acaba tomando um caminho diferente e, motivado por sua paixão pela literatura, torna-se professor universitário. Williams mostra ao leitor como a queda da bolsa de 1929, as duas grandes guerras e Pearl Harbor repercutiram na sociedade americana e na vida universitária.
Mas afinal, como que a história de um protagonista seco, banal e sem tantas motivações consegue nos prender tanto? Nessa simplicidade que pude perceber que não é preciso tanto para criar uma obra tão bela e memorável. Williams cria uma narração simples, direta (que já sabemos o fim logo de cara), mas ainda sim, simples e bela! Como na vida. Uma história que poderia ser facilmente a de qualquer um.
“Enquanto consertava sua mobília e a arrumava no escritório, era a si mesmo que ele estava lentamente dando forma, era em si mesmo que estava pondo alguma espécie de ordem, era a si mesmo que estava dando uma chance”.
Uma obra delicada que nos faz refletir sobre a nossa forma de criação e nos questionar se podemos ou não superar a educação que recebemos, trilhando o próprio caminho e escolhendo nossos próprios valores.
“Em seu quadragésimo terceiro ano William Stoner aprendeu o que outros, muito mais jovens que ele, tinham aprendido antes dele: que a pessoa que se ama no começo não é a pessoa que enfim se ama, e que o amor não é um fim mas um processo através do qual uma pessoa experimenta conhecer outra.”
Ficha Técnica:
Capa dura: 320 páginas
Editora: Rádio Londres; Edição: 2ª (1 de janeiro de 2015)
Idioma: Português
ISBN-10: 8567861144
ISBN-13: 978-8567861142