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Crítica: A Noite Devorou o Mundo (2018)

Poster a noite devorou o mundoO CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica de A Noite Devorou o Mundo possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.

APÓS UMA BALADA NA CASA DE SUA EX-NAMORADA, um homem acorda numa Paris totalmente invadida por mortos-vivos.

Assim como acontece no outro grande exemplar do subgênero “filmes de zumbis” de 2018, Cargo, o tema principal de A Noite Devorou o Mundo deixa de falar sobre os zumbis e prefere acompanhar questões como a solidão, distanciamento e falta de esperança.

Claro que Cargo caminha para um universo maior em que o protagonista lida com suas perdas e destino na companhia de um recém-nascido, porém acompanhamos todas as suas reflexões diante esse mundo em que ele é apenas uma poeira estelar. Exatamente o mesmo dilema de A Noite Devorou o Mundo.

O roteiro não esquenta a cabeça em buscar explicações para o que está acontecendo – porque não faz a menor diferença para o desenvolvimento narrativo. Pode ser um grande problema para determinados espectadores sedentos pelo máximo de informações, detalhes etc.

Sam (Anders Danielsen Lie) surge logo como um homem solitário, incapaz de se adequar ao ambiente em que está – vide seu desconforto com a alegria festiva das pessoas nos minutos iniciais da obra. Quando acorda pela manhã, quase que como a realização de um sonho de fazer as pessoas desaparecerem, Sam descobre que algo deu muito errado.

Impedido de deixar o prédio, ele logo descobre que é o único sobrevivente do edifício e precisa se esforçar para manter a sanidade. Ele aparece correndo pelos corredores, tocando bateria, fazendo suas músicas e tentando viver com o que tem. De certa forma, conformado com sua situação e vivendo uma ilusão de que está tudo bem.

Como fã de produções de zumbis, A Noite Devorou o Mundo me faz pensar diretamente em Colin, que desprovido de todo esse orçamento e produção, narra a história de um homem que morre após ser mordido e vaga pela cidade consumida pelos mortos. Sim, no caso, é uma obra na perspectiva de um zumbi, mas possui em comum um personagem vivendo sozinho num mundo gigantesco.

Viver é uma experiência dolorosa e quando o roteiro pega um personagem com ares depressivos e o transforma no único sobrevivente que se tem conhecimento, é um verdadeiro golpe em cada um de nós que se identifica com essa sensação. Sem ter preocupação social, vivemos aquilo que imaginamos ser o que nos torna mais felizes.

No entanto, aos poucos, Sam passa por uma verdadeira transformação que o faz entender que é preciso lutar para viver e encontrar a felicidade. Quando ele inicia uma relação com um zumbi (quase a versão da bola Wilson, de Náufrago), as coisas começam a ficar mais claras sobre a importância de buscar outros sobreviventes.

Caso você ame filmes de zumbis com cenas constantes de perseguições, cabeças sendo esmagadas etc, talvez tenha uma certa dificuldade em aceitar a beleza de A Noite Devorou o Mundo. É uma obra para causar reflexão, e as cenas mais agitadas que existem são apenas consequências de viver num mundo apocalíptico.

Recomendo fortemente!