Infelizmente a sina da expectativa frustrada atacou novamente. Tudo conspirava para que Peter Jackson surpreendesse a todos com sua adaptação do livro de Alice Sebold, já que o tema de espiritismo já havia sido abordado em Espiritos. Mas o premiado diretor da trilogia Senhor dos Anéis escorregou feio e acabou deixando de captar o principal da história de Susie Salmon, que era a forma como ela demonstraria seus medos e sofrimentos.
Sou um fã desse gênero de filmes, ainda mais por ser espirita de criação. Existem vários exemplos de boas histórias de amor/drama que tratam dessa religião no cinema. Do clássico Ghost até romances mela cueca como Cidade dos Anjos e dramas lindos como Amor Além da Vida, que aliás é evocado durante diversas cenas de Um Olhar do Paraíso. O meu amado mestre Pablo Villaça chegou a falar que parecia que Peter Jackson estava usando sobras do filme de Vincent Ward, tamanha a semelhança entre as visões do paraíso dos dois diretores. A diferença é que o paraíso da menina Salmon não é tão bem explorado e por mais interessante que seja a representação de elementos da sua vida terrestre naquele outro plano, em nenhum momento chega a convencer como em Amor Além da Vida.
Podemos dizer até que Um Olhar do Paraíso buscou homenagear outros filmes parecidos em suas cenas. Por exemplo na cena em que Susie foge do assassino (brilhantemente interpretado por Stanley Tucci) é impossível não se lembrar de Patrick Swayze em Ghost. O trauma causado na personagem foi tão grande, que ela pensou que ainda estava viva e conseguido escapar do assassino, quando na verdade já estava morta. Tucci consegue levar o filme nas costas ao criar um serial killer com várias características complexas e curiosas. O senhor Harvey poderia ser o vizinho de qualquer um de nós. Sempre a espreita e sem levantar nenhuma suspeita. Um matador frio e quase perfeito, não fosse a lei do karma e suas intervenções divinas. O trailer bem vende a ideia de que Susie passa a atormentar a vida do assassino, não é bem isso que acontece. Ela praticamente só assiste o sofrimento de sua família e a suspeita crescente da irmã e do pai em cima do vizinho acima de qualquer suspeita.
Além de belas imagens e uma atuação de tirar o folego do ator Stanley Tucci, a adaptação ainda tem a trilha sonora de ponto positivo. A união de imagens e sons acaba sendo impactante e comove aqueles que conseguem entrar na história e torcer pelo bem da família Salmon. E o mais interessante é que em momento algum conseguimos torcer pelo assassino. O senhor Harvey causa asco e nos incomoda por sua inteligência. O espectador fica no mesmo lugar que Susie e apenas deseja que o vilão tenha o que mereça. E podemos admitir que Mark Walhberg consegue ser bem mais que um atirador em filmes de ação desmiolados.
Não fosse a ausência do desenvolvimento do drama e uma construção melhor dos personagens (exceto pela atuação de Stanley Tucci, que injustamente irá enfrentar ninguém menos que Christoph Waltz na corrida pelo Oscar 2010 de ator coadjuvante e dificilmente conseguirá o prêmio), provavelmente Um Olhar do Paraíso seria um dos melhores filmes do ano. Peter Jackson errou a mão dessa vez e mesmo assim conseguiu fazer um bom filme, apesar de tudo. Mas muito abaixo das expectativas.
Ficha Técnica:
Um Olhar do Paraíso (Lovely Bones, 2009)
Dirigido: Peter Jackson
Roteiro: Fran Welsh, Philippa Boyens baseado em livro de Alice Sebold
Genêro: Drama
Elenco: Saoirse Ronan, Stanley Tucci
Trailer