Unfriended é um terror que aposta num recurso diferente para desenvolver a sua narrativa e acerta em tentar nos incomodar e prender nossa atenção.
TECNOLOGIA É UMA BITCH! Que atire a primeira pedra quem nunca encontrou dificuldades para dominar smartphones ou até mesmo algumas mídias digitais, como Facebook, Twitter e Skype. Até ficarmos familiarizados, é comum levar um pau e passar por momentos embaraçosos. Digo tudo isso porque (apesar de ser um profissional em Social Media), costumo levar uma surra quando arrumo um aplicativo novo (esses de sexo, por exemplo. Meses atrás descobri o tal do Grindr e percebi que aquele não era o meu público-alvo) ou um celular ou computador. Nas minhas primeiras experiências com o ICQ, recebi um arquivo contaminado que fazia a tela do meu computador ligar-desligar, assim como o drive de CD. Para um jovem inexperiente, aquilo foi um pesadelo. Fiquei com o cu na mão achando que a meu computador estava possuído.
Unfriended não possui personagens que compartilham da minha falta de intimidade com novas tecnologias, mas trabalha com a impotência de se ver diante um inimigo que você não sabe onde está ou quem é. Compartilhei a minha experiência com tecnologia para tentar mostrar como é que me sentiria, caso estivesse numa conversa por Skype e de repente uma pessoa que já morreu começasse a enviar mensagens me culpando por sua morte. Essa é a premissa básica do longa: esses jovens adolescentes fizeram cyber bullying com uma garota que acabou se matando. Um ano depois, durante uma reunião no Skype, eles passam a ser perseguidos por alguém usando a conta da falecida. Poderia ser um mero trote, mas mortes começam a acontecer…
A principal atração do longa-metragem está na forma como ele é apresentado. Primeiramente se trata de uma obra inteiramente filmada em um único take e isso nos faz pensar que tudo acontece em tempo real. Não sei você, mas eu sou fã de obras que conseguem fazer isso com competência. Depois temos a narrativa inteira se passando através do monitor do laptop da protagonista. Podemos acompanhar seu chat com o namorado, respondendo mensagens no Facebook, curtindo músicas no Spotify etc. Para um espectador mais acostumado com narrativas convencionais, Unfriended poderá representar 1h23 de pura tortura. Apenas a narrativa curiosa não sustentaria a graça da produção, que felizmente consegue nos cativar e fazer esquecer a existência do WhatsApp e/ou os nudes do Snapchat.
(Por narrativa quero falar sobre a maneira como a história é contada. Ou seja, a Unfriended inteiro é apresentado através do monitor da personagem principal. Narrativa é diferente do roteiro em si, que é no caso é apenas sobre esse grupo de jovens sendo atormentados e assassinados durante um chat de Skype)
Ainda que tenha acertos, Unfriended acaba esbarrando na própria proposta quando “abafa” o som da conversa de Skype para que o espectador possa se concentrar apenas na troca de mensagens de texto da protagonista com o seu namorado. Talvez seja uma explicação clara do motivo que os norte-americanos preferem refilmar filmes do que assistir em seu idioma original: são incapazes de dividir sua atenção entre ler e ouvir. Mesmo com esse problema que afeta bem a experiência de imersão proposta, 31 possui mais pontos positivos que negativos, felizmente.
Ano passado assistimos a Perseguição Virtual, que possui um conceito bem semelhante, mas seu único trunfo é a presença da maravilhosa musa Sasha Grey. E além de ser um suspense, que mantém nossa atenção, sua história não consegue ser mais interessante que a maneira que o diretor encontrou para narrar a trama. Unfriended, ao contrário, é simples e objetivo: não apenas acerta na ousada escolha narrativa, mas num roteiro que nos deixa incomodados o suficiente para nos colocar naquela posição. Ou seja, é uma obra de terror boa o suficiente para você passar a noite de sexta-feira com seus amigos ou namorada (o).
https://youtu.be/KyDFwIsNo38