de Andrew Stanton. Com as vozes de Fred Willard, Sigourney Weaver, Jeff Garlin, John Ratzenberger, Kathy Najimy, Elissa Knight.
WALL•E , é uma experiência arriscada para os criadores da Pixar: é uma história, que em termos de inventividade será dificilmente superada pelo estúdio, conhecido sobretudo por sua capacidade de criar surpreendente e cujo padrão de qualidade é notório. O fato é que WALL•E é o melhor filme por eles realizado até hoje, e o mais ambicioso, pois investe numa narrativa que se dá praticamente em duas partes sendo que a primeira não possui praticamente nenhum diálogo, e a segunda nos apresenta referências diretas a uma obra prima do cinema: 2001: Uma odisséia no Espaço de Kubrick. Mas vamos por partes.
Na primeira parte da história, somos apresentados a WALL•E, o último de uma série de robôs que foi deixada na Terra com uma missão: limpá-la até que o planeta esteja novamente preparado para receber vida humana. WALL•E sobrevive com as peças que os outros robôs deixam e segue incansável em sua rotina diária, somente tendo como companhia uma baratinha esperta e os objetos que encontra no meio do lixo, que guarda por achar curiosos ou diferentes. Esta rotina só muda com a chegada de EVA, uma sonda enviada para encontrar vestígios de vida, para que os humanos que vivem em uma estação espacial possam voltar a Terra, agora com uma garantia de que possam viver ali novamente.
A segunda parte da história nos mostra a estação onde estes humanos vivem: cercados de um aparato tecnológico que lhes permite viver num completo “conforto” (o que para eles significa o menor esforço), onde tudo é controlado por máquinas para que nada saia do controle. Qualquer variação no programado já representa uma falha a ser corrigida. É pra lá que EVA tem que se dirigir quando encontra, no meio dos objetos arquivados por WALL•E, uma plantinha que o robô conservou numa bota velha. Embora este pequeno ramo ainda esteja intacto, não é garantia de que a vida possa realmente voltar a existir na Terra.
Mas junto da nave onde EVA retorna à estação está WALL•E, que apaixonado pela robô-sonda (inspirado por um musical no qual está um casal que vive feliz, ele também acha que deva encontrar seu par!), decide segui-la. A chegada do robô à estação muda totalmente a rotina de humanos e robôs que lá vivem. E é aqui que as refêrencias (visuais e conceituais) a 2001 começam…
É que, com a chegada de WALL•E e da plantinha na estação, novas possibilidades se apresentam aos humanos e aos robôs. Algo que os obriga a ver as coisas e a agir de forma nova, diferente do que haviam feito até então. Quando passam a viver na estação perdem a sua capacidade criativa e criadora, o “fazer”, seu ser no mundo (dado fundamental quando se trata do homem). Não existe mais individualidade. A busca por conforto e facilidades, tornou os homem alienado, distante das verdadeiras capacidades que possui, ficando tudo a cargo das máquinas. Tudo é milimetricamente pensado e concebido segundo programações para que nada dê errado ou saia do controle. Só que, assim como no filme de Kubrick, quando se dá muitas responsabilidades às máquinas, as coisas podem se tornar perigosas para o homem.
Assim como o robô HAL 9000, que totamente voltado para o sucesso da missão Discovery enviada a Júpiter para investigar a origem de um estranho monolito, não exita em exterminar a toda a tripulação nem que para isso tenha que desobedecer as ordens de Dave, temos aqui também o “Piloto automático”: por achar que a Terra não possui mais condições de abrigar a vida, passa a fazer de tudo para que a viagem de volta não se dê, a despeito das ordens do capitão.
E não há como não relacionar a plantinha de WALL•E com o Monolito de 2001 quando os dois, em contato com humanos (direto ou indireto) causam uma mudança em seus hábitos (a planta passa a impulsoná-los a uma viagem de volta pra casa e o Monolito, em sua primeira aparição provoca aquilo que se pode chamar de “surgimento da racionalidade” nos hominídeos). E Stanton faz uma opção muito interessante ao inserir a música Assim falou Zarathustra, no momento em que o piloto passa a ser mais autônomo assim como o fez Kubrick.
O perfeccionismo do diretor pode ser percebido até nos créditos finais, quando mostra-se, em poucos segundos uma espécie de “depois da história” utilizando belas animações.
O valor da individualidade, tanto em humanos quanto em robôs, sendo o “indivíduo” aquele que foge dos padrões, é exaltado no filme de Stanton, que ganha pontos por passar uma mensagem tão rica às crianças e impressionar aos adultos. Vale a pena.