Puxa, quando o dia dos namorados se aproximava, recebi o convite de um amigo para listar meu Top 5 de filmes românticos. Dediquei-me, por alguns minutos, a buscar na memória películas que tenham feito balançar esse coração outrora meloso, hoje mais pétreo. Que filmes, afinal, despertaram meu lado Love Story nas priscas eras em que eu ainda acreditava que, para me bastar, precisaria me abastar de uma anja qualquer?
Não foi tão difícil quanto imaginei. Foi, sim, ligeiramente perturbador. Na autoanálise fast food a que me propus, descobri, um tanto bolado, que sempre fui fã de losers. Basta dizer que, dos cinco tops, dois são com o loser mor do cinema americano, Jack Lemmon, um dos caras – dizer isso doi, mas percebi agora – com quem mais me identifico em Hollywood.
LEIA TAMBÉM: Os melhores filmes românticos de 2016
Se há lá, na terra dos astros, como em qualquer lugar, provas inequívocas da existência dos tais seis graus de separação – a teoria de que qualquer pessoa está a seis outras pessoas de outra pessoa –, eu diria que eu e Lemmon, se vivo ele fosse, estaríamos a apenas dois apertos de mão de nos encontrarmos para chorar as pitangas.
Mas vamos à lista (poderia ter sido Top 50, mas paciência):
1)The Apartament (aka Se Meu Apartamento Falasse; 1960; dir. de Billy Wilder, com Jack Lemmon e Shirley MacLaine): Lemmon trabalha numa grande seguradora, onde a única coisa que o faz notório é o apartamento de solteiro em que vive – uma garçoniere, ou um matadouro, para os mais jovens, cuja chave ele gentilmente cede aos colegas de trabalho, em um complicado rodízio, para que levem para lá seus affairs. Um belo dia, quem pede a chave é o chefão da companhia (Fred MacMurray). Lemmon, que temia ser demitido por socializar seu apê daquela maneira, empresta. O problema é que a amante do bem casado MacMurray é Shirley MacLaine, a ascensorista da megaempresa, pela qual ele, o loser, é apaixonado. A saia justa, os ciúmes e os desdobramentos são de rir muito e de cortar o coração de quem ri. Filmaço.
2)Jeremy (aka O Primeiro Amor; 1973; dir. Arthur Barron, com Robby Benson e Glynnis O’Connor): Filme de Sessão da Tarde nos anos 70/80, mas que muito me impressionou e moldou, durante bons anos, minha busca pela tal anja. O hoje desaparecido Robby Benson é um esquisitão tocador de cello que se muda para uma nova escola, em NY, e se apaixona pela Glynnis O’Connor. Só que ele é completamente desajeitado, um nerd sem tecnologia, um loser, apesar de talentosíssimo na música. E ela, linda, doce, mas cheia de problemas existenciais, acaba cedendo aos não-encantos do nerd por causa da “sensibilidade” dele. Parece chato, né? E talvez seja. Mas o segredo é a gente se identificar com os personagens. E eu me identifiquei muito, na época. Filmão.
3)Maude and Harold (aka Ensina-me a Viver; 1971; dir. Hal Ashby; com Ruth Gordon e Burt Cort): Não preciso contar a história do pioneiro do movimento dark e da velhinha acelerada por quem ele se apaixona, ao som do grande artista ainda nomeado Cat Stevens. E também não preciso detalhar por que esse filme me toca no fundo da alma que não sei se tenho. Um romance que deve fazer até o Bolsonaro chorar. Filme de cabeceira.
4)The Graduate (aka A Primeira Noite de um Homem; dir. Mike Nichols; com Dustin Hoffman, Anne Bancroft e Katharine Ross): Não, o que me atrai mais nesse filme não é a crise existencial do recém-formado Hoffman, aparentemente um vencedor, mas, na verdade, um retumbante loser, e tampouco o romance com a coroaça casada, amiga de seus pais. São situações bacanas, inspiradoras, ok. Mas o que me pira mesmo nesse filme, além da trilha de Simon e Garfunkel, é a anja que Hoffman encontra e pela qual se apaixona. Katharine Ross não é somente a mulher mais linda que eu já vi na telona; é tipo um modelo de mulher, esteticamente falando, que busquei a vida toda em todas as meninas que peguei ou namorei. Claro, busquei, mas nunca encontrei. Mas tudo bem: Jesus me ama mais do que eu possa imaginar.
5)April Fools (aka Um Dia em Duas Vidas; 1969; dir. Stuart Rosenberg; com Jack Lemmon e Catherine Deneuve): Aqui, a história é batida, mas faz o coração mais que bater: faz disparar com esses sentimentos românticos que tanto atribulam nossa existência até a gente sacar que são atraso de vida. Lemmon não vive bem com a esposa (Sally Kellerman) e se descobre apaixonado pela mulher do chefe (Peter Lawford)… Quem? Quem?… A bela da tarde, claro, Deneuve, a bela de abril, a bela de qualquer tempo! Altamente recomendável para quem pensa mesmo que uma pessoa, uma simples pessoinha que pinte na paisagem, possa balançar seu mundo a ponto de você dizer aquela frase idiota: Venha, vamos largar tudo e fugir daqui!. Deu vontade de rever.
Evaldo Magalhães é jornalista, mestre em Ciência da Informação pela UFMG e professor
universitário.