MELISSA MCCARTHY JÁ ERA CONHECIDA DO PÚBLICO DESDE A SUA PARTICIPAÇÃO NA SÉRIE GILMORE GIRLS, mas foi só depois de Missão: Madrinha de Casamento que sua carreira realmente decolou. Não é para menos, já que a atriz é bastante carismática e consegue divertir de verdade o espectador, independente dos seus filmes serem bons ou não, como é quase o caso de Uma Ladra Sem Limites. A química entre McCarthy e Jason Bateman salva o novo trabalho do cineasta Seth Gordon, que dirigiu Bateman no recente Quero Matar Meu Chefe.
Sandy Patterson (Bateman) é uma daquelas pessoas bobonas que todos conhecemos. Apesar de ser um excelente profissional, ele é constantemente sacaneado pelo seu chefe (Jon Favreau, o guarda-costas Happy, de Homem de Ferro) e acredita que coisas boas acontecem com pessoas boas. Tadinho. Depois de demonstrar sua inocência num trote telefônico, seus dados são clonados por uma mulher que assume sua identidade (sinceramente, com esse nome, eu diria que ele era o estelionatário da situação) e passa a gastar todo o seu dinheiro. Sandy precisa viajar para outra cidade e “sequestrar” a personagem de McCarthy para provar sua inocência. É claro que a viagem não será nada tranquila, especialmente quando dois grupos de caçadores de recompensas estão na cola da ladra sem limites do título.
Enquanto trocava impressões sobre o filme com o crítico Eduardo Monteiro, colaborador do Cinema de Buteco e editor do Cinema Sem Erros, ele comentou sobre a semelhança entre McCarthy e Zach Galifianakis. Provavelmente muitas pessoas irão concordar que os trejeitos femininos da comediante são o par perfeito para as maluquices do gordinho da trilogia Se Beber, Não Case!. Aliás, McCarthy está no elenco do último filme da franquia. E é uma coincidência tremenda (ou não) perceber as várias semelhanças entre Uma Ladra Sem Limites com Um Parto de Viagem, que é estrelado por Galifianakis. Ambos são road movies que brincam com o conflito entre dois personagens completamente opostos. No seu filme, Robert Downey Jr. é um sujeito rabugento e sem o menor amor pela vida, enquanto Bateman dá vida para um homem que sempre agiu do jeito certo e precisava aprender a fugir das regras. A vida de ambos muda quando se encontram com os psicologicamente instáveis personagens de Galifianakis e McCarthy, respectivamente. Tanto um quanto o outro são extremamente carentes e fazem as piores decisões do mundo achando que irão trazer algo de bom para o próximo. No caso de McCarthy é pior por se tratar de um crime, mas não há maldade em suas ações.
McCarthy é responsável pelo 171 mais divertido do cinema nos últimos anos. Ao invés de ficar com raiva da criminosa, o espectador terá uma chance imensa de sentir pena dela. O roteiro é inteligente ao dar várias pistas das motivações da “vilã” para levar aquela vida. Um exemplo é a cena em que ela decide pagar a conta de todas as pessoas do bar. Por trás de toda aquela graça (com direito a uma sequência hilária de dança), descobrimos que ela só quer ser aceita e encontrar o amor familiar que sempre lhe faltou. Por tudo que aconteceu em sua vida, ela acredita que apenas pagando pode ter a chance de criar uma amizade. Prova disso é a sua necessidade crônica de ser simpática o tempo inteiro e puxar papo com todos os vendedores que surgem diante sua jornada para acabar com o dinheiro de Sandy.
Mesmo sendo eficiente na maneira de retratar a sua personagem principal, Uma Ladra Sem Limites possui diversos erros no roteiro e até de continuidade, como a cena em que a dupla invade um prédio na metade final da obra. É possível perceber um grupo de três pessoas se reunindo no fundo da tela. Após um corte, um dos três desaparece e no corte seguinte lá está ele novamente. Um exemplo de desleixo que passa batido, mas contribui para reforçar as críticas negativas. Tudo bem que a intenção é ser non-sense, mas vamos lá, né?
No final das contas, Uma Ladra Sem Limites deverá arrancar boas gargalhadas do público comum que não se preocupa em analisar profundamente as obras e dissecar seus defeitos como se o filme fosse capaz de mudar a vida de alguém. Não é o caso, definitivamente. É apenas mais uma comédia engraçadinha e sem grandes ambições. O máximo que vai acontecer é você se divertir, gastar dinheiro com a pipoca e voltar para casa para dormir. Ou sei lá. Vai que o strip do Big Chuck (desde já um sério candidato na lista de melhores cenas de nudez de 2013) serviu para despertar suas energias para aproveitar a noite de outra maneira… Tem louco para tudo. No entanto, vale a recomendação de Um Parto de Viagem para os interessados em um outro filme tão ou mais divertido.
Ps: para quem viu Compramos Um Zoológico, de Cameron Crowe, e ficou encantado com a pequena Maggie Elizabeth Jones (ou Maysa ruiva), saiba que ela interpreta uma das filhas de Jason Bateman.
Nota:[tres]