A ESTREIA DO ATOR JOSH RADNOR (o Ted da série How I Met Your Mother) como diretor e roteirista não tem muito a acrescentar ao cenário das dramédias indies americanas. Salpicando clichês em três linhas narrativas paralelas, Radnor aposta em fórmulas bastante conhecidas por qualquer cinéfilo: o protagonista Sam (vivido por ele próprio), antes de mais nada, é um aspirante a escritor assombrado por um traiçoeiro rótulo de “voz de uma geração” – exatamente o mesmo perfil que Lena Dunham viria a usar um biênio mais tarde na série Girls e que é constantemente reciclado por autores do gênero. Além disso, Sam se envolve em um romance que, a certa altura, é comprometido por sua ausência em uma ocasião dotada de importância sentimental para seu interesse amoroso, a garçonete Mississippi (Kate Mara, de 10 Anos de Pura Amizade). Para completar, o protagonista desenvolve uma relação inesperada com um órfão abandonado que acolhe no metrô e acaba entrando em parafuso pela falta de ideias de como tornar legal a situação do garoto, garantindo que este não se torne vítima de maltratos ou descaso em um novo lar adotivo.
Enquanto isso, na menos interessante subtrama, Mary Catherine (Zoe Kazan, de Ruby Sparks – A Namorada Perfeita), uma amiga de Sam, entra em conflito com o namorado Charlie (Pablo Schreiber), que anseia mudar para Los Angeles a negócios. Por fim, outra amiga do protagonista, Annie (Malin Akerman, de Rock of Ages: O Filme) – acometida por uma doença séria e autoimune -, embarca em um desavisado e inconsciente processo de autoaceitação enquanto se envolve com um ex-namorado insensível (Peter Scanavino) ou com um colega esquisitão do trabalho (Tony Hale).
Esta última história paralela, em particular, alcança resultados mais interessantes: o Sam #2 vivido com inusitada competência por Tony Hale é um personagem dono de um tipo bastante peculiar de carisma, capaz de conquistar gradualmente o público e despertar a atenção de Annie para os rumos impróprios que sua vida vem tomando. Já a crise na relação de Mary Catherine e Charlie mostra-se extremamente deslocada e desprovida de relevância e pertinência dramática, culminando em uma resolução simplória que fatalmente ressalta a falta de interesse que a vida alheia, comum e real é capaz de despertar.
Mesmo carecendo de frescor e originalidade, a linha narrativa central tem sua parcela de acertos: a amizade entre Sam e o garoto Rasheen (Michael Algieri), por exemplo, abre espaço para um humor comedido e eficaz, como aquele gerado pela preocupação do protagonista com a educação do menino (cada palavrão é acompanhado de um divertido e impulsivo “Não xingue!”) ou a jocosidade do jovem adulto com o próprio envelhecimento (“Podemos parar de correr? Tenho quase 30 anos”). Para completar, o longa de estreia de Josh Radnor abraça como cerne de sua narrativa temas genéricos como a busca incessante pela felicidade ou a importância da gratidão pelas coisas boas ofertadas pela vida. Por Tudo Acontece em Nova York, infelizmente, não sou particularmente grato.
Título original: Happythankyoumoreplease
Direção: Josh Radnor
Roteiro: Josh Radnor
Elenco: Josh Radnor, Malin Akerman, Kate Mara, Michael Algieri, Zoe Kazan, Tony Hale, Pablo Schreiber, Peter Scanavino, Richard Jenkins, Bram Barouh.
Nota:[duasemeia]