O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica de Jogos Mortais X possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
EXISTEM OBRAS QUE FAZEM SUCESSO PORQUE ALIMENTAM NOSSOS DESEJOS SOMBRIOS POR VIOLÊNCIA. Algumas fazem isso com competência, enquanto outras deixam a desejar e tropeçam no risco de serem apenas gratuitas ou desnecessárias. A franquia Jogos Mortais me faz pensar no nosso sadismo e na necessidade de ver violência como forma de entretenimento. Às vezes funciona, outras vezes nem tanto.
No entanto, Jogos Mortais X (Saw X, Kevin Greutert, 2023) se revela como um surpreendente acerto dentro de uma franquia cansativa e superestimada. Não me entenda mal. Ainda vejo valor na proposta de James Wan para o original, mas na medida em que o tempo passa, o filme parece enfraquecer e deixa de sustentar as surpresas mirabolantes do roteiro. Fica parecendo quase como um episódio de Prison Break. É tudo forçado, sacado, sem noção, mas a gente assiste mesmo assim porque tá a fim de ver os prisioneiros fugindo. Ou no caso de Jogos Mortais, queremos ver as mortes.
Durante seus 30 minutos iniciais, o filme apresenta uma faceta inédita de John Kramer (Tobin Bell). De consultas médicas até grupos de apoio, Kramer tenta lutar contra seu câncer terminal. Ele descobre uma terapia alternativa e decide depositar todas as suas fichas nela. Só para você ter uma ideia, existem cenas de Kramer observando o pôr-do-sol, como se fosse um fucking filme de autoajuda. Os coachs piram. Essa ousadia na introdução chama a atenção positivamente, assim como aconteceu na introdução de Espiral (Spiral: From the Book of Saw, Darren Lynn Bousman, 2021). Fugir do lugar comum é um alívio para dar conta de encarar essa franquia.
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A partir do momento em que John Kramer descobre que foi vítima de um golpe, voltamos para aquele velho universo que estamos acostumados. São cenas de mortes com equipamentos de tortura enferrujados, sangue jorrando por todos os lados, membros buscando independência do corpo, enfim. Tudo que você gosta está lá, inclusive o roteiro pretensioso. Não faz muito sentido pensar como Kramer conseguiu transformar aquela casa abandonada em um ambiente de tortura, mas esse detalhe é irrelevante dentro do que se espera de Jogos Mortais.
Gosto como o décimo filme se desenha como uma eficiente narrativa de vingança e força o espectador a concordar/torcer por Kramer. Pelo menos desta vez, ele está fazendo um serviço social e eliminando falsos médicos que oferecem curas milagrosas para pessoas desesperadas. Seria um sonho imaginar uma versão de Jogos Mortais para bater um papo com todos os gurus de marketing digital que tiram todo o dinheiro de quem acredita na propaganda? Eu assistiria a esse filme, com certeza.
Jogos Mortais X é uma boa opção para quem está atrás de bons filmes de terror de 2023, mas não se destaca o suficiente para merecer uma indicação na lista dos melhores filmes do gênero neste ano. No entanto, é bom o suficiente para não ser apenas mais um produto pensado apenas para sugar o pouco que resta de interesse da audiência em cima da franquia. Se fosse o último longa da série, seria uma bela despedida. Mas conhecemos bem Hollywood, não é mesmo? Nunca é uma despedida. É sempre um “até logo…”.