O Último Exorcismo – Parte 2

o último exorcismo - parte 2

DE VEZ EM QUANDO EXISTEM FILMES QUE NOS OBRIGAM A TRABALHAR NOSSA SINCERIDADE COM OS LEITORES. Quando assisti ao primeiro O Último Exorcismo não tive uma ideia muito positiva daquilo tudo. Fiquei chateado com os rumos da história, já que eu preferia que a trama tivesse seguido outro rumo e ignorasse qualquer intervenção demoníaca de fato. Na revisão, confesso ter mudado de opinião e apreciado a tensão apresentada ao longo da obra. Só não sei se era o suficiente para querer saber desesperadamente o destino da adolescente exorcizada, que é a base da continuação que se passe imediatamente após os eventos do elogiado filme de 2010. Ou seja, você PRECISA ter visto o original para entender O Último Exorcismo – Parte 2.

A ruivinha da sedução Nell (Ashley Bell) sofreu um bocado no exorcismo passado. Muita gente achou que era o último, inclusive os produtores, mas parece que mudaram de ideia e resolveram adicionar um “Parte 2” no título para tentar dar uma disfarçada básica e escapar dos comentários maldosos e previsíveis. De qualquer maneira, agora temos realmente o último, o derradeiro (taí, deveriam ter usado “O Exorcismo Derradeiro” como título) e conclusivo exorcismo da ingênua Nell.

A jovem escapou da fúria dos maníacos religiosos de sua cidade e depois de passar por alguns exames psicológicos para concluir que havia imaginado a loucura toda e que não existia nenhuma besteira de demônios na fogueira ou exorcistas de araque, ela começa a morar em Nova Orleans para criar uma nova vida. É irônico que com tanto lugar para morar, a perseguida do coisa ruim decide ficar justamente na cidade mais mística do mundo. Ganhando até mesmo de São Tomé das Letras-MG e seus gnomos. Claro que ia dar merda e Nell logo descobre que nunca foi maluca de verdade e que existe mesmo um demônio atrás dela. Em todos os sentidos, para falar a verdade. O filme tenta mostrar que até o demônio Aladin, ou Alabama ou qualquer que seja o seu nome, é capaz de se apaixonar. Aquela música “Every Breath You Take”, do The Police, serviria como trilha sonora perfeita do romance mais proibido dos últimos anos.

Após uma breve sequência de imagens do filme anterior para refrescar a memória do espectador (exatamente como se fosse uma série de TV, o que me faz temer pela possibilidade da franquia virar um Jogos Mortais ou Atividade Paranormal da vida), somos presenteados com o melhor momento do filme. Todas as cenas que envolvem o casal aleatório da introdução são brilhantes e capazes de arrepiar a espinha dos espectadores, rendendo até mesmo um bom susto. O cineasta soube construir a cena e com o uso de uma trilha musical eficiente, aproveitou o poder da sugestão. Os personagens sabem que existe alguém na casa, só não sabe onde está o invasor, coisa que o espectador pode ver de maneira privilegiada. Se há alguma coisa para se elogiar em O Último Exorcismo – Parte 2, eis um excelente exemplo.

Como entretenimento de terror, a obra produzida por Eli Roth (O Albergue) enfrenta uma disputa desleal com Mama e A Morte do Demônio, para citar apenas os exemplos mais recentes. O diretor até tenta criar mais oportunidades de sustos, todos tão previsíveis quanto o exemplo acima, mas utilizados de maneira vaga e gratuita. O roteiro pode oferecer certa confusão para aqueles que querem entender o que significou cada atitude dos personagens, como por exemplo o enigmático sorriso da loirinha de cabelo de miojo após uma adolescente ter uma convulsão. Aliás, o que será que rolou com a guria? Morreu? Pelo menos o roteiro não deu mais notícia.

o ultimo exorcismo parte 2

Bell consegue uma atuação ainda melhor do que no filme original, ainda mais por não se tratar mais de um filme com teor documental e que dá a impressão de exigir menos de seus atores. A jovem consegue se transformar em cena e se divide entre um lado angelical e inocente e outro mais provocante e demoníaco. O filme tenta ser sobre esse conflito eterno entre o bem e o mal, porém tropeça em suas próprias pernas e é apenas um horror adolescente. Apesar de Nell ser uma excelente personagem, com detalhes curiosos e que dariam margem para uma abordagem mais interessante, a obra não consegue levar o espectador junto. Até dá para perceber Nell evoluindo como mulher, se apaixonando, sentindo o calorzinho que a autora de Cinquenta Tons de Cinza tentou espalhar para o mundo, só que desde o começo fica claro que o lado negro é mais forte e será o vencedor pela alma/corpo de Nell. A bondade é representada com uma luz de vela fraquinha, fraquinha. Já o Luisiana Devil está em todos os lugares, corrompendo até ambientes sagrados como Igrejas. E é muito curioso que Nell trabalhe justamente num Motel, que para os estudiosos do espiritismo (e especialmente outras religiões) é um verdadeiro antro de perversidades. Literalmente.

É lamentável que a excelente premissa seja arruinada por esforços medíocres para ser apenas mais um lançamento do final de semana para levar adolescentes para os cinemas e faturar um dinheiro fácil. Nas mãos de um cineasta mais maduro, e que quisesse assustar seu público sem ter vergonha de fazer citações ainda mais escancaradas a Carrie, A Estranha, de Brian de Palma, a ideia apocalíptica de O Último Exorcismo – Parte 2 poderia se tornar um clássico instantâneo do gênero. Ao invés disso somos presenteados com toda aquela sequência final de extremo bom gosto. Só que ao contrário. Mas poderia ser pior, sempre pode.

 

poster o último exorcismo - parte 2
Nota:[tres]