Tudo Acontece em Elizabethtown


Tenho que admitir que, depois de assistir ao meu terceiro filme de Cameron Crowe, posso afirmar que ele é um de meus diretores preferidos. É incrível a maneira com que ele conduz o filme, te prendendo tão facilmente que você chega a se ofender com a intimidade. É como se ele soubesse o que dizer nas horas certas.

Cameron Crowe é conhecido pelas incríveis trilhas-sonoras de seus filmes. Em Vanilla Sky você ouve de Radiohead a Sigur Rós, de R.E.M. a Jeff Buckley; em Quase Famosos vai-se de The Who e Led Zeppelin, a David Bowie e The Beach Boys. Não poderia ser diferente com Elizabethtown. Ao som de Elton John, tento transcrever o que senti ao vê-lo.

Drew (Orlando Bloom) deixa claro no começo do filme que há uma grande diferença entre ser fracassado e ser um fiasco. A vida inteira fundada num sonho que de repente se torna um pesadelo. Qualquer um pensaria em suicídio. O personagem não fala, mas está diante de um questionamento pessoal: quando damos tudo de nós em algo que dá errado, começamos a querer entender e principalmente achar um culpado – mesmo que seja você mesmo. Drew chega a ser cômico em sua tentativa de dar um fim a tudo, até que a morte de seu pai adia seus planos. Assim, ele é obrigado a ir para Elizabethtown, cidade natal de sua família paterna. Na ida, ele conhece Claire (Kirsten Dunst).

Em Elizabethtown realmente tudo acontece. Drew se conecta aos familiares, e percebe que a vida dá suas reviravoltas às vezes. Não dá para ter tudo o que quer. Ao chegar à cidade com o simples intuito de buscar o corpo do pai, ele não poderia prever o quanto aquilo estava impregnado do pai, e o quanto aquelas pessoas o amavam. Sem querer, Drew vai resgatando as memórias de sua família, enquanto tenta resolver sua vida em Oregon, que, depois de seu fiasco, ficou estagnada no caos. Então entra Claire na jogada, com sua espontaneidade – que me lembrou demais Kate Winslet em Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças -, e seu jeito carismático de viver a vida. A maneira como ela os rotula, os “substitutos”, me fez pensar que podemos, nesse exato momento, estarmos vivendo como substitutos. Você tem a ela, eu tenho a ele – mas será que isso é o que desejamos? A facilidade com que o relacionamento dos dois flui, primeiro ao telefone, em intermináveis conversas, depois em olhares, até o primeiro beijo… O que, então, os impede de ficarem juntos?

Muitas pessoas já me falaram que esse é o tipo de história nonsense impossível. Mas e daí? Não importa se digam que os roteiros de Crowe são de histórias que nunca aconteceriam. Quem disse que fala-se de amores? Quem disse que fala-se de romances? Estamos diante de sentimentos, e não se pode inventar um sentimento. É o que o diretor consegue fazer de melhor: traduzir aquelas sensações que não conseguimos exprimir: a omissão de uma grande tristeza ou a incapacidade de chorar por alguém, um olhar de reconhecimento, o frio na barriga quando se está prester a encontrar alguém que lhe é realmente querido, ou a alegria verdadeira quando Drew e Claire se acham na multidão. E isso diferencia um diretor de romances baratos de um grande diretor que traduz vidas.

Vale comentar a belíssima atuação da incrível Susan Sarandon, que como sempre rouba a cena, de Alec Baldwin como “o carrasco”, e Jessica Biel em seu ínfimo papel. Nota máxima para Tudo Acontece em Elizabethtown.

Trailer: