O Grito: Uma Releitura do Terror Japonês para o Público Ocidental

 

O filme O Grito está completando 20 anos em 2024, apesar de ter sido lançado em 2005 em terras brasileiras. Então é justo uma pequena resenha desse remake que agrada alguns e desagrada outros.

Com a colaboração de Sam Raimi e Robert Taport na produção, o remake trouxe os elementos estéticos da versão original japonesa, alguns traços foram readaptados e desenvolvidos com mais recursos. Com isso, o filme não peca enquanto linguagem: a direção de fotografia é eficaz, assim como os cenários e direção de arte, que foram assinados por Kyôko Yauchi e Tatsuo Ozeki.

Dirigido por Takashi Shimizu, que também dirigiu o original, o filme é uma mistura intrigante das sensibilidades do cinema de terror japonês com a abordagem hollywoodiana, resultando em uma experiência que conseguiu atrair tanto os fãs do gênero quanto um público mais amplo.

A trama do filme gira em torno de uma maldição que se origina de uma casa em Tóquio, onde ocorreram assassinatos violentos. A maldição, simbolizada por uma presença espectral vingativa, ataca qualquer pessoa que entre na casa, condenando-os a uma morte horrível. A história é narrada de forma não linear, com diferentes personagens e linhas do tempo se entrelaçando para revelar os segredos sombrios da casa amaldiçoada.

Uma das diferenças mais marcantes entre as duas versões está na abordagem cultural e na ambientação. Enquanto Ju-on se apoia fortemente nas tradições e superstições japonesas, O Grito foi adaptado para tornar a história mais acessível ao público ocidental, embora mantendo o cenário japonês.

A personagem principal é Karen Davis (interpretada por Sarah Michelle Gellar), que é uma estudante americana que vive no Japão. Essa mudança facilita a identificação do público ocidental, servindo como um ponto de entrada para a cultura japonesa e as peculiaridades do filme.

Embora ambas as versões usem uma estrutura não linear, a adaptação de 2004 simplifica a narrativa para torná-la menos confusa para o público internacional. A versão japonesa é conhecida por sua complexidade, com múltiplas subtramas e uma cronologia intrincada que exige atenção ao detalhe.

Esse remake aumentou o uso de efeitos visuais e sonoros para intensificar o terror. Hollywood tem um histórico de utilizar técnicas avançadas de som e CGI para criar uma atmosfera mais visceral e imediata, enquanto o original japonês depende mais de uma construção gradual de tensão e uso criativo da câmera para evocar medo.

Ju-on explora mais profundamente a cultura japonesa, suas tradições e mitologias, enquanto O Grito se esforça para explicar esses elementos ao público ocidental. Isso resulta em uma ligeira alteração na maneira como os elementos sobrenaturais são apresentados e percebidos.

O filme teve um impacto significativo ao popularizar o horror japonês fora do Japão. Ele abriu portas para uma maior apreciação de filmes de terror asiáticos e inspirou outras adaptações e remakes, como “The Ring” (2002), outro sucesso baseado em um filme japonês.

A escolha de manter Takashi Shimizu como diretor foi crucial para preservar a autenticidade e a atmosfera do original. Sua habilidade em criar um ambiente assustador e em manter a essência do terror psicológico japonês garantiu que O Grito não fosse apenas um remake, mas uma extensão respeitosa da obra original.

O Grito de 2004 é um exemplo de como o cinema de terror pode transcender barreiras culturais e ser reinterpretado para novos públicos. As diferenças entre esta adaptação e o Ju-on original refletem não apenas as distinções culturais entre o Oriente e o Ocidente, mas também as variações nas expectativas e gostos dos espectadores. O filme continua sendo um marco no gênero de terror, destacando a capacidade das histórias de medo de se adaptarem e evoluírem sem perder sua essência aterrorizante.