Transformers: O Lado Oculto da Lua


PELO TÍTULO DO TERCEIRO FILME DA FRANQUIA, os mais desavisados podem imaginar que trata-se de alguma homenagem do gênio vanguardista chamado Michael Bay. Suas ideias são tão avançadas que o público atual é incapaz de compreender suas técnicas e estilo de filmagem, o que acaba rendendo críticas e mais críticas em cima desse artista incompreendido. Talvez algum usuário de LSD possa apreciar melhor a referência e quem sabe, se deliciar com a fantástica história de Transformers: O Lado Oculto da Lua. Quem sabe até ouvindo o Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, ao mesmo tempo.

Fui devidamente avisado de que perderia meu tempo assistindo ao filme. Chegaram até a brincar que se eu tivesse assistido aos dois filmes anteriores, poderia apenas reunir o melhor dos dois textos e teria a crítica do terceiro filme, só precisaria lembrar de excluir a Megan Fox. Transformers 3 já começa todo errado. Como assim eles acham que podem despedir aquela garota (dane-se o fato dela não ser uma atriz lá muito talentosa) e contratar uma loira sem graça para assumir a lacuna? Claro que a apresentação de Rosie Huntington-Whiteley é até interessante, mas eu sou uma pessoa fiel e no meu coração Transformers sem a Garota Infernal não rola.

O filme mostra aquilo que já estamos bem acostumados. Robôs atacam robôs que querem proteger a Terra. Robôs se defendem, viram sucatas, tem um Bumblebee amarelo, tem o romance adolescente (aliás, muito foi falado sobre a situação do personagem de Shia LaBeouf, que depois de salvar o planeta por duas vezes, está desempregado, sem dinheiro e com um babaca dando em cima da namorada mais-ou-menos-gostosa. Ele é o eterno loser, é a piada pronta do roteiro. Claro que o personagem poderia ser um pouco mais maduro depois de tudo que já viveu, mas cortar o elemento auto-sabotagem seria piorar a situação do filme, que já começou com o pé esquerdo com a demissão de Fox), tem efeitos especiais o tempo inteiro, tem barulho o tempo inteiro, e claro, as famosas tentativas de Bay tentar se provar como um diretor sério.

Bay filma de baixo para cima repetidas vezes. Isso resulta em tomadas feias, que ficam apenas na vontade de serem inovadoras ou diferentes. Se ninguém costuma usar esse tipo de ângulo em seus filmes, o motivo é que fica MUITO ruim e feio. Não é que nenhum diretor tinha pensado nisso antes. Além disso, parte das cenas são como remakes dos filmes anteriores do diretor. A impressão que fica é que Bay resolveu prestar uma auto-homenagem para todo o seu legado sem o menor pudor, inclusive chegando a usar uma cena que realmente estava em um de seus filmes. Durante uma sequência de perseguição de carros/autobots, o diretor teve a cara de pau de aproveitar uma cena de A Ilha, aquele filme estrelado por Ewan McGregor e Scarlett Johansson. Brincadeira, né?

A introdução é como um jogo de vídeo-game. Em 3D pode ter sido uma experiência interessante, pois foi um dos melhores momentos da produção. Digam o que quiserem, mas pelo menos o cara sabe explodir coisas e mostrar como é que pode explorar os recursos do fantástico mundo das sucatas que viram carros e viviam num planeta em guerra. Essa referência ao caos vivido entre as duas raças de sucatas, opa, robôs é uma clara alusão ao desejo utópico de Bay em colocar os Estados Unidos como o melhor país do mundo, o que fica explícito em todos seus filmes. As cenas em que os autobots são usados para garantir a paz entre os humanos é, no mínimo, ridícula e imatura.

A conspiração envolvendo os planos norte-americanos de viajar até a lua é interessante. Até hoje existem grupos de pessoas que afirmam que a viagem foi uma mentira inventada pelo governo para desviar a atenção da população, numa época em que existia o medo constante dos Estados Unidos e Rússia iniciarem um violento confronto. Inclusive, apontavam que Stanley Kubrick foi o responsável por dirigir e montar tudo aquilo que foi transmitido para a televisão em 1969. “Um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade” é bem digno de um roteiro de cinema, convenhamos.

Até mesmo a cena brega das pessoas comemorando o lançamento da espaçonave poderia ter passado sem incomodar, mesmo sendo parecida com uma sequência de Armageddon, produção dirigida por Bay em 1998. O problema começa a partir da apresentação da substituta de Megan Fox (ninguém pode substituir a Megan Fox, cara) e dos dois robôs “refugiados políticos” que moram com o personagem de LaBeouf. A necessidade de vender mais brinquedos força o roteiro a incluir miniaturas chatas dos robôs. Após Star Wars, o cinema percebeu o potencial para explorar outras áreas e hoje é impossível fugir desse negócio, mas é sempre difícil engolir certas coisas que tentam ser empurradas de qualquer forma.

Transformers tem em comum com a franquia Crepúsculo (outra coisa linda de Deus, diga-se de passagem) o gosto por bandas de rock na trilha sonora. Mas parece que Bay se empolgou um pouquinho no revival com a época em que dirigia clipes (“Falling in Love”, do Aerosmith, é um exemplo de que o diretor não é um completo imbecil – pelo menos não o tempo inteiro) e comandou enormes cenas que estavam mais para a programação da MTV do que para o cinema. Alguém explicaria melhor as sequências de Sam (LaBeouf) pelo seu escritório? Diga-se de passagem, o próprio Aerosmith surge na trilha sonora com “Sweet Emotion”, que sem dúvidas, gera o melhor momento das duas horas e meia de sofrimento.

Enfim, assim como foi dito pela grande maioria dos críticos especializados, Transformers: O Lado Oculto da Lua corre o sério risco de ser o pior filme de 2011. Com duas horas e meia de duração, que são piores que qualquer sessão de tortura ouvindo aos discos gravados pelos cantores do karaoke do centro da cidade, Michael Bay abusa da paciência do público e tenta sem sucesso se defender dizendo que “não faz filmes para os críticos”. Com certeza absoluta, o diretor não faz filmes para pessoas que costumam pensar um pouco, que gostam de ter o esforço de refletir. Ainda que conquiste mais fãs (prova disso foi a bilheteria assustadora que o longa conseguiu arrecadar), a fórmula está tão esgotada que o terceiro filme é quase idêntico aos dois anteriores.

Lembro que enrolei durante meses para assistir ao filme e escrever a crítica (amo os leitores do Cinema de Buteco, mas eu já assisti Soldado Universal 3 e escrevi. Já fiz muitos sacrifícios para ter que lidar com um de mais de duas horas e ainda gastar um tempo considerável escrevendo), pensava que não podia ser tão ruim quanto o Renato Silveira,meu editor no Cinema em Cena, comentava. Mas infelizmente ele é tão ruim quanto. E dessa vez não tem nem aquela delícia da Megan Fox para fazer o sofrimento valer a pena.

Verdade seja dita: sendo um bom diretor ou não, Bay merece o reconhecimento por ter criado o vídeo-clipe mais longo de toda a história. Transformers: O Lado Oculto da Lua não passa disso. Com todas as suas cenas descartáveis (Deus, como é que alguém pode achar que existe história para um filme tão longo?), montagem contra-epilépticos e pancadaria sem sentido, Transformers não faria feio se virasse um clipe do Linkin Park.

Acredite, isto é uma cena do filme.

Título original: Transformers: The Dark of the Moon
Direção: Michael Bay
Roteiro: Ehren Kruger
Elenco:  Rosie Huntington-Whiteley ,  Shia LaBeouf
Nota: