O Cinema de Buteco adverte: a review de Ninguém vai te Salvar possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
A MISTURA DAS DIFERENÇAS PODE DAR MUITO CERTO ou muito errado. Felizmente para quem adora os sub-gêneros “filmes de invasão doméstica” e “alienígenas”, Ninguém vai te Salvar é um acerto e tanto no liquidificador de ideias do cineasta Brian Duffield, cujo crédito mais popular no IMDb é o roteiro do divertido Amor e Monstros, de 2020.
A trama apresenta a história de Brynn (Kaitlyn Dever), uma jovem que vive sozinha e isolada em uma casa. Em uma noite, seu sono tranquilo é incomodado por estranhos barulhos que sugerem algo estranho. Brynn descobre a porta da sua casa escancarada e ouve os passos de alguém andando pela sala. Só que não eram passos humanos…
É importante observar que a personagem vive isolada tanto em um contexto físico quando emocional. A sua casa é afastada da cidade, sem vizinhos próximos. E ela mesma não possui relacionamentos com outras pessoas, já que um acidente trágico no passado a transformou em persona non grata. Esse ponto da solidão é reforçado com a ausência de diálogos ao longo do filme.
Com referências diretas de obras sci-fi, como Sinais, de M.Night Shyamalan; e Os Invasores de Corpos, de Philip Kaufman; Ninguém vai te Salvar também faz a gente lembrar de produções sobre invasões de casa, como o recente Hush, de Mike Flanagan.
Porém, aqui precisamos fazer uma observação: Duffield praticamente divide seu filme em duas partes. Uma delas focada no suspense de ter a casa invadida e precisar se proteger. Já a segunda é sobre as consequências de entender o que está acontecendo. Ou parece, pelo menos.
Ambas “partes” são muito bem construídas com a tensão crescendo aos poucos, mas o nível cai um pouquinho a partir do momento em que a narrativa dedica a sua atenção para os ETS. Pessoalmente, prefiro a primeira parte. Após tantos anos lendo sobre histórias de invasões domiciliares, é empolgante ganhar uma nova (e inesperada) perspectiva.
A relação com os marcianos (ou seja lá o planeta de onde vieram) cria mais camadas de subjetividade e aprofunda o drama da protagonista. É como se essa invasão, assim como a maioria de outros filmes do tema, não fosse de todo ruim. Os ETS, na verdade, são como grandes terapeutas de outra dimensão. Ao invés de entregarem drogas para manipular seus hormônios, eles apelam logo para a lavagem cerebral e criam uma realidade imaginária em que tudo é colorido.
Inclusive, mesmo com toda a luta da nossa protagonista, vivida pela estrela da comédia Fora de Série, de Olivia Wilde, podemos chegar e questionar. Será que Ninguém vai te Salvar faz um final parecido com a adaptação de Ilha do Medo, de Martin Scorsese? Podemos mesmo afirmar que Brynn escapou da terapia em massa dos ETS? Acredito que não. Afinal, para ela, seria muito mais confortável conviver com aliens do que com os humanos, os verdadeiros vilões da sua vida.
Ninguém vai te Salvar está disponível no StarPlus. E dificilmente escapa de entrar na nossa lista de filmes de terror de 2023.